Não tenho dúvidas quanto a estarmos vivendo um tempo em que a vaidade, a aparência, o “acabamento”, o supérfluo, e o artificial, têm sido supervalorizados. Este padrão de postura, predominantemente um privilégio das mulheres, já atinge, inclusive, bom número de homens. Os tempos da brilhantina e do laquê são coisas de um passado longínquo. Nos dias atuais o silicone, o botox, as plásticas, a maquiagem definitiva, os “enchimentos", viraram moda e mania. E passaram, praticamente, a ser uma parte importante de corpo e mente.
Isto me leva a meditar sobre o que seja ser bonito ou bonita. E recordo, embevecido, quando, década de 70, encontrei com Luiza Brunet a fotografar em Olinda, no Hotel 4 Rodas, à ocasião pertencente à extinta Varig. Certamente suas poses sensuais destinavam-se a algum calendário. Estava ela ainda em início de carreira, e tinha uma beleza natural que brilhava. Olhá-la de perto, ver seu rosto bonito, seu sorriso natural, seu corpo irretocável, era cena para gravar na memória.
Assistir aos primeiros capítulos de “Pantanal”, quando Carolina Ferraz surgia em, provavelmente, seu trabalho inicial em novelas, era “fotografar” um rosto muito, muito bonito mesmo, corpo não menos, e uma sensualidade que saltava de si. Principalmente seu rosto, a meu ver, por muito tempo, o mais bonito da TV brasileira, com seus olhos levemente centrados, uma bela vesguice que lhe dava mais charme ainda. E sua voz, assim, um tanto rouca, meio afônica, mas que resultava em um sussurro inebriante.
E porque me refiro às duas? Porque as via, as admirava, encantava-me como todo mortal, mas ficava a imaginar que mulheres seriam. O que traziam como pessoa? De que conteúdo eram feitas? Qual a possível magia que carregavam, ou transmitiam? Como pensariam ou se comportariam estas duas musas? Como seria conviver mais de perto, no dia a dia, com mulheres de aparência tão caprichosamente entalhada? Seriam em sua essência o que deixavam ver ao encontrá-las ou assisti-las?
E me vem à mente que o ideal das mulheres não deveria ser se produzirem tanto quanto o fazem agora. Porque ficam bonitas sim. Mas quem, ou o que, é uma linda mulher? Trabalhoso tramitar por este terreno que pode variar de pessoa para pessoa, já que afeito a conceitos. Mas, tenho minhas referências. E, verdade seja dita, conheço boa quantidade de lindas mulheres. Com algumas convivi, lamentavelmente, por pouco tempo, convívios fugazes. Com outras, tenho a felicidade de conviver até hoje.
Será que já pararam, as bonitas, as produzidas, as siliconadas, as plastificadas, as do sutian meia-taça, as bombadas de academia, para descobrir qual conteúdo possuem? O que reflete seu comportamento? Serão mulheres com quem se consegue conversar por mais que dez minutos? E quais serão os temas que com elas poderemos abordar? Serão pessoas que sonham em crescer, pessoal e profissionalmente? Que lêem um livro, um jornal, algo que lhes dê conteúdo? Serão movidas por algo mais do que apresentar-se como se à frente de um espelho estivessem sempre?
Bem, tentemos falar do que é ser linda e não apenas bonita. Linda é a mulher que possui naturalidade e se aceita da forma que ganhou ao longo da vida. Linda é aquela que amanhece disposta, sorrindo à natureza, e saindo aos afazeres que a esperam com disposição e alegria. Linda é aquela que inspira vitalidade, que cantarola ao pedalar, que deixa em quem a vê passar a impressão de vê-la pela primeira vez. Linda é aquela a quem nossos olhos retratam com encantamento, porque, mesmo sem ser bonita, passa vida e apego a seus sonhos.
Uma linda mulher conversa com entusiasmo, argumenta com firmeza, impõe-se pelo que domina do assunto a que se dedica, e sabe escutar com pureza humilde quando o conhecimento lhe bate à porta. Sorri rasgado, com boca, olhos e corpo. Sim, porque quem sorri de verdade, de forma autêntica, sorri inteiro. Linda é a mulher que passa emoção e envolvimento a tudo que faz. Linda é aquela que, como disse Ivan Lins, solta sua risada mais gostosa, e não tem vergonha de mostrar como se goza.
Linda é a mulher que, passados alguns minutos de conversa, deixa em nós a vontade de podermos continuar a falar e desfrutar de sua companhia. E que, sem nada usar, nos passa o perfume de sua figura de fêmea, de sua sensualidade latente e verdadeira, sem exageros ou comedimento. Linda é aquela que é solidária, desde as pequenas coisas, nos pequenos gestos, a companheira com que podemos contar, seja para o desafio maior, seja para o trivial e simples. Linda é a que não carrega pose, não escolhe a roupa, porque todas lhe caem bem.
Linda é a mulher que se alegra ao ver-se admirada, que se admira também, de forma autêntica, porque feliz com a vida e com sua busca pelos sonhos que a motivam e a levam a movimentar-se. Linda, porque em seus trejeitos fagueiros, de cabelos, rosto, seios, nádegas e pernas, que não são perfeitos, nos registra a imagem do desejo sadio, pelo conjunto que suas partes transformam em uma aquarela a ser admirada. E que, como toda obra de arte, se admira e se olha à distância, tentando gravar-lhe os detalhes para posteriores devaneios.
Linda é aquela que nunca se preocupou em avaliar se nasceu bonita, que não perde tempo com a frivolidade da produção, mas que, naturalmente e sem esforço, surge iluminada ao sair de seu casulo. E é linda porque é a fêmea original, que mostra tesão sem vulgaridade, que atrai por espalhar o pólen que brota de seu sorriso maroto, e vive o amor com simplicidade e sem rodeios, até porque vida, amor e sonhos se confundem nas atitudes de quem descobre que é fácil e simples ser feliz! Então, palmas à linda mulher, que nunca dependeu ou depende de ser bonita ou gostosa. Porque, sem retoques, já é uma Linda Mulher!
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