As pessoas são os únicos seres vivos que acumulam
problemas e têm a notável capacidade de abarcar frustrações, inclusive dos
outros. Temos um gosto especial por dores, como se já não bastassem as nossas.
E a capacidade de amar é influenciada por este quadro. Vivemos em um mundo
cheio de conflitos, sendo inevitável não tomar conhecimento deles. Mas,
enfrentá-los e resolver um problema, não significa que acabaram nossas
dificuldades. Outras virão. O que há de positivo nisto é que crescemos ao
enfrentar, descobrindo nosso potencial e sendo obrigados a reconhecer nossas
fragilidades. Enfrentar problemas práticos, como um defeito no automóvel, uma
linha telefônica ocupada, um trânsito caótico, são comuns e geram nervosismo e
por vezes frustrações. Tentar ler um manual de instruções é frustrante. E,
quando procuramos por algo em uma gaveta. Porque é que sempre é a última coisa
que enxergamos, por mais que esteja ao nosso alcance? Não vivemos todos estas
situações? E, sempre haverá um amigo que vê tudo de uma forma mais simples que
a nossa. Alguém para quem estes problemas parecem não existir.Mas, sem dúvida,
são coisas que fazem parte de nossas vidas, como a morte e os impostos a pagar.
Talvez ocorra que esquecemos, no dia-a-dia que só para a morte não há soluções.
E, assim, em muitas situações em que, à nossa frente, está a saída mais lógica
e tranqüila, alimentamos nossos problemas, conjeturando sobre mil
possibilidades que nos criam problemas. Somos parte de uma sociedade que
cultiva o difícil, que alimenta tristezas, que engrandece o ressentimento. O
mesmo cuidado que temos para guardar coisas inúteis, ocupando nossos espaços,
dispensamos a curtir e acumular frustrações. E, um dia, chegaremos a um ponto
em que surgem as dúvidas, sobre se dominamos nossos problemas, se os
conseguimos descartar de forma prioritária, ou se são eles que nos carregam e
nos abandonam ao sentir-nos pequenos e cansados. Porque é que nos perguntamos
sobre o que fazemos? Porque é que nos questionamos se deveríamos fazer outra
coisa? Porque é que estamos constantemente a nos questionar sobre “se isto
fosse de outra forma”? Afinal, bem sabemos que o “se” é algo que não existe.
Mas é um forte apelo à amargura.
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