quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A alegria dos reencontros / Nossa última viagem (I)

Por diversos anos, muitos na verdade, ainda que mantendo esporádicos contatos com amigos, o nordeste passou a representar uma saudade administrada.  Aninha e eu, volta e meia, conseguimos fugir para Morro de São Paulo, ou Arraial D”Ajuda, em dias poucos, na busca de descanso e distração, para, verdade seja dita, onde também temos bons e queridos amigos. Mas, sair do Rio de Janeiro, com tempo disponível para podermos nos encontrar, desfrutar de suas companhias, colocar o papo em dia, sentar à mesa sem ter que levantar na pressa, curtir o visual do mar, a brisa da noite, e o acordar sereno, olhando alguns dias começarem sem ter programado suas horas, isto nós desejávamos, mas faltava a hora certa chegar. O tempo corria célere.
Só o conseguimos agora, início de outubro, mais na cara e na coragem do que dispondo de fundamentadas condições para fazê-lo. Mas, o que é a vida, senão encarar desafios, o que é ela, senão dar-se o direito de desfrutar um pouco do impossível, do difícil, do improvável, do nem sempre encarado como permitido. Sim, temos todos que, para sair da rotina, encarar desafios, ora envolvendo posturas, ora comportamentos, ora limites, sejam estes financeiros ou situacionais. Sem coragem não há conquistas. Sem conquistas, não há emoções maiores. Sem emoções, não se vibra verdadeiramente, não se fica marcado pelos sentimentos, não dispomos de uma verdadeira história a ser deixada.
Assim, chegamos a Recife, em uma manhã nublada, Claudinha a nos aguardar no aeroporto. Ela, uma de quatro irmãs de uma família que comecei a conviver em março de 1983! Isso mesmo, 30 anos atrás, quando Dilma, então, pouco mais que uma garota, trabalhava na Capemi, para onde fui eu gerenciar as vendas. As outras duas, Ana Paula e Carol, eram duas meninas, que conheci junto com a mãe, ao visitá-las. E nossa tarde de domingo foi uma festa só, com almoço em Boa Viagem, passada rápida pelo hotel, e à tarde, entre um cafezinho e outro, no shopping, frente ao qual, minutos antes de chegarmos, ocorrera um tiroteio com morte e tudo. Policiais, bombeiros, e curiosos, que pareciam perfilados para saudar nossa chegada.
Mas, cena que hoje ocorre pelo Brasil afora. Tudo indica que um acerto de contas entre traficantes. De qualquer forma, algo que não nos tirou a alegria do reencontro, ainda no início. Depois de rápido descanso no hotel, Danielly, com Telma e Marilene, sua mãe, foi buscar-nos para o jantar e um passeio pelo Recife antigo, hoje em dia totalmente repaginado, gente a passear por suas ruas iluminadas, que, à época de Carnaval, se transformam em um grande teatro ao ar livre. Depois, jantar juntos, embevecidos pelas notícias. Dani, agora Doutora, tendo recebido seu título na Espanha, onde ficou por quatro anos, das mãos do Rei Juan Carlos, honraria que ninguém usufruiu entre aqueles com que convivo.
Mas, mais que Doutora, agora Assistente Social e Poetisa. Brindou-nos com seu livro, “Vozes da Alma”, editado a pouco, um compêndio de belas poesias, retratos da vida, intensos, cheios de amor, revolta, descobertas, questionamentos, encanto e sensibilidade. E tivemos uma noite antológica. Sob os gritos da torcida do Sport, no restaurante lotado, repassamos fatos vividos em sua mais tenra infância, em nossa Olinda, de ruas ainda de barro, o Jardim Atlântico, nosso bairro, começando a surgir. As idas à praia nos fins de semana, o futebol dos meninos aos sábados, reunidos para tirar coco em minha casa, ou para pintar o muro, tinta lavável, o que permitia às crianças se divertirem juntas, por vezes pintando umas às outras.
Volta ao hotel, esmiuçando nossas histórias, ela querendo saber de meus filhos, hoje em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, eles professores, jornalista, dona de loja e secretária, cada um envolvido em sua labuta, alguns com filhos já crescidos, até graduados, já trabalhando, outros, com pequenos, ainda cursando os maternais. Já, de sua parte, os dois irmãos trabalhando, seu tio e meu amigo de longa data, Nóbrega, marido de Marta, tocando seus negócios com Carlinhos, seu filho, que também vi nascer. Uma noite mágica, Dani, Telma e Aninha conversando como velhas amigas, integradas, trocando impressões das experiências de vida de cada uma. Despedimo-nos à porta do hotel, já madrugada chegando, combinando o próximo reencontro, novas saudades a nos tomar conta.
À noite, a surpresa de chuva com vento. Mas amanheceu bonito, e Claudia chegou cedo, com o filho e a irmã Ana Paula, para levar-nos a Porto de Galinha. Carinho, abraços, beijos, alegria. Vida é fazer todo sonho brilhar! Particularmente, parte de meus sentimentos compunham-se de belas lembranças, momentos vividos que não nos deixam jamais. Ao contrario, crescem com o passar dos tempos. Ali estávamos juntos, como se trinta anos passados nos levassem ao ontem. Conversas, novidades, muita risada, retratando nossa vontade de inteirar-se sobre os passos de cada um, o que fazíamos, como haviam sido nossas caminhadas, nossas estradas deixadas para trás, como havíamos lidado com sentimentos, realizações e conquistas, por vezes, perdas.
Emoção à flor da pele. Na estrada, meio do caminho, uma parada para abraçar Carol, a caçula, que ia para Recife, sentido contrário ao nosso. Risos, beijos, abraços, ternura, muita ternura. O acostamento virou cenário de nossa comemoração. Enfim, Porto de Galinhas, malas na pousada, caminhada até a Passarela da Praia, restaurante Munganga, e a chegada de Dilma, junto com a Mãe. Emocionamo-nos todos. Algumas lágrimas de parte a parte marcavam nossa alegria difícil de descrever. E a saudade, torrente de paixão, emoção diferente, veio á tona, à beira mar, sob a brisa que nos embalava em areias ensolaradas. Fotos, muitas, todos enlaçados, Aninha e eu, cercados de afeto, sentindo-nos como et’s, aterrissando em um mundo raro e belo, no qual as pessoas se amam de verdade. Pura festa!
Aniversário de Aninha em surpresa desta família linda, abraços, drinques, belo almoço, caminhar sem compromisso por Porto de Galinhas, muito encanto, fotos, sempre com a companhia e a doçura destas Pequenas Notáveis! Amigas de ontem, hoje, e sempre! Filhas, irmãs e mães calorosas. Filhos lindos, como só podia ser. Sol, boa comida e o ar puro, o calor, cenas vividas, parte delas escritas, descritas, e repassadas no tempo, que sempre parece pouco. Dilma, linda amiga e companheira, Claudinha, a pequena grande e valente, Ana Paula, super mãe, de quem é mãe, Carol, quase parte de música de Moraes Moreira... te carreguei no colo, menina... E a super Mãe delas, Graça em forma de gente! Obrigado por tudo que – juntos – vivemos e desfrutamos nestes dias de paraiso.
E partimos, Aninha e eu, para o Nannai, refúgio previsto para alguns dias de lua de mel. Belos momentos, acomodações de sonho, descanso, amor e clima de romantismo total. Ali, por breve tempo, esquecemos de tudo, e vivemos unicamente um para o outro. Depois, Maragogi, e mais três dias em que os sonhos se fizeram realidade. Por instantes, voltamos a sentir-nos novas crianças, brincando livres, leves e soltos. Piscina, sol, mar, música, o convívio com uma natureza privilegiada, poder curtir a sonolência da despreocupação total, e tendo o direito de esquecer mazelas, brindando nossa fugaz e festiva semana de seu aniversário. O amor presente no ar, nas palavras, nos gestos, no aconchego das noites cálidas, nos drinques com beijos, abraços, e o posterior despertar sereno, sem ontem nem amanhã.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Amor tem um pouco de loucura (II)

O amor por vezes é errante, em outras é conflitante, se muito louco, é alarmante, se é italiano, é cantante. Amor pode ter rompante, muito falante, gritante, pode também ser migrante, e, mesmo andante, pujante. Amor é sempre importante, com anel é cintilante, com silicone, é implante, se tem safena é transplante, se causa incêndio é queimante, só apaga com hidrante. Amor em baixa é vazante, quando trocado é mutante, no oriente médio, turbante, se houver nudez, ultrajante, sendo no hotel, de viajante. Jóia de amor é brilhante, se mal usada, pedante, no reflexo, rutilante. Amar no sol é escaldante, no gelo, arrepiante, nas alturas, estonteante, mas, quando muito ofegante, cuidado, é preocupante.
Amar pra deixar vidrado, tem que ser elaborado, pode deixar acamado, pode ser sempre cantado, no campo, praia ou banhado, pode ser muito assanhado. Mas para ser apurado, não pode ser apressado, não pode ser acanhado, tem que sentir-se atirado, ser firme, forte, malhado. Pode nascer rebuscado, vacinado a mau olhado, ser à prova de atentado, com beijo bem lambuzado. E pra quem for recalcado, quem nunca o tenha sonhado, que vive só de passado, que, ao pensar, fica suado, quer fugir, desatinado, ou quer sorvê-lo apressado, melhor ficar acordado, atento, qual acampado, para não ser desnudado, e sofrer desesperado.
Amor começa latente, no tempo, surge inocente, pode tornar-se crescente, pode ficar indecente, deixar um saldo pungente, calar, tornar-se silente, murchar, ser amor cadente, mais quente, ficar fervente, modesto, ser um servente, com dente, virar serpente, doente, ser fluorescente, e presunçoso, infringente. Amor bahiano é dolente, tem banzo, fica doente, se cantar, fica imponente, e – se calar – impotente.  Amor de rico é excludente, amor de jovem, nascente, amor triste é amor dormente, amor poeta é poente, amor canalha é inclemente, do indeciso é pendente, do atrevido, imprudente, do descarado, insolente, de quem não sente, insolvente, do gago, intermitente, e o meu, remanescente!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Amor tem um pouco de loucura

