quinta-feira, 4 de julho de 2013

Caleidoscópio (o Amor redescoberto)


-Senhoras e senhores, uma boa noite. Temos o prazer de dar por aberto o baile dos jornalistas. Esperamos que tenham uma noite especialmente agradável, e tudo faremos para que isso seja uma realidade. Os componentes da turma promotora da festa darão início ao baile, entrando acompanhados de seus padrinhos e madrinhas. Após a entrada do último deles, convidamos aos presentes que venham para a pista, ao som de nosso conjunto. Que todos aproveitem este baile!

A música foi retomada e, pelo caminho acarpetado, entravam os pares, começando a dançar e a encher a pista pouco a pouco. Certamente estavam chegando obedecendo à ordem alfabética dos nomes, pois já uns vinte pares dançavam e Marcelo não havia entrado. O filho, pensou, viria acompanhado de Tatiana. Ricardo não a vira chegar, nem a Gilson seu irmão. Percebeu os cabelos louros se destacarem atrás de um par à sua frente. Entrou na pista. Enlaçou a madrinha pela cintura e, tomando-lhe a mão, começou a dançar. Não era Tatiana! Ricardo sorriu com a própria surpresa.

Cecília dançava com seu filho! Não pode evitar ficar a olhá-los embevecido. Ela usando um vestido leve, decotado mais às costas, a frente em vê, de alças finas, destacando seus ombros que os cabelos soltos dividiam, colado ao corpo até as ancas, abrindo um godê curto, deixando-lhe ver bonitas pernas ao movimentar-se nos sapatos de salto alto.

O azul forte contrastava com o traje creme, puxando a bege, que Marcelo vestia mostrando bom porte. Ao passarem onde estava, sorriram para ele. Felizes, o que se notava nitidamente.

E Ricardo descobria que tinha um filho melhor dançarino do que pudera imaginar. A música era bem tocada, bom repertório, atraindo muitos pares, agora tomando quase que totalmente a pista. Ao começar a escutar Moonlight Serenade, viu Marcelo caminhando até ele, mão dada a Cecília.

-Pai, sei o quanto gostas dessa música. Tem muito tua cara. Aproveita que eu vou tirar Tatiana para dançar e leva minha madrinha contigo.

Antes de afastar-se sorridente, Marcelo beijou o pai e Cecília.

-Obrigado madrinha. Danças muito bem. Agora não me responsabilizo pelo que possa te acontecer. Esse ai deve estar meio enferrujado.

Ricardo levantou-se e foi interrompido com a mão dela pousada em seu ombro:

-Espera um pouquinho. Vou buscar minha bolsa. Não tenho mesa, assim sendo teremos que ficar juntos.

Acompanhou-a a andar entre as pessoas, elegante, charmosa, bonita mesmo. E a sentiu atraente, mulher. A bolsa já na mesa, foram dançar. Era leve Cecília. Com o braço em suas costas, tocando sua pele, Ricardo se descobria a sentir prazer na proximidade do corpo morno junto do seu. Seus seios lhe pressionavam o peito levemente, mas o suficiente para que os percebesse, enquanto a mão o segurava no pescoço, o rosto encostado ao seu, meio recostado sobre o ombro.
Folgou os braços por instantes, permitindo que seus corpos ficassem mais próximos, ajustando-se um pouco mais, agora as pernas se tocando a cada movimento. Não percebeu qualquer reação contrária, mais lhe parecendo que Cecília também trazia seu corpo para junto, o que, com seu vestido fino, fazia com que o sentisse todo sob as mãos. Agora dançavam When I Fall In Love, mas tão enlevados, que certamente não saberiam dizer que a melodia era outra. A mão de Cecília acariciava o pescoço de Ricardo muito suavemente, em movimento lento, quase imperceptível, os rostos colados, os corpos mais ainda.
 
-Estás me apertando muito, falou baixinho. Quase não posso me mexer.
 
-Se disseres que não estás gostando, posso afastar-me, respondeu Ricardo, tentando olhá-la, puxando o rosto para trás, as mãos lhe afagando as costas e a cintura.
 
Os olhos dela passavam um recado de encantamento. Algo como se não conseguisse crer no que estava vivendo.
 
-Estou brincando, disse. Queria que essa música não terminasse nunca. Ainda te amo. Bem sabes disso.
 
Estava linda, os olhos cerrados, as faces rubras, a boca entreaberta como a esperar o beijo que Ricardo lhe deu. E rodaram leves, por um tempo que não souberam quanto foi, sem que seus lábios se descolassem, sorvendo a felicidade que fluía de cada um.

Um comentário: