Particularmente, criado no sul, um dos muitos filhos de uma família numerosa, passei uma infância de bastante trabalho e dificuldades. Vivíamos em uma casa grande, na qual reinava um piano que minha mãe tocava com maestria, e cheia de livros e ferramentas. Desde muito cedo adquirimos o gosto pela leitura, sem preferências por um padrão. Líamos tudo, da enciclopédia ao romance, do conto infantil ao policial clássico. Já, as ferramentas serviam para tudo. Consertar o que se estragava, fosse madeira, uma bicicleta, um armário, bem como, para ganhar dinheiro às vezes. Junto a meu pai, ainda muito novo, fui aprendendo a lidar com trabalho. Fazíamos reformas em móveis, em casas, em jardins. Trabalhávamos como pintores, como encanadores, como pedreiros. E um dos maiores orgulhos que senti, foi quando meu pai comprou a tinta e me deixou encarregado de pintar nossa própria casa. Estava com treze anos e me senti um homem! Tinha pela frente meu primeiro grande desafio. Mas, posso garantir, me superei com méritos.
Chegar à fase adulta, firmar-me no trabalho, conseguir graduar-me, foram degraus conquistados arduamente. Os casamentos, os filhos e as viagens, pelo Brasil e por parte do mundo, surgiram como etapas interligadas, que fluíram naturalmente, e acabaram por me levar às salas de aula. Ministrando cursos em faculdades e empresas, mas, principalmente, desenvolvendo uma grande capacidade de captar sentimentos e vivências, bem como de transmitir parte do que aprendi e assimilei, tornei-me com o tempo, um grande observador, um ouvinte privilegiado e discreto, um livro aberto, em que – de forma serena e sem medos ou restrições – aqueles que comigo conviveram, foram “registrando” fatos e impressões. Havia desenvolvido esta capacidade em mais de uma dezena de mudanças, conhecendo e residindo na maioria das capitais de nosso país, aprendendo a lidar com povos os mais distintos.
O Brasil é formado de muitos Brasis. E, em cada um deles – principalmente antes da fase da globalização, da televisão com alcance nacional, da internet - se falava, se pensava, e se assumiam comportamentos extremamente diferenciados. Provavelmente, mais que qualquer escola ou faculdade que eu tenha cursado, minha melhor e mais completa universidade tenha sido a vida que vivi, os caminhos que percorri, e o que aprendi com as pessoas, por vezes os mais simples, os menos letrados, os socialmente mais despreparados. Viajar gera uma visão mais aberta da vida, uma facilidade natural para entender, uma mente mais preparada para enfrentar possíveis desavenças. E, acima de tudo, nos faz desenvolver a qualidade de ouvinte, vez que a cada dia estamos nos defrontando com algo novo. É o novo que desafia. É o novo que exige crescermos. É o novo que leva a ponderar antes de opinar. Ao mesmo tempo, é a chance de buscar o novo, a oportunidade de descobrir, que nos leva a correr atrás dos grandes desafios.
Em certa ocasião – destas em que se é pego totalmente de surpresa, sem qualquer prévio aviso, e sem tempo para preparar-se - fui convocado pela faculdade em que lecionava, para substituir um colega professor escalado para ministrar um curso sobre meditação. Fácil imaginar minha reação inicial, vez que minhas matérias padrão eram para os cursos de Administração e Turismo. Era-me totalmente familiar discorrer sobre Gestão e Liderança, sobre Planos de Cargos e Salários, sobre Gerencia de Projetos, sobre Roteiros Turísticos, sobre Hotelaria, sobre Turismo Ecológico, e assim por diante. Mas, sobre meditação, minha experiência nunca ultrapassara a mísera e limitada intenção de – como qualquer leigo - conseguir pensar mais profundamente, mais detidamente, com mais calma, sobre algo que estivesse a me preocupar, ou a merecer uma atenção maior. Resumindo, planejar as coisas de modo a dispor de local minimamente aprazível, preferivelmente silencioso, onde corresse pouco risco de interferências externas, e que me permitisse envolver-me comigo mesmo de uma maneira mais inteira.
Mas, encarei o desafio. E, na hora prevista para a primeira aula, lá estava eu frente a uma turma com mais de trinta pessoas. Baseado no programa que recebera, e usando basicamente minha vivência, tomei coragem e fui desfiando orientações básicas. Porque buscamos meditar? O que nos leva a sentir esta necessidade? Como podemos nos educar, e preparar mente e corpo para atingir um estágio minimamente adequado a pensar de forma mais e(n)levada. Como, frente a problemas que nos atormentam, a situações que nos afligem mais profundamente, conseguir a paz necessária para olharmo-nos, como se estivéssemos “fora de nós mesmos”? Enfim, como conduzir-se com isenção ao avaliar, predominantemente, algo em que somos nós uma das faces da moeda? Sem dúvida, a grande luta a travar, é conseguir ser juiz de si mesmo. E, mais que isso, após “meditar”, decidir ou concluir com justiça, sem benevolência, sem “puxar a sardinha para nosso lado”.