Em uma de minhas crônicas, há quase quarenta anos, falava de uma jovem que me perguntava o que era o amor, ao que lhe respondia eu: - É tudo... é dor... ardor... alegria...tristeza... é sol... é luz...e por ai me estendia, nesse tudo infindo.  Então, ela me falava: - Não te entendo! Ao que eu finalizava: - Talvez não o tenhas vivido ainda!
Já, creio que, pelo final dos anos 90, vejo um filme suave e profundo, com belo casal de protagonistas, Carolina Ferraz e Murillo Benicio, que retratava diversos caminhos do amor entre eles, meio que brincando com as possibilidades que a vida nos apresenta, cujo título era “Amores Possíveis”.
Então ontem, dirigindo em meio ao trânsito, cada dia mais louco, deste Rio de Janeiro que tanto amo, me vem à mente esta interrogação, tão presente na vida de todos. O que é o amor? Coisa que, agora, bem mais vivido, penso muito difícil tentar definir. Quiçá seja mais para ser vivido do que descrito, mais para ser praticado do que estudado.
Afinal, existem amores possíveis, como dizia o filme, e há também os impossíveis, os invisíveis, aqueles que são risíveis, alguns cheios de alegria, alguns feitos de prazer, alguns compostos de choros, os que são o amor sofrer. Há o amor fantasia, hoje em dia, até – quem, sabe - o amor em fatia. Há o amor maravilha, há o outro, que fervilha.
O amor pode ser incerto, pode não estar por perto, pode sumir sem aviso, surgir quando não preciso, bater à porta, estridente, faltar, derrubando a gente. Amor pode ser bandido, pode ser amor ferido, pode ser amor banido, pode ser feito gemido, pode arder dentro do peito, pode incomodar no leito, pode ser de nosso jeito, também pode ser mal feito.
Amor pode ser proscrito, por vezes nascer prescrito, alguns só existem no grito, outros em busca de um mito, e, o que menos vale, é o escrito. Às vezes o amor é belo, puro, criança, singelo, às vezes é jogo bruto, disputa, gana, maluco, vive entre tapas e beijos, à noite vinhos e queijos, leva à embriaguez no prazer, pode ficar só na flor, que cai e não gera o fruto.
Amor pode ser talento, pode ser feito ao relento, há quem o queira depressa, há os que o queiram mais lento, pode ser feito de juras, ou carregar só agruras, pode ser só de mentira, pode ser só de ilusão, causando o mal, te revira, te destroça o coração, mas renasce com a gente, muito rápido, inclemente, basta alguém te dar a mão.
Amor pode ser de viagem, de campo, montanha, mar, exige muita coragem, neste caso em especial, porque as promessas, levianas, acabam ao retornar. Amor pode ter cabresto, esporas e cavalgar, pode ser “ao molho e pesto”, com morango e chantilly, pode ser a sobremesa, ou o café da manhã, importante que contenha surpresas aqui ou ali.
Amor pode ser promessa, em prosa e verso ou cantado, pode ficar na conversa, pode seguir seu caminho, pode conter nostalgia, pode viver na alegria, pode ser beijo e abraço, pode ser difícil luta, mas precisa ser valente, companheiro, persistente, ter parceria, ombro amigo, sempre disposto a escutar, ouvir mais do que falar, querer amar pelo amar.

Amor pode ser venal, tornar-se atração fatal, pode ser até mortal, quiçá possa ser matreiro, ser faceiro, ou traiçoeiro, por vezes, ser passageiro, em outras, até rasteiro. Amor pode ser fugaz, o que exige ser audaz, pode tornar-se imoral, imortal, atemporal. Pode, às vezes, não servir, em sua vida interferir, o seu rumo alterar, a sua vida marcar, e – breve - terminar.
Então, como disse antes, melhor não se preocupar, viver sempre cada um, como se fosse o primeiro, nunca deixar de sonhar, nunca deixar de inventar, nunca deixar de tentar, nunca deixar de buscar. O amor pode ser surpresa, na mesa, mas precisa ser vivido, muito mais que presumido. Não é pra quem quer só um pouco, está mais pra quem é louco!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Anna, de Amsterdam

Anna, de Amsterdam
Em 1983 conheci o Murillo. Eu, novato, Gerente da Capemi em uma Regional sediada em Recife, ele Gerente de Marketing, na sede da São Clemente, no Rio de Janeiro. Em sua equipe, que, como a minha, era chefiada pelo Delmas, outra figura impar, estavam o Mauro, amigo velho, a quem reencontrava por ali, um dos mais provocadores baixinhos que conheci na vida, Garcez, que, descalço, perdia muita altura, pois usava bota de cowboy, Ferraço, uma pessoa belíssima, gente fina, mas com cara de mau, e diversos outros, com quem não cheguei a estabelecer maiores laços.
O Gerente Geral da Regional de Recife era o José Maria, boêmio dos bons, um Popeye verdadeiro, fumando seus três a cinco maços de cigarro todo dia, acendendo um no outro, e que bebia uísque cowboy e chope simultaneamente. Mas, além de grande alma, um companheiro constante nas noites de serestas, que podiam acontecer em qualquer bar ou boteco, não importando se em local mais ou menos classudo. O que valia era nossa interação e a cantoria, compostas de muito Nelson Gonçalves, muito Altemar Dutra, muito Cauby Peixoto, só para lembrarmos os mais cantados.
E, reunimo-nos todos na sede campestre da Capemi, na estrada dos Bandeirantes, à ocasião, simplesmente citada como “ficando em Jacarepaguá”. Chegar até ela custava uma viagem! Nela permanecer, uma arte. Tínhamos um belo campo de futebol, que existe até hoje, passados incríveis trinta anos, as acomodações compostas de pequenos apartamentos para duas ou quatro pessoas em cada um, um bom refeitório, e um grande salão para reuniões, que continha palco, equipado com o que havia de melhor para apresentações. Era preciso ser forte para, depois do almoço, encarar a sonolência do início dos debates da tarde.
Como disse Roberto, o Rei, belos tempos... belos dias. O Delmas, coronel da reserva, como o José Maria, era quem se auto proclamava encarregado da disciplina. E, invariavelmente, o juiz das partidas de futebol ao final das tardes, quando se registrava tudo que seria possível imaginar em crimes futebolísticos. Um grupo de pernas de pau, alguns com a barriga maior que a bola, outros, “furões” por intuição, e – entre estes – eu, que jogava sempre de goleiro, para não passar vergonha na linha. Além do que, uma posição ingrata, para a qual não havia concorrência. Assim, eu era um dos poucos que jogava a partida inteira.
Em um destes dias, dois filhos do Murillo, Marcelo e Mauricio, que – se não me falha a memória – tinham 15 e 13 anos de idade, na hora do almoço, sentaram a um canto do refeitório e ficaram tocando violão e cantando para nós. Magricelas, muito novos ainda, uns guris mesmo, encararam o desafio, cheios de coragem. Cantaram afinados, e encheram Murillo de uma contagiante e orgulhosa alegria. Não havia como não perguntar por eles a cada vez que, passado algum tempo, voltávamos a nos encontrar, fosse no Rio de Janeiro, fosse em Recife, em alguma ocasional viagem do Murillo. E, em final de 1987, tendo saído da Capemi em 1986, trabalhando na IOB, sou transferido para esta capítal da beleza do mundo.
Realizava um sonho alimentado desde meus quinze anos! Quanto havia me apaixonado por esta cidade quando a vi vez primeira! Quanto andei, absorto e totalmente encantado, pelas ruas da Copacabana de então, que ainda tinha o Arpége, o Galo Dançante, o Beco das Garrafas, e tantos outros lugares que encantavam o forasteiro. Lugares em que se podia encontrar um Waldir Calmon, um Dick Farney, um Baden Powell, uma Elizete Cardoso, um Vinicius, com ou sem o Tom Jobim a acompanhá-lo, e tantos outros, em um simples fim de noite, de graça, eles apenas tentando se divertir.
Eu, que tantas vezes, a trabalho ou a passeio, por aqui estivera a perambular. Eu que, a cada vinda, aumentava meu amor por esta cidade, por sua gente feliz, por sua lindeza grandiosa, por sua imponente, privilegiada e poliglota natureza. Eu que, amante de praia e de música, aqui me sentia o próprio pinto no lixo. E, finalmente, premiado pela vida, encerrava minha carreira de cigano pelas trilhas do Brasil. Sim, porque depois de conseguir vir para cá, sair, só se fosse preso! E, como todo cara que chega a algum lugar, trabalhava com dedicação, mas tentava, nas horas de folga, restabelecer meus laços com alguns dos amigos que já fizera.
Com José Maria, comecei a freqüentar a Tijuca, onde em dois dias da semana, em um improviso de bar, onde existira uma oficina, em uma das esquinas da Maxwell, se dispunha de nossa boa e gostosa seresta, da qual, é claro, participávamos ativamente. E, levado por uma circunstância de trabalho, fui fotografado, e minha foto estampada em todos os maiores jornais do país, em uma campanha publicitária que promovia nossa empresa de consultoria empresarial.  Com isso, ex-companheiros, alguns que comigo haviam convivido desde Porto Alegre, ainda fim dos anos sessenta, início dos anos setenta, me descobriram no Rio.
Vivi dias de grandes surpresas e de imensa felicidade. Independente de tudo, me sentia querido. E, em um destes dias a que me refiro, frente a mim, no escritório da Rua Goiania, onde está a quadra da escola de samba Salgueiro, me surge Mauricio Miranda, agora um homem, filho do grande Murillo, para dizer-me que gostaria de poder trabalhar como vendedor de minha equipe. Conversamos. Soube que ainda cantava. Tinha sonhos, como seu outro irmão, Marcelo. Mas tinha que ganhar a vida. A música ainda não o sustentava. Ou, foi a partir de meu reencontro com Murillo, que chamei Marcelinho, como o tratava, para cantar em uma nossa convenção.
Não me importa muito o que ocorreu primeiro. A memória pode falhar, traída pela emoção. O que importa é que estava, mais uma vez, a conviver com um cara fantástico, um amigo do peito, um irmão maior, com seus filhos, alguns começando a tentar os primeiros passos em suas carreiras musicais. E, para meu orgulho, um deles era (ainda o é) meu tocaio, meu xará, como se fala no Rio de Janeiro. Enfim, Marcelo tocou no Hotel Bucsky, em Niterói, e Mauricio, além de vir trabalhar comigo, devido minha amizade e interação com Carlos Matta “Pulinho”, o maestro da banda do hotel, começou, nos finais de semana, a fazer os “intervalos” na boate.
Mas, final de 1991, resolvo voltar-me a projeto pessoal. Monto minha empresa, mudo da Tijuca para Ipanema, e encaro novos desafios, agora no turismo. Ainda assim, mantenho minhas ligações. Marcelinho lança um seu disco, creio que ainda noivo de sua Giselle, disco que uso, a exemplo do que já fizera com o amigo Luiz Carlos Vinhas, para promover minha agência, tentando, ao mesmo tempo, ajudar o passo encarado pelo jovem e promissor talento, me fazendo presente, inclusive, no show de lançamento, no Mistura Fina. E, neste caminhar pela vida, lá estávamos, mais uma vez, Murillo e eu, entrelaçados pelo destino.
Reencontrei Mauricio, em uma das vezes, cantando no Rio Sul, eu com Aninha, felizes ao vê-lo, já por conta própria, a encaminhar-se. E, tempos depois, não sei precisar quanto, o reencontramos novamente, quando nos fala que está a cantar em um belo lugar – esqueci o nome – no Alto da Boa Vista. Bem, o que importa é que, ao longo das voltas que a vida dá, por anos a fio, estivemos a assisti-lo, ou ao Marcelo, por diversos bares e boates da cidade, claro, aproveitando os momentos alegres para rever Murillo e sua Anna, musa e companheira inseparável. Ultimamente, no Kaçuá, dos também amigos Cesar e Bruno, onde me considero sócio honorário. E, no Kaçuá, não tenho certeza se data de seu aniversário ou não, estive com Murillo e Anna a última vez.
No facebook, outro dia, me surpreendi, ao encontrar e rever longa série de fotos, de Murillo e Anna passeando pela Europa. Portugal, com os filhos, noras e netos. Me deu saudade da Lisboa que tanto conheço, de Coimbra, d’O Porto, de Cascais, ah... Cascais, das pequenas praias e grandes cassinos, saudades do Portugal cordial e receptivo, sempre amigo, na visão simples desse povo irmão. De repente, me deparo com Praga, cidade dos vitrais, lindos, deslumbrantes, obras de arte que o tempo só faz valorizar, como se o Murillo, para provocar-me, me falasse: - Olha Victor, como é bela, ainda e sempre, a Capital de Cristal! E lhe senti ciúmes, afinal, há alguns anos não vou à Europa. Mas continuei a encarar o desafio, caminhando por suas imagens, cheias de alegria, passando muito da emoção do casal.
E, em minha mente, continuo a escutá-lo: - Amigo Victor, Paris continua bela e atraente, de dia, de noite, pela manhã, em seus cafés e rotisseries tradicionais. A Champs Elisée, com suas grandes calçadas invadidas pelas mesas, o Arco do Triunfo, a Rue de Montmarte, a Montmarte Boulevard das músicas que cantam a cidade. O Museu de Cera, a Galerie Lafayette, por onde passamos, mas que atrai pelo charme e sua história. Na verdade temos lojas tão atraentes quanto, seja no Rio, em São Paulo e mais algumas de nossas capitais. O Jardin des Tuilleries, este sim, um passeio inesquecível e uma bela pintura que o homem apenas ajuda a manter, a partir da natureza que o propiciou. O Louvre... Notre Damme... o Quartier Latin... o Sena, dançando suave nos cortes que faz pela cidade, ajudando-nos a vê-la sob os ângulos mais distintos possíveis.
Então, volto no tempo, e músicas – claro – me vêm à lembrança, afinal, Murillo e Anna são fabricantes de músicos! ... Montmartre Boulevard... alegre despertar... um sonho, um riso, um verso diz.. lembranças de Paris (A última vez que vi Paris, trilha sonora de filme com o mesmo nome, da década de 50!!!), ou, ... douce France... chére páis de mon enfance..., ou,... um jour tu veras... la main sur la main, par les rues nous iron... (Jaqueline François, grande cantora e sucesso das décadas de 50 e 60, em músicas que retratavam o amor em Paris, todas a cara de Murillo e Anna!). Não consigo evitar que Maurice Chevalier, Charles Aznavour (Armênio, mas Francês de coração), Charles Trenet, Yves Montand (que grande cantor e ator!!!), Brigitte Bardot (na França ou em nossa Búzios), passem a dançar em volta de mim. Ah.. a Paris de nossa juventude, dos filmes sobre o Folies Bergéres, do Cancan, das baguetes, dos croissants, da França dos vinhos e castelos....
E, sem que o queira, sem que sequer o saiba, Murillo me grita: - Victor, volte a esta Europa, tão cheia de história e de coisas que nos impressionam, pela grandiosidade, pelo requinte de suas construções seculares, pelo seu Tâmisa revivido, exemplo para o mundo de que é possível  dar uma mão à natureza, hoje sucumbindo às mazelas humanas. Aqui também há desemprego, certamente também há corrupção, aqui neva no inverno, e – volta e meia – até vulcões se manifestam. Mas a Europa é um grande livro da história do mundo, pelo qual podemos caminhar, curtindo cada cena apresentada. E, não se esqueça, de Barcelona, de certa forma, o Rio de Janeiro europeu, em um pulo rápido, estamos na Grécia! Na Atenas dos Deuses e da Mitologia! Não esqueça, Victor, tendo um tempinho, passa por aqui, onde tudo aconteceu, mas parece que o tempo não passa.
Tem razão o Murillo. A Europa, berço da civilização, criadora dos bons costumes, ora invasora, ora invadida, como o fizeram os Mouros, é, na verdade, uma grande colcha de retalhos, em que se entreveram folclores, culinária, música e arte de multi origens. É tudo que esperamos dela, mas terá sempre algo mais a ser descoberto, como o fazem Murillo e Anna, em dias de muito amor à flor da pele, como se – novamente – garotos fossem, apaixonados, corações batendo agitado, os rostos enrubecidos, ao trocarem o beijo roubado, retrato da felicidade que lhes é companheira inseparável. E, à medida que chego ao final das imagens, ainda tenho tempo de ouvi-lo mais uma vez: - É isso, amigo Victor, estamos passeando juntos, mais uma vez, agora atravessando pontes e canais, jardins imensos, de flores pintadas nas mais belas cores, e uma arquitetura peculiar nos rodeando. Grande abraço, Victor, de seu amigo Murillo, com Anna, de Amsterdam.






domingo, 18 de agosto de 2013

Caleidoscópio: a vida, passando de pai para filho

Mário Ávila se reúne com os filhos na casa de Belém Novo, agora sede de suas propriedades, restritas a estas e a Tapes. Quer conversar com eles antes de viajar. Crê importante trocarem algumas idéias sobre como as coisas andarão daqui em diante. Marília já está no Rio. Adiantou-se ao pai, aproveitando para tirar umas férias mais longas, e conhecer a cidade em companhia de Márcio e Lauro.
- Bem, está chegando a hora. Vamos lá. Traz o chimarrão, Ricardo. Vai ajudar nosso raciocínio.
Paulo já está à frente do pai. Olha-o, sentindo um quê de saudades. Ama-o, amigo que sempre lhe foi. E o entende, por vezes levando algum tempo para conseguí-lo. Sabe merecer-lhe muita confiança.  Ricardo chega com o mate, puxa a cadeira, e também senta, fechando o círculo em volta da mesinha aonde apóia a chaleira.
- Pronto pai. Pode falar. Quem bebe o primeiro?
E passa a cuia, já servida, para o pai.
- Não sei como chamo vocês, se, de meninos, rapazes ou senhores. Na verdade, não me preocupo muito. Sei que posso viajar tranqüilo, deixar tudo sob a responsabilidade dos dois. Ainda que os mais velhos sejam Márcio e Lauro, foi com vocês que sempre contei mais em nosso trabalho. Eles não desenvolveram a mesma afinidade com esta lida do campo e dos animais. Vocês são mais dispostos, em alguma proporção, mais humildes, e mais que isso, com mais vontade de aprender e de tentar fazer o que aqui se faz. Estou feliz por sentir o que sinto hoje. Agora chegou a hora em que preciso dizer-lhes isso.
Sorve um gole do chimarrão, olha os filhos com serenidade:
- Aqui cresci, conheci meus amigos, e participei de muitas lutas, mas, aprendi a amar esta terra tão fértil, que hoje guarda muito da vida de algumas gerações de nossa família. Chegou, entretanto, um tempo em que sinto precisar mudar de ares. Já tive momentos em que pensei no risco de nenhum dos meus filhos se adaptar a esta vida. Com vocês nem sempre concordei em tudo, ao menos no início. Mas verdade que, na maioria das vezes, nos entendemos e continuamos nosso caminho de forma harmoniosa. Tenho aprendido muito com vocês e com seus irmãos, com sua juventude, malandragem, astúcia sadia. Tenho tentado lhes passar um pouco do que sei, fruto de minha vivência, viagens, conhecimento, e participação nos fatos e nos negócios. Do que absorvi com amigos e companheiros.
Apanha um cigarro, acende-o, e continua:
-  Alguns muito contribuíram com sua lealdade, outros me decepcionaram pela fraqueza e falta de dignidade. Bem sei que, por momentos, terão duvidado de minhas sugestões ou conselhos. Também eu, ainda jovem, me julguei sabendo mais que os mais velhos. Daqui a algum tempo, algumas mancadas adiante, algumas dores afogadas no peito, algumas alegrias e satisfações vividas, com certeza, chegarão a conclusões parecidas com às que cheguei. Vive-se aprendendo. Há, entretanto, uma coisa que vale mais que qualquer outra, e que nos ajudou a sermos o que somos hoje, é énossa união. Esta é, sem dúvida, a grande verdade, e o grande segredo, de quem quer ser forte.
Os filhos o escutam, atentos.
-  Não permitam que os fatos, as dificuldades, ou as discordâncias que possam advir-lhes, causem seu afastamento ou estremeçam seu bem querer. Tu, Paulo, tens um estilo, Ricardo outro. Com cada um já falei a respeito. Vocês se somam, não competem. Querem coisas que não se chocam. Ambos gostam de trabalhar, e o fazem bem feito, em áreas distintas. Da harmonia que conseguirem virá o melhor resultado. São, ambos, homens de bons propósitos, de bons sentimentos, um mais sereno, mas com limites bem definidos, o outro um pouco mais afoito, mais imediatista na sua indignação, mas, ambos com claras e positivas intenções , sabendo aonde querem chegar, e com boa noção de tempo quanto a esperar por seus efeitos. Um é mais voltado para o conjunto dos resultados, o outro mais detalhista, minucioso, preocupado com a primeira impressão, com a aparência. Um mais ligado para o planejamento a longo prazo, o outro interessado em ver as coisas acabadas, a cada etapa que se encerra.
Respira, bate a cinza que cresce no cigarro à sua mão:
- Se souberem somar as virtudes, e se alertarem quanto aos possíveis defeitos, que certamente possuem, formarão uma dupla invariavelmente vencedora. Se permitirem que, entre os dois, seja jogado o veneno da discórdia, do ciúme, ou da inveja, estarão irremediavelmente perdidos. Terão que tomar, por ora, um cuidado. Como ainda são muito jovens, serão sempre questionados quanto à competência e seriedade. Isso não os deve deixar contrariados. É um vício dos mais velhos. Pensem bem. Se olharem para um menino de quinze anos , vão achá-lo um garoto, assim como, há cinco ou seis anos, quando tinham a idade dele, pensavam que quem já tivesse vinte era muito velho. Assim será por muito tempo, até que atinjam uma idade, que não sei dizer-lhes exatamente qual é, mas é quando os homens passam a se respeitarem por igual, como se admitindo que são todos adultos e responsáveis. Até lá, alguns anos irão se passar e vocês saberão perceber quando este momento chegou.
Mário fala pausado, pensando bem antes de continuar:
- Sentimos isso no trato que nos dão os outros, na maneira que nos olham e nos ouvem, no modo que nos cumprimentam ao passarmos. Queiram sempre chegar aonde se determinaram, mas guardem de forma carinhosa a noção de tempo para conseguí-lo. Ambos sabem dirigir um automóvel. Verão que podemos aprender muito enquanto guiamos um carro. Dirigir é um exercício de vida, de contínua descoberta.
Paulo e Ricardo escutam atentos. Haviam aprendido a gostar de ouvir seu pai a falar.  Tinha entusiasmo e coerência no que dizia. Não era homem de dizer sem pensar. Se, em algum momento, ofendesse, podia-se ter a certeza de que o fizera com a intenção deliberada de ferir. Não permitia que lhe escapassem as palavras sem burilá-las para atingir a clareza desejada. Falava muito quando necessário, talvez porque fosse um tranqüilo e atento ouvinte quando a ele se dirigiam. E possuía uma noção muito apurada de oportunidade. Sabiam-no, em certas ocasiões, esperar dias, meses, se necessário, para não desperdiçar suas opiniões por inadequadas ou abruptas.
Os ensinara com exemplos, a todo instante, a serem observadores, mesmo enfrentando a dificuldade de estar em uma situação e ter que analisá-la, como se dela não participassem. 
- Vejam o que lhes vem à mente ao quererem ultrapassar outro carro em uma estrada. Não é a força que precisam no carro de vocês para isso? E, se um caminhão lhes dá uma fechada, não têm vontade de enfrentá-lo, e empurrá-lo para fora da estrada? O outro carro, se tiver motor para isso, será ultrapassado, mas o caminhão não. Tentar fazê-lo seria uma loucura. Ele é maior. Não há como enfrentá-lo. Assim, o melhor é esquecê-lo, ou esperar pelo dia em que, quem sabe, tenhamos nas mãos outro caminhão.
Sorriu para os filhos. Os percebia entendê-lo:
- E o carro que podemos ultrapassar? Não é só querer e poder. É preciso aguardar o momento adequado, aonde a estrada nos permita ver adiante, aonde tenhamos espaço, com folga para passar por ele, mesmo que ele tente evitar isso aumentando sua velocidade. Ou seja, temos que estar dispostos a fazer um esforço maior naquele momento. Caso contrário, corremos o risco de não obter sucesso em nosso plano. A vida tem disso. Parece muito simples. Não é tão fácil assim. Vemos gente que sai da estrada, outros que capotam, alguns que batem em outro carro. O que é isso, senão a soma da pressa com a falta de planejamento, com o pouco interesse em observar as circunstâncias? E algumas vezes é pura falta de preparo.
Tinha consciência de conseguir transmitir-lhes o que desejava. Sem pressa.
- Só podemos querer fazer algo quando nos sentimos prontos, ensinados, com conhecimento suficiente para analisar as possíveis dificuldades que iremos enfrentar. Se falharmos, erramos em nossa auto-avaliação. Valerá a pena insistirmos, caso cheguemos à conclusão de que temos condições de melhorar. Aí, o tempo necessário passa a ser um detalhe perante a importância que tem para nós o objetivo. Assim, talvez seja no amor, quando nem sempre encontramos a pessoa que desejamos, a retribuir o que por ela sentimos. Ou, sem nos perceber da forma que gostaríamos, sem entender nosso sentimento, sem corresponder à nossa expectativa. Se tivermos a firme impressão de que é a pessoa certa, valerá a pena lutar, enfrentar rivais, sentir-se maior, mostrar-se mais forte, ainda que estejamos arrasados. Mas, até nesta ocasião, haverá um limite que iremos descobrir.
Intercalava as palavras com um gole ou outro do chimarrão:
- Só perceberemos isto quando nos olharmos de fora. Saindo da história, como meros observadores de nós mesmos. Certamente, com tudo que pensemos, e possamos nos esforçar, cometeremos falhas, e muitas. Sofreremos decepções, por vezes leves, por outras, verdadeiros desastres. O tempo irá dar-lhes a verdadeira dimensão. Mas, podemos nos ajudar. Com vontade de olhar à frente, procurando ver adiante, nos preparando para evitar que nos atinjam em pontos que já fomos feridos. Sempre estivemos juntos. Chegou um momento que necessito me refazer. Mas, continuaremos a nos ver e a nos falarmos.

ooo

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Caleidoscópio: cena de uma despedida em Copacabana

Mário Ávila acordara cansado. Mais do que nos últimos dias. Apesar de não ter fumado depois do café, sentia a respiração difícil e suava um pouco. Foi até o janelão da sala e o abriu por inteiro. Cada lado que afastou lhe pareceu ter mais peso do que de costume. Arfava. Olhou para a avenida, atravessou-a com os olhos, chegando à praia que aprendera a amar tanto.
Ali, naquelas areias revoltas pelos pés que iam e vinham em todas as direções, muito conversara com amigos, com os filhos e netos. Observando-os, cada um a seu tempo, muito aprendera com eles nas reações distintas de cada fase da vida, nas palavras, ora cheias de romantismo, euforia ou sentimentalismo. Copacabana exercia um encanto inegável a quem quer que fosse, pelo fulgor da manhã ou pelos belos quadros que a natureza pintava em seus crepúsculos.
Em suas calçadas desenhadas os jovens descobriam o amor, nas areias as primeiras reações da sexualidade sadia, traduzida nos trajes sumários e na postura descontraída. Em suas águas generosas os pescadores penetravam, para delas roubar os peixes muitos, que se ofereciam indefesos. De suas janelas, como ele fazia agora, muitos poetas e cronistas encontraram a inspiração para registrar a vida que irradiava. E mesmo quando palco de luta, proporcionou a seus heróis um cenário do qual poucos além dos Dezoito poderiam se orgulhar de ter utilizado.
Se fosse uma mulher, impossível ter dono. Seria a mais pura, a mais desejada e a mais mundana de todas quanto houvessem existido. Tantos desejos, tantos amores, tantas declarações teria ouvido em sua plácida languidez, assim solta, ao alcance de todos quanto a quisessem ver e tocar. Mesmo quando agredida pelo homem, afoito em dar-lhe novos contornos, ou pela natureza em dias de mau humor, sempre soubera se refazer absoluta, rainha cantada princesa, altiva e cativa de todos quantos a conheceram e amaram, para nunca mais esquecê-la.
A brisa perfumada que penetrava a janela ajudou Mário Ávila a sonhar um pouco, mas não aliviou seu mal-estar. Seu coração parecia bater descompassado. Voltando-se para o espelho, acima do balcão, percebeu-se pálido. Apanhou o telefone e ligou para Márcio.
- Meu filho, não acordei muito bem. Vou chamar meu médico. Gostaria que pudesses vir até aqui...
Do outro lado do fio escutou a preocupação e a surpresa com que Márcio reagia a suas palavras. Tentou tranqüilizá-lo:
- Eu sei que pode ser grave, mas não te assustes. Vem com calma.
Tão logo desligou, discou para o cardiologista. Depois de falar-lhe foi até seu quarto, apanhou dois travesseiros e trouxe-os para o sofá da sala. Colocou os óculos, buscou sua agenda e, recostando-se, começou a escrever com a rapidez que suas frágeis reações permitia. Assim o médico o encontrou ao chegar.
Márcio observava o pai, enquanto o doutor Bezerra o examinava calado e tranqüilo, como era seu costume. Tirou-lhe a pressão, auscultou-o, fez-lhe algumas perguntas. Pediu-lhe que mexesse as mãos, os braços e as pernas. Guardou seus instrumentos. Sentou-se e olhou para Mário e Márcio:
- Meu caro amigo, você está com um início de infarto. O melhor, neste caso, é que o levemos para o hospital. Faremos exames mais detalhados e precisos. Aí, veremos o que é necessário.
Levantou-se, apanhou sua pequena maleta e, agora falando para Márcio, disse:
- Ajude seu pai a fazer tudo com calma. Não lhe permita esforço maior. Não precisa sair correndo, mas não se demore. Estarei no hospital aguardando.
Mário Ávila sentou-se. Abotoou a camisa. Apanhou a agenda e a caneta que havia soltado. Levantou-se.
- Bem, meu filho, vou trocar de roupa e separar um pijama.
Márcio o acompanhou, um passo atrás, tentando observar o pai, para melhor avaliar como poderia estar. Ainda que o tempo tivesse passado, lhe era impossível ver o pai como o homem baqueado que caminhava à sua frente. Acostumara-se a vê-lo um forte.
A idade não lhe roubara a lucidez, nem a decisão clara e precisa. Mesmo fisicamente, nunca demonstrara cansaço, salvo se lhes houvesse escondido reações. Caminhava lépido, falava rápido, seus gestos eram firmes. Seu senso de observação continha a mesma argúcia de sempre, nada deixando escapar, ainda que soubesse guardar suas observações para quando fosse necessário traduzi-las.

Para um homem com mais de setenta anos, mostrava bons músculos e resistência. No clube, dava suas braçadas na piscina, jogava sua meia hora de tênis, comia praticamente de tudo. Só agora, olhando-o a caminhar para seu quarto, mais lento do que lhe era característico, como a medir cada passo, Márcio percebia que o pai envelhecera. E o olhou com um tipo de afeto que nunca se percebera sentir. Uma mistura de respeito, carinho e admiração. Como a admitir para si mesmo que, pela primeira vez, era o pai a necessitar de sua ajuda.

sábado, 3 de agosto de 2013

Caleidoscópio: cenas de um Brasil sombrio


O Brasil continua vivendo sob a égide dos Atos Institucionais do regime militar. Os comunistas estão divididos entre várias tendências. Os Festivais de Música Popular servem de palco para protestos traduzidos em canções, e a televisão cria programas com forte apelo para difundir modismos entre os jovens, numa clara tentativa de desviar sua atenção dos problemas nacionais. Carlos Lacerda, Juscelino e João Goulart, em companhia de outros oposicionistas ao governo, fazem parte agora da Frente Ampla, movimento destinado a lutar contra a ditadura, cujas reuniões se dão no exterior.
Os militares conseguiram uma façanha insólita: reaproximar e reunir os opostos.
Não há como evitar as escaramuças entre estudantes que protestam e as polícias militares e o exército, tantas vezes levado às ruas para exercer a repressão. Exército que deveria nos defender dos agressores de nossa pátria. Os quartéis se transformaram em prisões e algumas de suas acomodações são câmaras de tortura e morte, fortemente resguardadas do povo e da imprensa, esta calada pela censura que lhe é imposta.
A União Nacional de Estudantes ganha dimensão não planejada, reflexo da luta em que estão engajados seus participantes, muitos mortos na rua ou desaparecidos. Toda uma geração chega à maturidade dividida entre os que tentam pensar - e sofrem por isso - e os que se mantém à margem dos acontecimentos.
No Vietname, soldados americanos, sofrendo constantes revezes e protagonizando dantescas cenas de covardia, mantém uma luta sem perspectiva. Pesa a intransigência dos donos do poder mundial, tentando manipular a seu modo os destinos de povos distintos.
O radicalismo mostra as garras. Martin Luther King, líder pacifista negro, é assassinado nos Estados Unidos, o que se repete pouco depois, levando Robert Kennedy, então candidato à presidência do país.
O Comando de Caça aos Comunistas, formado por extremistas de direita, na verdade assassinos comuns disfarçados sob uma sigla, e com a cumplicidade das autoridades, espalha terror em diversas cidades brasileiras. O povo mais simples e menos informado se confunde com a divulgação dos fatos.
A Europa ferve. Na França, estudantes e trabalhadores param o país clamando por mudanças e obrigando De Gaulle a compor-se com conservadores e negociar o apoio do exército a seu governo. Oliveira Salazar, um dos mais antigos ditadores, abandona o governo em Portugal. Sua saúde decadente conseguiu o que o país tentou por décadas sem sucesso. Na Tchecoslováquia, os soviéticos esmagam a Primavera de Praga, movimento liderado por Dubcek, Primeiro-Secretário do Partido Comunista de seu país, que dava início a modificações na vida política e econômica.
As garras do totalitarismo não tem bandeira preferencial. As contradições de todo regime de força são nítidas. Nas guerras, impostas com o pretexto de proteger direitos, idéias ou regimes, países são devastados, gerações são aniquiladas, a natureza destruída, a cultura esquecida e a liberdade manipulada. Nas ditaduras, mesmo não imperando uma guerra declarada, o pensamento é amordaçado, os questionamentos ocultados, as notícias elaboradas de acordo com as conveniências e os direitos redefinidos, na dimensão do considerado permitido. E o direito mais primordial de um povo, qual seja o de poder criar seus líderes, é anulado pela voracidade com que as forças do poder saem à cata de suas sombras.

Engana-se o carrasco, quando executa quem luta por idéias. Eliminou uma arma, esqueceu da munição. O ideal, o sonho de liberdade, a luta pelo direito de trilhar seu caminho, nasce com cada um, mas está além de suas dimensões, ficando nos outros e na história, mesmo após sua morte. É esta munição, volátil e concreta, que atravessa o tempo e perdura para sempre. Porque não está no sangue que pode ser derramado. Mas fica na atitude, no exemplo que não se esquece, na coragem da palavra que vaga em ondas, distribuída e captada por novas gerações.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Emoções de um casamento (Viva los Locos que inventaron el Amor)

Eu havia me preparado bastante bem. Além do que, anos de vivência em salas de aula, com turmas – por vezes – de mais de cinqüenta pessoas, em uma empresa desconhecida, pessoas de origens e formação totalmente heterogêneas, me davam a tranqüilidade que, julgava, iria me ajudar. Contudo, ao chegar o momento, cada cena é uma cena nova. Ali, frente a mim, estava um “Cara Muito Especial”, escutando as palavras do “homem do Cartório”, e as lágrimas lhe eram impossíveis de conter. Sem saber por que, intuição talvez, eu levara dois lenços nos bolsos. Alcancei-lhe um, mais uma vez, em nossas vidas, em gesto de companheirismo e solidariedade. Sim, porque, além de meu filho, estava ali, como falei, antes de ler o texto que levara, um grande amigo, um cara que aprendi a admirar profundamente, e que vi trilhar um longo caminho, que – naquele instante – com certeza, lhe passava na mente, em um filme incontrolável, construído de muitas lágrimas e sorrisos.
Naqueles alguns poucos minutos, não tenho dúvida alguma, sua história foi passada a limpo. Desde seus primeiros passos, suas primeiras descobertas, suas primeiras incertezas, sua lutas consigo mesmo, a princípio, com a busca do entendimento e aceitação dos mais próximos, com o falso moralismo, com a hipocrisia, com a dualidade social, às vezes até de alguns destes, e, muitas vezes, nos desafios e temores enfrentados social e profissionalmente. E bem sei que o choro era o retrato fiel da vitoria final, dos sonhos nunca abandonados, mas, algumas vezes, sob a impressão de andar no fio da navalha, no limite dos sentimentos, exposto às luzes dos refletores de quem se atreve a enfrentar, apegado a seus anseios e suas verdades. E, de certa forma, seu choro foi também o meu. Pois consegui caminhar calmo, e sob controle, pelas palavras e pela torrente de carinho que havia despejado nelas.
Hoje - comecei eu a falar - estamos aqui para festejar o amor, a coragem, a entrega, e a música dos sonhos e dos ideais. Contudo, temos que entender e admitir que somos, cada um, apenas o que conseguimos ser, e nem sempre o que gostaríamos de ser, ou aqueles que nos rodeiam gostariam que fossemos. De certa forma, posso dizer que somos fruto do amor, do ideal e do sonho. Carregamos a serenidade como arma maior, e, por contraditório que pareça, a solene e, às vezes, violenta reação dos injustiçados. Temos que ser lutadores por excelência, os donos maiores de nossos sonhos. Então, é dia de abraçá-los, aplaudi-los e passar-lhes toda nossa admiração. Os caminhos do amor e da vida são sinuosos. E são o companheirismo, a cumplicidade, a confiança, e a admiração que ajudarão a percorrê-los.
Aprendemos que amor se vive, amor se ensina, amor se fala, amor se passa, como postura de vida. Aprendemos que é o amor que dá forças para enfrentar o preconceito e a violência, que pode ser silenciosa e disfarçada. Sim, porque a violência tem uma parte de cinismo, de arrogância, de prepotência, independente dos níveis de agressão. Então, é, a partir do amor, que nos tornamos fortes, solidários, observadores, bons ouvintes, bons leitores, bons cantores de sentimentos e sonhos. E apostamos na defesa de quem luta por seus anseios, de quem se permite amar de forma integral, de quem aprende a soltar o sorriso, e valorizar a lágrima. Porque a lágrima é a melhor vitória para quem te agride.
Mas é o fraco que agride. É o fraco que exige. É o fraco que protesta e inveja. É o fraco que olha em volta, em busca de preencher seu tédio. Assim, é o fraco, que não soube amar, quem faz emergir as batalhas contra os fortes que mergulham no amor de forma destemida. O forte olha à frente, encara os desafios, e, a cada passo dado, está a verificar como posicionar-se para o passo seguinte. Com serenidade como companheira, porque motivado por sua audácia e confiança em seus sonhos. Então, amar intensamente, amar sem limites, amar inovando no amor, amar se redescobrindo, amar sem fronteiras, e sem estabelecer, ou obedecer a padrões, é o que nos leva a sermos pontos de referência. Aos que querem amar, como exemplo, e aos que não o aprenderam, como ponto de mira. Hoje, aqui, festejamos a vitória dos direitos que temos todos, e do maior deles: o direito à felicidade!
Hoje, aqui estamos reunidos para um grande abraço conjunto, para soltarmos o grito, que por vezes fica engasgado, sob a pressão da insensibilidade, da intransigência, ou de incompetência. Sim, há que ser-se competente para saber do amor e de como ensiná-lo e vivê-lo. Sem a pretensão de ser exemplo, mas com a convicção de ser autêntico. Arcando com os ônus, e permitindo-se desfrutar dos bônus! Parabéns, a vocês, e àqueles que aqui vieram! Hoje estamos todos juntos para registrar um momento e o simbolismo do que este encontro representa: Vivamos e deixemos viver! Busquemos ser entendidos como somos, mas tentemos entender, com tranqüilidade e naturalidade, aceitando a cada um como o é! Viva a Vida! E viva os loucos que inventaram o amor!

terça-feira, 16 de julho de 2013

Un poco sobre CUBA, un pais que muy poco conocemos (Um pouco sobre CUBA, um país que muito pouco conhecemos


Cristóbal Colón tocó la costa de la isla de Cuba en las últimas jornadas de octubre. La sorpresa le dilato las niñas de los ojos, cuando se deparo con aquella fiesta de clorofila, en pleno otoño, cuando en Europa, las frondas se disecan en colores castaños. Las palmas bailaban sus pencas de pura verdura, los cayos de intenso verdal eran muchos, y las bahias servian de buen abligo. Una hermosa hoja vegetal era curada y enrollada luego para ser olida y saboreada por aquellos que alli vivian. Era una “yerba seca” que los aborígenes reducian a humo y a ceniza, pero también un sereno disfrute en mucha calma. La fuma del tabaco, voz indígena que se hizo internacional, luego recurrió el mundo en viaje de circunvaliación. Fué la primera presencia cubana a los cuatro vientos. Su secreto sensual resultaba en una leviana euforia, calmante de la fatiga, verdadero estímulo del ánimo, por contener nicotina, y por ser sócia fraternal de la cafeína. Colón respondió al regalo del tabaco trayendo a su vuelta la caña de azúcar, en 1493. Cuba, lentamente, hizo su carrera econômica, con el desarrollo de la indústria azucarera. También, al paso lento del tiempo colonial, el guarapo, que chorreaba de los trapiches, mejoró hasta graduarse como aguardiente. Las sutiles artes de la destilación, mediante aparatos franceses, afinaron la calidad de los alcoholes primitivos, y nació el ron cubano. Su prestigio, ganado de puerto en puerto, con el aval de las marinerías, se igualo al del tabaco de las tierras de Vueltabajo. El espíritu de uno y el humo del otro aromaron los dos hemisférios. Muchos años después, en la calle Obispo, que está en Centro Habana, surge “La Piña de Plata”, una taberna que, más tarde, seria bautizada con el nombre de “El Floridita”, “la cuna del Daiquiri”, donde se sirven las más variadas bebidas hechas con Ron y se puede humar um “Puro” de los mejores. Esta casa se quedó famosa porque el escritor Hemingway, que vivió en Habana por muchos años, inivitaba a sus amigos y amigas de otros países, para beber juntos. En El Floridita fué creado el Daiquiri, por ejemplo, junto con muchos otros, pero hasta hoy se trata de la bebida más tomada por alli. Entre otros, la visitaron Nat King Cole, Ava Gardner, Frank Sinatra, Winston Churchill y muchos cantantes y actores de Brasil, como Regina Duarte, Taiguara, Gloria Pires, Vanja Orico y Lucélia Santos.

El dia 1 de enero del año de 1959, llega al poder la revolución Cubana, lidereada por Fidel Castro, Ernesto “Che” Guevara y Camilo Cienfuegos, sus principales comandantes. Este hecho há producido, desde entonces, muchas transformaciones radicales en todas las esferas de la vida del país, incluidas la cultura, la ciencia y el deporte. En solamente dos años, los cubanos, con un trabajo de todos, consiguen que su pueblo tenga el 100% de alfabetizados, lo que representa una victoria impresionante, vez que antes no alcanzaban los 4%. Hoy Cuba está entre los tres primeros paises del mundo en porcentaje de los que saben leir y escribir, junto con Uruguai.

El “toreo”, para nosotros brasileños, llamado de torada, que es la lucha con un toro, provocándolo y evitando sus ataques, es uno de los más antiguos artes en el mundo español, siendo muy famoso el torero Dominguín, que fue incluso citado en filmes, y causó pasiones en actrizes como el caso de Ava Gardner, muy hermosa pero que le gustaba beber mucho, lo que le ha causado problemas. Ella fue casada por poco tiempo con el no menos famoso cantante Frank Sinatra, y en una ocasión, en Cuba, se quedó desnuda en la piscina del Hotel Nacional, lo que causó sensación, porque estábamos en los años 50. Torear se dice también de intentar alguna conversación muy difícil.

Margarita, a más que ser el nombre de una flor, también es usado para decir de la parte de una máquina adonde están todas las letras (nuestro “teclado’ de la computadora), que servirá para que se escriba el mensaje que se desea, pero es más conocido por los amantes de las bebidas como una bebida refrescante, hecha con tequilla, zumo de lima, licor de naranja, y que, en la copa que se sierve, se pone sal en las bordas, después de mojarla levemente, para que se fije. Deve ser bebida bien despácio, saboreándola.

En Cuba, aquellos que llamamos de aborígenes vivian en tribus, y dos de estas llamabanse Arauaques y Caribes. En nuestro estado de Amazonas y parte del Pará, existieron dos tribus, entre otras, llamadas de Arauaques y Caraibas (lo que parece ser lo mismo que Caribes). Como Cuba es una isla, a buena distancia de nuestro pais, podemos pensar que “hay algo a más que nuestra simples filosofia” en la historia del mundo. Como tendrian venido a Brasil, o salido de acá para Cuba, pueblos tan primitivos, sy no tenian más que algunas canoas hechas con cuero o con troncos? De qualquier manera esto nos muestra porque los cubanos y nuestro pueblo somos tan parecidos en todo, principalmente los que viven en Bahia. Somos deciendentes de negros, europeus y, por lo visto, de aborígenes de la misma tribu, que, junto con los franceses, holandeses, portugueses, inlgeses, alemanes, italianos y unos pocos de otros lugares, dieron origen a los brasileños. En la época de la esclavitud, los navios negreros salian de África y dejaban en Brasil a unos, en Cuba a otros, por veces de la misma família. Asy es que se criaron dos pueblos que viven lejos pero que son como un solo pueblo. Como allá los españoles, y no los portugueses, hicieron la colonización, hablamos idiomas distintos. Pero nuestro hábitos, religión y postura con la vida son muchísimo parecidos. Si andamos por Cuba, y no hablamos nada, pocos podrán notar que no somos Cubanos. Todavia tenemos mucho a descubrir de nuestra historia y sobre lo que hacian nuestros antepasados.

En 1949, el cubano, Damaso Perez Prado, crea el Mambo, genero musical que le daria fama internacional y se tornó en uno de los más universales de nuestra música. En el mismo año creó su famosa orquestra, con la qual se presentó en variados paises del mundo, realizando innumerables grabaciones para importantes casas disqueras.

En el año de 1987, el médico cubano Orfilio Pelaéz desarrolla un método quirúrgico para curar o detener  el avanzo de la “retinosis pigmentaria”, enfermedad que causa la ceguera. En reconocimiento, en 1989, la Associación Internacional de Retinosis Pigmentaria le concedió el premio Visión. Hasta hoy muchos se van a Cuba para tratarse.

En la lucha por la independencia cubana se destacó la figura carismática  de un hombre, que siendo un intelectual, supo ir a las batallas y dar su vida por su pueblo: José Martí. Nascido el 28 de enero de 1853, se destacó por su inteligéncia y su dedicación a los estúdios, lo que le valió una beca en la mejor escuela de La Habana, donde egressó con el grado de bachiller. Con dieciséis años publica los primeros trabajos políticos a favor de Cuba, contra el imperialismo Español. En 1869 publica un periódico: La Pátria Libre, siendo detenido meses después. Condenado a seis meses de prisión, se queda enfermo y es deportado para España, donde continúa su lucha política y estudia diversos idiomas. Vuelve a Cuba con veintecuatro años, con el seudónimo Júlio Perez, y parte para Guatemala, donde se casa y es nombrado catedrático de Literaturas francesa, inglesa, italiana y alemana, y de Historia de la Filosofia, en la Escuela Normal Central de Guatemala. Regresa a Cuba en 1878, donde nace su hijo José Francisco. Es deportado nuevamente a España por conspirar contra el gobierno, alli publicando obras y haciendo propaganda de la revolución. Va a Santo Domingo y ofrece a Máximo Gomez, otro grande de la revolución cubana, la dirección de la guerra por la independencia. En Costa Rica se entrevista con el general Antonio Maceo y, en 1894 prepara en Florida (EUA) la expedición que iniciaria la guerra en Cuba, lo que ocurre el 24 de febrero de 1895. Muere en combate el 19 de mayo del 1895. Dejó muchas obras y poemas, siendo la más conocida La “Guantanamera”.

sábado, 13 de julho de 2013

Un poco sobre España y sobre los pueblos que hoy hablan el Español


El “Bolero’, el más antiguo tal vez de los ritmos de origem hispanicos, surgió en el tercio final del siglo XIX, en Santiago de Cuba, siendo el maestro Pepe Sánchez el pionero en la definicion de las características del estilo. Pero, todavía muy distante de lo que actualmente llamamos bolero. En la segunda década del siglo XX, otros compositores inician la musicalisación de versos de poetas conocidos, como es el caso de “Aquellos ojos verdes”, que rápidamente alcanzó el más completo éxito universal. Sus más conocidos cantantes son el chileno Lucho Gatica, el Trio (mejicano) Los Panchos y, en tiempos actuales, el mejicano Luis Miguel, que lo mantienen como uno de los favoritos de las parejas de enamorados del mundo entero. Otros ritmos del caribe, como el Mambo y la Rumba, dominaron las pistas de danza de América del Norte y Europa. En la década del cincuenta nace el “Cha-cha-chá”, fruto de una invención del cubano Enrique Jorrín. Su primer cha-cha-chá fué compuesto en 1951, y se llamaba “La Engañadora”. De Colombia viene el aporte de la ritmica y sabrosa Cumbia, si bien que haya estudiosos que dicen que esta vino del Panamá. Por último, no podemos dejar de hablar de la popularísima Salsa, palavra que significa “algo picante”, que se aplica al baile más popular en casi toda América, creada por latinos em Nueva York.

Pablo Picasso, el artista más famoso y versatil del siglo XX, nació en Málaga, en 1881, ciudad del sur de España. Hijo de un profesor de dibujo, tuvo su talento reconocido desde niño y a los quince años tenía su propio atelier. Estudió arte en Madrid y tuvo un período bohemio en Barcelona, pero después, con diecinueve años viajó a Paris, capital artística de la Europa, donde se estableció definitivamente en 1904. Su obra estuvo siempre influenciada por sus relaciones amorosas. De una Fase Azul (1901/1905), llena de melancolia, pasó a la fase Rosa, más alegre y delicada, cuando coincidencia o no, conoció a su primer gran amor, Fernanda Olivier. En 1907, con un amigo francés, Braque, creó el cubismo, en que el mundo visible era desconstruido en sus componentes geométricos. En este momento se estableció un dogma fundamental del arte moderno: el trabajo de un artista no es copia fiel ni ilustración del mundo real, sino un agregado nuevo y autonomo, de como el artista percibe el mundo. Picasso fue también un escultor creativo y entusiasta ceramista, creando en toda su vida millares de obras. Entre mayo y junio de 1937, los acontecimientos políticos de la Guerra Civil Española lo llevaron a crear su quadro más famoso: Guernica, donde retrata el impacto devastador de los armamentos modernos sobre sus victimas. Se murió en 1973.

Los árabes cruzaron el estrecho de Gibraltar y se instalaron en Andalucia, prestando a este bello lugar su arquitectura, costumbres y cultura. Varias ciudades se beneficiaron de este casamiento, especialmente Granada, Córdoba y Sevilla. En La Alhambra (Castilo Rojo) en Granada se queda la indeleble marca árabe, donde uno se puede extasiar con la belleza de los aposentos reservados a los harenes de los sultanes, salas de baño y jardines. En Córdoba es imperdible la visita a la mesquita, símbolo de la fe árabe y de la arquitectura árabe-hispãnica. En Sevilla está la Torre Del Oro, construída para la defensa del Puerto del Guadalquivir, rio que baña lãs três ciudades. El nombre Andalucía proviene de la palabra “vandalusia” que quiere decir “tierra de los vândalos”, en alusión a La ocupación de estos pueblos en parte de España. Cartagineses, romanos y árabes ocuparon después esa región.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Caleidoscópio: Cena histórica no Porto Alegre de Chimangos e Maragatos


Porto Alegre fervia naquele distante 1923, ano agitado, em que Chimangos e Maragatos se enfrentavam em lutas sangrentas, como se novos Farrapos ressurgissem nos Pampas.

Borges de Medeiros, governador perpétuo do Rio Grande do Sul, encarava os caudilhos Republicanos, estes liderados por Flores da Cunha e Osvaldo Aranha. E nas ruas da cidade, depois do toque de recolher, quando era proibido circularem veículos , alguns caminhões, com laçadores, caçavam voluntários para formar as tropas de defesa do Governo, levados para campos de treinamento nos Corpos Provisórios, que gerariam milícias, depois agregadas à Brigada Militar.

Os jornais Federação e Ultima Hora, favoráveis ao governo e oposição, noticiavam os mesmos fatos, atribuindo vitórias de acordo com as conveniências de seus editores. Era difícil saber realmente o que se passava. A luta fraticida fazia vítimas entre o povo, manobrado e iludido por informações, muitas vezes distorcidas.

Uma tarde, em frente ao Grande Hotel, na Praça da Alfândega, caminhavam Mário e Carla, namorados, mãos dadas, junto com Joice Almeida, companheira de Carla como voluntária na Cruz Vermelha. De repente, tiros, primeiro afastados, depois mais próximos. E, antes que pudessem esboçar qualquer gesto de protegerem-se, viram Joice cair, a testa perfurada por uma bala perdida. Justo ela, uma das muitas jovens que se arriscavam para ajudar feridos de uma luta que não haviam escolhido facção.

O ano foi praticamente todo tumultuado. As coisas só acalmariam quando o Governo Federal mandou para o estado seu Ministro da Guerra, General Setembrino de Carvalho. Mas, daquele dia, algo mais ficou em Mário Ávila do que o gesto de proteger Carla empurrando-a junto à parede do Hotel e ficando a sua frente. Ficou a preocupação com os efeitos hediondos de uma luta pelo poder. O Rio Grande sangrava por suas próprias mãos.

Que gosto, que prazer insano nutriam esses líderes por tal tipo de combate? Para ele, ainda muito jovem e cheio de planos, mas de vida tranqüila e sem dificuldades, era custoso assimilar tais fatos.

Com certeza fora ali naquela tarde, que, em sua mente feita de planos férteis e expectativas serenas, despertara uma curiosidade que não o deixaria mais: por quê? E lhe veio à lembrança a imagem de Carla quando a conhecera.

