O ano de l954 iniciou tumultuado no
país. Getúlio se debate enfrentando crise após crise. Em maio anuncia um
aumento de cem por cento no salário mínimo, o que fora proposto por João
Goulart, seu Ministro do Trabalho, provocando violentas reações de descontentamento
nas áreas conservadoras. A cada dia fica mais tensa e difícil a situação.
Opositores de todos os partidos e espalhados por todo o Brasil bombardeiam o
Catete com acusações de corrupção e desmandos dos aliados do presidente Vargas.
Carlos Lacerda, dono de uma das mais ousadas oratórias, e promotor dos mais
violentos ataques ao governo, sofre um atentado na Rua Toneleros.
O Major Rubens Vaz, da Aeronáutica, com
Lacerda na ocasião, sofre ferimentos que o levam à morte. Através da Tribuna da
Imprensa, jornal de sua propriedade, Carlos Lacerda, também ferido no atentado,
acusa Getúlio de ser o mandante do crime.
Sem a concordância ou autorização do
Presidente da República, a Aeronáutica assume as investigações do episódio,
interrogando todos os suspeitos de envolvimento. Reúnem-se provas que
incriminam Gregório Fortunato, guarda-costas do Presidente, que é imediatamente
preso no Galeão. As pressões tomam rumo insuportável.
As Forças Armadas iniciam movimentações
para forçar Getúlio a renunciar. O velho líder assume postura de quem está
acima dos acontecimentos. Leva seu dia-a-dia normal no Catete, preocupando
parentes e aliados com sua aparente tranquilidade. Recebe a notícia de que é
iminente sua queda do poder. Os militares estão dispostos a exigir sua saída
através de um golpe caso não apresente imediatamente a renúncia. Após jantar,
recolhe-se a seus aposentos no Palácio, sabendo-se finalmente cercado e sem
saída.
Na manhã de 24 de agosto de l954 o
Brasil acorda com a notícia da morte do Presidente. Getúlio suicidou-se com um
tiro no coração, deixando o poder, a vida e para os que não lhe entenderam a
atitude, uma carta manuscrita horas antes de matar-se. Todos, companheiros,
aliados, inimigos políticos ou pessoais, o povo em geral, são apanhados de
surpresa pelo último ato de um governante, cujo orgulho foi maior que seu
próprio tamanho.
O país assiste manifestações populares
de solidariedade ao líder morto. E seu cortejo na Capital da República, seu
corpo a caminho de São Borja, reúne, além de políticos de expressão nacional,
uma massa humana nunca vista em outra ocasião. O país para, chocado com os
fatos, muito choro, desespero, como se houvesse morrido um pouco de cada um.
Em carta ao pai, Márcio comenta os
fatos dos quais participou de perto, em meio ao povo, no caminho do Catete à
Cinelândia. Não seria necessária. No Rio Grande do Sul os acontecimentos foram
fartamente divulgados por todos os jornais. Acaba de forma trágica uma longa
etapa de nossa história. A pátria chora a morte do ex-ditador que, com o passar
do tempo, ensinou o Brasil a querê-lo bem. Em sua terra, mesmo aqueles que dele
discordaram sentem-se agora meio órfãos, como se um grande vazio tomasse conta
do cenário político nacional. Contraditória foi sua vida e sua maneira de optar
nos momentos de decisão, como são as reações que causa sua despedida da vida.
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