A sociedade suspeita dos que amam. Há certa postura de desprezo, como se
os apaixonados fossem ingênuos e irrelevantes, um tipo de impostores. Com o
passar do tempo, com a evolução das tecnologias, com o avanço das comunicações
e banalização dos sentimentos, as qualidades do amor, como ternura,
compromisso, generosidade, cuidado e confiança, foram relegadas a um patamar
secundário. Como poucos conseguem crescer no amor, prefere-se o desprezo aos
que o conseguem.
Os modernismos minimizam as buscas do amor. Ninguém pode negar que
chegamos a um ponto crítico. Entender que o mundo pode melhorar com o amor,
virou zombaria. Temos que voltar a desenvolver respeito pela vida. Aumenta o
número de fatalistas que acreditam termos atingido algo sem volta. Algo de
óbvio deve ser admitido: os métodos convencionais para promover a paz e o bem-estar
estão superados. Ao observarmos a vida de hoje, encontramos ódio, violência,
preconceito e desprezo pela vida e pelos sentimentos mais nobres.
Os grandes destaques dos noticiários são as estatísticas de mortos,
em guerras convencionais, ou no dia-a-dia de nossas cidades. Defrontamo-nos com
a fome, com a desnutrição, as agressões à natureza, e a formação de riquezas
cada vez mais desproporcionais aos esforços efetuados para dar mínimas
condições de dignidade aos menos privilegiados. Condicionamo-nos à gradativa
destruição do potencial humano, esquecendo que o amor é uma alternativa
possível.
Contudo, o amor só pode funcionar quando abrimos mão de normas que
continuam a nos paralisar. É preciso desafiar os preconceitos, que classificam
o amor como uma tolice romântica, idealista, não intelectual. Precisamos buscar
e aceitar o amor, como uma força universal, algo que unifica e promove o bem,
acessível a todos que, de fato, o desejarem. Se conseguirmos perceber que o
amor tem o poder de afastar mesquinharias que separam as pessoas, que é
possível descobrir, através dele, que todos têm um coração, teremos dado o
primeiro passo para a busca da felicidade e do entendimento.
Amar é viver de forma abrangente. Amar convida a compartilhar
experiências, muito mais do que a impor concepções. Amar é desafiante, e exige
ser maior. Todos buscam algo que dê maior significado às suas existências. É
preciso sair de dentro de nós mesmos, intercalando nossos anseios com os
anseios dos demais. Só assim poderemos nos tornar melhores amantes e seres
humanos mais completos. O amor é fonte de energia, que não diminui com o uso.
Ao contrário, ajuda a gerar mudanças e entusiasma quem dele desfruta.
Muitos são os ricos e os famosos que não viveram o verdadeiro amor.
Terão deixado seu nome em autógrafos e documentos, mas, certamente, viveram
emoções menores do que aqueles que escreveram seus nomes em alguns poucos corações,
mas que guardaram lembranças vívidas e nítidas dos momentos de amor em que
tomaram parte. Estas sim são lembranças que ficam gravadas de forma indelével,
permanecendo ao longo dos tempos.
Romances são exemplos significativos do poder de amar. Porque nos
levam a entender que palavras como desespero e impossível não têm significado
quando se ama. O amor transcende parâmetros sociais e religiosos, com o que,
passar pela vida, sem viver um verdadeiro amor, é abrir mão de uma das
experiências mais desafiadora, mas também mais satisfatória da existência
humana. Nós, humanos, temos uma instintiva necessidade de conviver. E, por
estarmos sempre rodeados de gente que conhecemos casualmente, ou fruto de
convívio fortuito, chamamos a uns de amigos, a outros de amor, quando são
apenas conhecidos.
Ter um amigo, desfrutar de um amor, é diferente. É algo mais
sagrado. Implica no conhecimento, no compromisso de duas pessoas, mesmo que por
um período de tempo, através do convívio com conflitos, alegria, infelicidade e
mudanças. Implica em esforço constante, cuidado e atenção. E, a maioria das
pessoas, ainda que não o aplique, sabe que a melhor forma de ter amigos é sendo
amigo. A melhor forma de encontrar o amor é dando amor. Mas que é necessário
trabalhar com afinco para identificar e fortalecer os elos destas correntes.
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