Só quando compreendemos nosso valor como seres humanos, quando
descobrirmos nosso espaço, quando nos reconhecermos como portadores de potencial
intelectual e afetivo, é que podemos começar a desenvolver o senso de
dignidade. Nem todos transmitem esta mensagem. Dependendo dos problemas e das
dificuldades enfrentadas, nos convencemos de que não possuímos o necessário
para enfrentar a vida. Poucos são os que nos animam a tentar, a arriscar. Raros
nos mostram que somos especiais ou nos abrem perspectivas para que enxerguemos
nossos eus não descobertos.
Precisamos descobrir o que sucedeu com nosso orgulho. Não o orgulho
que diz respeito à arrogância e vaidades. Não o orgulho que serve para
incentivar a auto-importância, mas aquele que ajuda a elevar o auto-respeito,
altas expectativas e valores maiores em relação a nós mesmos, que nos traz uma
consciência adequada de nosso próprio mundo. Orgulho de cuidar de nosso recanto
mais pessoal, de sentir-nos bem com o que possuímos, de buscar e criar alegria
em tudo que nos rodeia, de sorrir para todos, de refletir o que somos.
Porque alguém junta lixo na rua e o deposita em algum local
adequado? Porque alguém planta uma árvore em sua rua, ou quintal? E porque a
cuida, para que cresça viçosa? Porque a poda, caso seus galhos tomem formas
ameaçadoras? E porque aduba o solo em sua volta, se preciso? Quiçá o faça, e é
bem provável que assim seja, porque tem orgulho do lugar em que vive. E, se
quiser que continue belo e respeitado, e admirado pelos outros, continuará a
fazê-lo. Atitudes deste tipo refletem
nos outros.
Mas, o mais importante, é que, quem age assim, o faz por si mesmo.
Tratam-se de gestos que transmitem, nem sempre de forma consciente, o que
desejamos mostrar que somos. Mas o fazemos, principalmente, pensando em nós
mesmos. Não há que se importar em primeira instância se dão ou não importância
àquilo que demonstramos ser. Sabemos que é mais fácil criticar do que
construir, então, sejamos construtores. Este é o primeiro passo para que nos
orgulhemos de nós mesmos.
Poucos entendem que felicidade é algo que exige trabalho e
dedicação. Todos nos queixamos de trabalhar muito, mas é o tédio que gera
apatia e tristezas. A rotina cansa mais que a ocupação, já que esta nos mantém
alerta, nos ajudando a crescer e manter a dignidade. A inatividade deprime, e
gera um tempo cada vez maior e mais cansativo de enfrentar. Nosso interesse
desaparece quando não possuímos motivação para levantar. As horas passam a ser
um pesado fardo a carregar. Não basta ter família, amigos, alguns bens e
dinheiro.
Devemos sentir-nos produtivos. Ter uma atividade recompensa, nos
aproxima de pessoas, nos traz a vida de volta, exige experimentar coisas novas,
e deixa a sensação de recebermos algo em troca. E o homem é um ser que necessita sentir-se
recompensado. Só pensar, planejar e sentir, não resulta em benefício se não
traduzir uma finalidade real de agregar algo. Trabalhar não é um mal
necessário. A vida ganha verdadeiro significado, os prazeres propiciados ganham
sabores distintos, gerando animação e resgatando a dignidade.
Gostamos de prestar tributos a heróis, talvez por nos inspirarem a
agir além de padrões normais. Não lhe ocorre que muitas outras pessoas
mereceriam ser reconhecidas por seus feitos, e que nunca terão homenagens?
Porque não premiar pais que souberam criar seus filhos? Porque não premiar os avôs, que depois de tantos anos dedicados à
criação de seus filhos, dando tudo de si, não se satisfazem em viver à sombra
destes, e dedicam-se a lutar por uma vida e por uma sociedade melhor?
Porque não instituir prêmios aos homens simples, que trabalham para manter limpas nossas cidades, para torná-las seguras, para ensinar nossos filhos, muitas vezes em precárias condições, efetuando trabalhos que pouco são notados, nem sempre contando com a estima dos demais, mas que o fazem com dedicação e sucesso. E os artistas, cantores, músicos, escritores, poetas e tantos outros, que mereceriam louvores pelas alegrias tantas que nos passam com sua criatividade.
Existem políticos, professores, funcionários
públicos e profissionais que não honram suas atividades. Estes quiçá apareçam
mais na televisão e nos jornais, e quiçá obtenham mais fama e dinheiro com sua
forma fraudulenta de agir. Parabenizar a dignidade ajuda a
diminuir a desesperança. Enxergar um futuro melhor exige que se planeje sobre
princípios de dignidade humana. Valorizar quem é digno, e ser um deles, é a
melhor arma para evitar a despersonalização. As qualidades e a reputação têm mais valor que o possível
lucro que propiciamos.
Nossos contatos estão cada vez mais restritos, vez que o mundo
virtual nos interliga e nos prende, gerando certo vício alienante. Passamos a
aceitar a repetição, a apatia e o tédio, criando úlceras e tiques nervosos,
além de gerar novos males, devido à falta de movimentos e à ausência de
convívio verdadeiro. A verdade é que precisamos uns dos outros. No dia-a-dia
não há ainda um substituto para o ser humano. Por maior que seja o número de
circuitos e programas, não se fabricam pessoas, nem sentimentos, nem expressões,
sejam de dor, sejam de prazer.
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