Eu havia me preparado bastante bem. Além do que, anos de vivência em salas de aula, com turmas – por vezes – de mais de cinqüenta pessoas, em uma empresa desconhecida, pessoas de origens e formação totalmente heterogêneas, me davam a tranqüilidade que, julgava, iria me ajudar. Contudo, ao chegar o momento, cada cena é uma cena nova. Ali, frente a mim, estava um “Cara Muito Especial”, escutando as palavras do “homem do Cartório”, e as lágrimas lhe eram impossíveis de conter. Sem saber por que, intuição talvez, eu levara dois lenços nos bolsos. Alcancei-lhe um, mais uma vez, em nossas vidas, em gesto de companheirismo e solidariedade. Sim, porque, além de meu filho, estava ali, como falei, antes de ler o texto que levara, um grande amigo, um cara que aprendi a admirar profundamente, e que vi trilhar um longo caminho, que – naquele instante – com certeza, lhe passava na mente, em um filme incontrolável, construído de muitas lágrimas e sorrisos.
Naqueles alguns poucos minutos, não tenho dúvida alguma, sua história foi passada a limpo. Desde seus primeiros passos, suas primeiras descobertas, suas primeiras incertezas, sua lutas consigo mesmo, a princípio, com a busca do entendimento e aceitação dos mais próximos, com o falso moralismo, com a hipocrisia, com a dualidade social, às vezes até de alguns destes, e, muitas vezes, nos desafios e temores enfrentados social e profissionalmente. E bem sei que o choro era o retrato fiel da vitoria final, dos sonhos nunca abandonados, mas, algumas vezes, sob a impressão de andar no fio da navalha, no limite dos sentimentos, exposto às luzes dos refletores de quem se atreve a enfrentar, apegado a seus anseios e suas verdades. E, de certa forma, seu choro foi também o meu. Pois consegui caminhar calmo, e sob controle, pelas palavras e pela torrente de carinho que havia despejado nelas.
Hoje - comecei eu a falar - estamos aqui para festejar o amor, a coragem, a entrega, e a música dos sonhos e dos ideais. Contudo, temos que entender e admitir que somos, cada um, apenas o que conseguimos ser, e nem sempre o que gostaríamos de ser, ou aqueles que nos rodeiam gostariam que fossemos. De certa forma, posso dizer que somos fruto do amor, do ideal e do sonho. Carregamos a serenidade como arma maior, e, por contraditório que pareça, a solene e, às vezes, violenta reação dos injustiçados. Temos que ser lutadores por excelência, os donos maiores de nossos sonhos. Então, é dia de abraçá-los, aplaudi-los e passar-lhes toda nossa admiração. Os caminhos do amor e da vida são sinuosos. E são o companheirismo, a cumplicidade, a confiança, e a admiração que ajudarão a percorrê-los.
Aprendemos que amor se vive, amor se ensina, amor se fala, amor se passa, como postura de vida. Aprendemos que é o amor que dá forças para enfrentar o preconceito e a violência, que pode ser silenciosa e disfarçada. Sim, porque a violência tem uma parte de cinismo, de arrogância, de prepotência, independente dos níveis de agressão. Então, é, a partir do amor, que nos tornamos fortes, solidários, observadores, bons ouvintes, bons leitores, bons cantores de sentimentos e sonhos. E apostamos na defesa de quem luta por seus anseios, de quem se permite amar de forma integral, de quem aprende a soltar o sorriso, e valorizar a lágrima. Porque a lágrima é a melhor vitória para quem te agride.
Mas é o fraco que agride. É o fraco que exige. É o fraco que protesta e inveja. É o fraco que olha em volta, em busca de preencher seu tédio. Assim, é o fraco, que não soube amar, quem faz emergir as batalhas contra os fortes que mergulham no amor de forma destemida. O forte olha à frente, encara os desafios, e, a cada passo dado, está a verificar como posicionar-se para o passo seguinte. Com serenidade como companheira, porque motivado por sua audácia e confiança em seus sonhos. Então, amar intensamente, amar sem limites, amar inovando no amor, amar se redescobrindo, amar sem fronteiras, e sem estabelecer, ou obedecer a padrões, é o que nos leva a sermos pontos de referência. Aos que querem amar, como exemplo, e aos que não o aprenderam, como ponto de mira. Hoje, aqui, festejamos a vitória dos direitos que temos todos, e do maior deles: o direito à felicidade!
Hoje, aqui estamos reunidos para um grande abraço conjunto, para soltarmos o grito, que por vezes fica engasgado, sob a pressão da insensibilidade, da intransigência, ou de incompetência. Sim, há que ser-se competente para saber do amor e de como ensiná-lo e vivê-lo. Sem a pretensão de ser exemplo, mas com a convicção de ser autêntico. Arcando com os ônus, e permitindo-se desfrutar dos bônus! Parabéns, a vocês, e àqueles que aqui vieram! Hoje estamos todos juntos para registrar um momento e o simbolismo do que este encontro representa: Vivamos e deixemos viver! Busquemos ser entendidos como somos, mas tentemos entender, com tranqüilidade e naturalidade, aceitando a cada um como o é! Viva a Vida! E viva os loucos que inventaram o amor!