Não podemos, nem devemos, nos
satisfazer em sermos apenas um número arquivado, catalogados de forma
estatística, descobertos quando atrasamos um pagamento ou não recolhemos um
imposto. Tem de ser mantido um elo mais forte entre as pessoas. As qualidades e
a reputação têm mais valor que o possível lucro que propiciamos. É preciso
tomar cuidados com a cultura que as modernas sociedades enfatizam cada vez
mais, nas quais pouco ou nada valemos pela capacidade de nos relacionarmos uns
com os outros. Ai pode estar a base das dificuldades de assimilarmos a
tecnologia, vez que esta tende a nos isolar cada vez mais.Nossos contatos estão
cada vez mais restritos, vez que o mundo virtual nos interliga e nos prende,
gerando certo vício alienante. Passamos a aceitar a repetição, a apatia e o
tédio, criando úlceras e tiques nervosos, além de gerar novos males, devido à
falta de movimentos e à ausência de convívio verdadeiro. A verdade é que
precisamos uns dos outros. No dia-a-dia não há ainda um substituto para o ser
humano. Por maior que seja o número de circuitos e programas, não se fabricam
pessoas, nem sentimentos, nem expressão, seja de dor, seja de prazer.
É preciso despertar os valores contidos em cada um.
O amor não tem como florescer das máquinas e de novas tecnologias. É um tipo de
sentimento que está relacionado ao próprio descobrimento, às próprias
potencialidades, ao respeito que possamos sentir por nós mesmos, à dignidade
com que nos devotamos em cada passo dado. O trabalho ajudará sempre a construir
nosso futuro, a garantir nossa sobrevivência, mas não esqueçamos nunca que
somos pessoas e com pessoas necessitamos conviver e descobrir o amor.
Poucos entendem que felicidade é algo
que exige trabalho e dedicação. Todos nos queixamos de trabalhar muito, mas é o
tédio que gera apatia e tristezas. A rotina cansa mais que a ocupação, já que
esta nos mantém alerta, nos ajudando a crescer e manter a dignidade. A
inatividade deprime, e gera um tempo cada vez maior e mais cansativo de
enfrentar. Nosso interesse desaparece quando não possuímos motivação para
levantar. As horas passam a ser um pesado fardo a carregar. Não basta ter
família, amigos, alguns bens e dinheiro.Só quando compreendemos nosso valor
como seres humanos, quando descobrirmos nosso espaço, quando nos reconhecermos
como portadores de potencial intelectual e afetivo, é que podemos começar a
desenvolver o senso de dignidade.
Nem todos transmitem esta mensagem.
Dependendo dos problemas e das dificuldades enfrentadas, nos convencemos de que
não possuímos o necessário para enfrentar a vida. Poucos são os que nos animam
a tentar, a arriscar. Raros nos mostram que somos especiais ou nos abrem
perspectivas para que enxerguemos nossos eus não descobertos.Precisamos
descobrir o que sucedeu com nosso orgulho. Não o orgulho que diz respeito a
arrogância e vaidades. Não o orgulho que serve para incentivar a
auto-importância, mas aquele que ajuda a elevar o auto-respeito, altas
expectativas e valores maiores em relação a nós mesmos, que nos traz uma
consciência adequada de nosso próprio mundo. Orgulho de cuidar de nosso recanto
mais pessoal, de sentir-nos bem com o que possuímos, de buscar e criar alegria
em tudo que nos rodeia, de sorrir para todos, de refletir o que somos.
Porque
alguém junta lixo na rua e o deposita em algum local adequado? Porque alguém
planta uma árvore em sua rua, ou quintal? E porque a cuida, para que cresça
viçosa? Porque a poda, caso seus galhos tomem formas ameaçadoras? E porque
aduba o solo em sua volta, se preciso? Quiçá o faça, e é bem provável que assim
seja, porque tem orgulho do lugar em que vive. E, se quiser que continue belo,
respeitado, e admirado pelos outros, continuará a fazê-lo. Atitudes deste tipo
refletem nos outros.Mas, o mais importante, é que, quem age assim, o faz por si
mesmo. Trata-se de gestos que transmitem, nem sempre de forma consciente, o que
desejamos mostrar que somos. Mas o fazemos, principalmente, pensando em nós
mesmos. Não temos que nos preocupar, em primeira instância, se dão ou não
importância àquilo que demonstramos ser. Sabemos que é mais fácil criticar do
que construir, então, sejamos construtores.
Este é o primeiro passo para que
nos orgulhemos de nós mesmos.Devemos sentir-nos produtivos. Ter uma atividade
recompensa, nos aproxima de pessoas, nos traz a vida de volta, exige
experimentar coisas novas, e deixa a sensação de recebermos algo em troca. E o
homem é um ser que necessita sentir-se recompensado. Só pensar, planejar e
sentir, não resulta em benefício se não traduzir uma finalidade real de agregar
algo. Trabalhar não é um mal necessário. A vida ganha verdadeiro significado,
os prazeres propiciados ganham sabores distintos, gerando animação e resgatando
a dignidade.
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