Desta experiência, uma história me ficou gravada para sempre. A de uma jovem, em torno dos vinte e quatro anos, que se julgava traumatizada devido ao fato de receber pouca atenção em casa. A mãe, moderna, vaidosa e envolvida com frivolidades, pouco dialogava com ela. Mal a escutava. Podia-se dizer que – na verdade – não a ouvia, tal o nível de descaso com seus problemas. O pai, executivo de uma grande empresa, vivia o trabalho, e a família era apenas um apêndice. Acreditava que, com seu dinheiro farto, com o que propiciava de bens materiais, cumpria seu papel. Então, ela, a filha, vivia enclausurada em sua “solitária de luxo”, tentando, fora de casa, encontrar um ombro amigo. Ombro que, enquanto durou nosso curso sobre “meditação”, foi estruturado na atenção que lhe passei, na oportunidade de falar livremente sobre seus sonhos, anseios e desencantos, tentando orientá-la, bem como indicando-lhe como descobrir que podia “andar com as próprias pernas”.
De certa forma, a partir destas constatações, estão baseados os propósitos de meu blog. Ouvir as pessoas, ao passar-lhes parte da vivência que fui acumulando, de maneira que, ao lerem o que vou postando, consigam sentir-se escutadas, identificando anseios, encontrando saídas, vislumbrando opções para tomar seu rumo. E, de minha parte, poder ajudar a cada um a que este rumo seja o trajeto mais curto, ou o mais sensato, para atingirem seus sonhos. Sob meus pontos de vista, não podemos viver sem sonhar, não podemos sonhar se não nos amarmos e respeitarmos nossos sentimentos mais autênticos. Pelo que vi, e ainda vejo, temos que saber desenvolver admiração por aquilo que somos, o que leva a adquirirmos confiança e impor respeito. Quiçá sejam estas as principais armas com que contemos para enfrentar o convívio com as pessoas e o mundo. Convívio que poderá ser mais ameno, na proporção em que nos conheçamos melhor a cada dia, e obtenhamos o ponto de equiilíbrio na transmissão de nossa concepção do que seja o viver.
De certa forma, a partir destas constatações, estão baseados os propósitos de meu blog. Ouvir as pessoas, ao passar-lhes parte da vivência que fui acumulando, de maneira que, ao lerem o que vou postando, consigam sentir-se escutadas, identificando anseios, encontrando saídas, vislumbrando opções para tomar seu rumo. E, de minha parte, poder ajudar a cada um a que este rumo seja o trajeto mais curto, ou o mais sensato, para atingirem seus sonhos. Sob meus pontos de vista, não podemos viver sem sonhar, não podemos sonhar se não nos amarmos e respeitarmos nossos sentimentos mais autênticos. Pelo que vi, e ainda vejo, temos que saber desenvolver admiração por aquilo que somos, o que leva a adquirirmos confiança e impor respeito. Quiçá sejam estas as principais armas com que contemos para enfrentar o convívio com as pessoas e o mundo. Convívio que poderá ser mais ameno, na proporção em que nos conheçamos melhor a cada dia, e obtenhamos o ponto de equiilíbrio na transmissão de nossa concepção do que seja o viver.
Olá, senhor Victor. Dezembro do ano passado peguei um uber com o senhor e você me deu um lindo poema, coloquei em minha bolsa e o esqueci. Hoje ao abri-lá vi um papel e lembrei de entrar no seu Blog. Ele é maravilhoso!! Parabéns..que o senhor continue alegrando os seus passageiros. Um beijo Luana
ResponderExcluirDescobri seu blog por meio de um post no twitter.Eu tenho 17 anos e também escrevo.O seus textos me inspiram muito!Desejo-lhe todo sucesso e reconhecimento, pois o senhor merece!
ResponderExcluirBem, poesias que sinceramente me deixaram inspirado para continuar a escrever no caderninho velho. Que continue escrevendo e mostrando, pois são lindas!
ResponderExcluirSucesso senhor Victor!! Continue alegrando a vida dos seus passageiros!
ResponderExcluirOlá,Sr Victor!
ResponderExcluirLindo o poema recebido! Irei ler todos aqui do blog! Obrigada por compartilhar conosco!!!
Thatianna