Desciam, ele e alguns amigos, a ladeira da Marechal Floriano, que ia da Rua Duque de Caxias, passando pelo Colégio Sevigné, saindo na praça em frente a Demétrio Ribeiro, rua em que, junto com dois colegas de faculdade, residia, durante o ano, em uma pensão.

No meio da subida, sentido contrário, saia azul plissada, blusa branca de laço também azul preso ao colarinho, livros nos braços de encontro ao peito, vinha Carla, conversando com uma colega normalista.

Era o momento de saída da turma da manhã na tradicional escola, caracterizada pelo essezinho bordado na blusa, sobre o bolsinho do lado do coração das meninas que lá estudavam.

E ao cruzarem um com o outro, a calçada estreita, bateram levemente os braços, mas o suficiente para assustá-la e fazer cair um de seus cadernos ao chão.

De imediato, voltando-se para ela, Mário apanhou o caderno devolvendo-o. Ao fazê-lo, quando Carla estendeu a mão, prendeu-lhe os dedos por breve instante. Olhou-a bem nos olhos e, talvez influenciado pela companhia dos amigos, resolveu brincar:

-Um escravo aos pés de uma bela professorinha.

-Você não é negro. Eu não sou professora ainda, nem tão bela, e largue minha mão, falou Carla, entre assustada com o fato e consigo mesma por ter reagido tão de pronto.

Os amigos, todos eles, riram muito, enquanto Mário, entre desconcertado e arrependido, ficara sem ter o que dizer. Sabia que o Moisés Velhinho, um deles, e o mais talentoso dos estudantes com que convivia, iria depois massacrá-lo com suas provocações. Deu de ombros, não sem antes voltar-se a tempo de ver Carla dobrar a esquina.

A cena não lhe saiu da cabeça. Não era de seu feitio tomar atitudes como aquela. Que tonto fora ao sentir-se mais valente perante os próprios colegas. Passado mais ou menos uma semana, encheu-se de coragem, agora sensata, e foi postar-se em frente ao Sevigné. Tinha que falar-lhe. Ao vê-la sair, leve, pequena e frágil como parecia ser, adiantou-se:

-Quero falar-lhe. Ouça-me um minuto. Preciso me desculpar pelo que fiz no outro dia.

-Não o conheço. Deixe-me passar. Meu pai é Coronel e posso pedir-lhe que mande prendê-lo caso continue a me perturbar.

-Pois bem, disse Mário, estufando o peito à frente de Carla, ou me ouve ou vai ter que mandar me deter mesmo. Não faça com que me sinta mais idiota do que já estou me sentindo. Tenho cara de bandido?

Parecia ter vencido sua resistência. Carla deixou transparecer um meio sorriso e mostrou expressão de quem entrega os pontos, soltando um muxoxo:

-Muito bem. Fale então.

E, daquela conversa ao início do namoro, passaram-se uns poucos dias. Mário conhecera seus pais, Coronel Figueiredo e Dona Áurea, ambos afáveis, ele bem mais velho que ela. Já transferido por muitas vezes e para muitos lugares, o Coronel adquirira um conhecimento que independia de sua condição de militar. Não sabia muito bem esclarecer porque optara pela carreira, mas tinha consciência do nível de vida que vivia, acima da média, e do respeito que lhe era oferecido por todos com quanto convivia. Em uma ou outra conversa de fim de semana, deixava escapar suas mágoas com as promoções que perdera. Admitia não ter um coração de militar típico, durão, intransigente e insensível na aparência. Questionava com freqüência alguns dos métodos aplicados nos quartéis e até mesmo fora do convívio da caserna.

Ao longo dos anos, por conta de sua inegável capacidade de ouvinte atento e conciliador nas horas de conflitos, em torno de si criara a imagem de não decidir com presteza, de ser ponderado em demasia e pouco severo nos julgamentos, não carregando, portanto, o perfil necessário a um oficial de alta patente, muitas vezes detentor de segredos de estado.

Restara-lhe o conforto de ser respeitado por todos como um homem íntegro, e as facilidades de que gozava após ser deslocado para um posto administrativo.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Caleidoscópio (uma história de vida, contada no campo)


-Sabes Marília? Ainda que tenhas, no passado, vivido aqui boa parte de tua vida, creio que não conheces uma historinha interessante. É coisa contada no campo, por gente que lida com a terra, com o plantio, os animais. Conta que um dia, em terras que possuía, um homem resolveu plantar. Não conhecia muito a lida, mas sabia ser mais ou menos simples conseguí-lo. E começou a trabalhar. Plantou eucaliptos, pinheiros, cinamômos e mangueiras.

Olhava-a e seguia, com seu falar pausado:

-Depois um coqueiro, pessegueiros, pereiras, limoeiros, laranjeiras e uma parreira.  Durante alguns anos, à medida em que ia envelhecendo, tratou de retirar as ervas daninhas que nasciam em seu terreno, capinando e arrancando o capim que por ventura crescesse. Quando podia, adubava a terra sem ter a certeza de fazê-lo da forma mais adequada, afinal pouco entendia do plantio. Mas a quem recorrer para orientar-se? Todos plantavam árvores através dos tempos, sem terem estudado o assunto. E as plantas, de uma forma ou de outra, cresciam. Verdade que, em alguns dos sítios, formaram-se verdadeiras florestas, quase indevassáveis. Outros conseguiram belos pomares, e alguns se contentavam com rasteiras hortaliças. Na grande planície, por eles habitada, predominavam aqueles que olhavam o mato natural crescer à sua volta. Estes últimos, quando caminhavam pelas cercanias, lançavam seu olhar de desdém àquilo que os mais empenhados haviam obtido a custa de muita dedicação. Não raro, se lhes estivesse ao alcance, quebravam algum galho, ou atiravam pedras em frutos nascentes, quando não se contentavam em simplesmente arrancar ou esmagar as flores que surgiam.

Todos escutavam. A história era, de fato, algo como uma lenda local.

-O tempo passava, e nosso homem envelhecia junto a suas árvores e seu terreno. Cansado, já não tinha a mesma disposição para limpar a área. O adubo se tornara pesado para carregar até o ponto certo e, quando ainda obtido, o era feito de forma desordenada, e em pequenas quantidades ocasionais. Agora eram as plantas e o terreno a se entenderem da melhor forma que a natureza lhes permitisse. De certa maneira, o homem podia pouco mais que olhá-las, lembrar-se de quando as plantara e vira crescer, procurando descansar à sombra maior ou menor que cada uma projetasse. Os dois eucaliptos haviam crescido desiguais...

- Um era muito esguio, troncos um tanto frágeis, adquiriu enorme altura. O outro custara a desenvolver-se exigindo ser podado, pois aparentava lentidão para tornar-se adulto. Passado algum tempo tornou-se firme, fortes galhos, folhagens espessas, boa sombra. E, quando vinha o vento, resistia bem melhor ao açoite. Perdia menos folhas e flores. Nele, mais facilmente, as crianças brincavam, pela firmeza e segurança que lhes transmitia.

Marília mostrava um ar de quem não assimilava aonde se quer chegar. Mas Paulo, mesmo percebendo isto, seguia em frente.

-Um dia, sob forte tempestade, o mais alto falou: ”Toma cuidado. Meus troncos e folhas vão cair de mim e poderão te cobrir, tão baixo és.” Tranqüilo, respondeu: ”Não te preocupes. Certamente agüentarei e, no chão, teus pedaços irão deteriorar-se, me servindo de adubo. Te ficarei grato.” No meio da tempestade um raio atingiu o mais alto, deixando-o desfigurado e mais frágil ainda do que era sem o saber. O pinheiro, que crescera imponente, muito mais rápido que as demais árvores, por um bom tempo as olhava de cima, cheio de contrastes, em seus mais variados verdes dos brotos, ou no marrom das pinhas que já formava. Nunca entendeu por que, com o passar do tempo, fora mudando o prumo, entortando mesmo. A qualquer ventinho, fraco que era, perdia galhos.

Além disso, quando o verde esmaecia, em seu lugar surgia um detestável escuro, puxando a marrom, meio palha, que ele deplorava. Foi ficando cada vez mais calado, e só o vento lhe arrancava alguns suspiros. O cinamomo fora meio problemático. Não muito alto, desajeitado, crescera de forma irregular, troncos tortos e cheios de nós, seus frutos feios, quando velhos cheirando a gordura. Mas tinha raízes enormes que se espalhavam mais imponentes, ele chegando a atrapalhar as outras árvores por perto. Era meio contraditório. Pesadão, mostrava flores e frutos tão pequenos. Era feliz, entretanto, com suas flores e cores, ora azuis, verdes ou amarelas a predominar, dependendo da estação do ano.

Tio Roberto adormecera. Escutavam-no o roncar.

-A mangueira era dona de uma área imensa. Majestosa, logo cedo, gerou tanta sombra, que pequenos arbustos à sua volta sucumbiram por falta de sol. Muitas frutas, volta e meia, escondia em sua copa abelhas e marimbondos, que, junto com os pássaros, se serviam do açúcar que lhes ofertava tranqüila. Assaltada por crianças e adultos em busca de alimento sorria pra si mesma. Amanhã produziria mais e mais. As outras árvores frutíferas também se desenvolveram, cada uma a seu modo. Dependendo da safra, se entreolhavam enciumadas com a beleza uma das outras. Verdade que a parreira sempre foi a mais serena. Espalhada, subindo onde lhe fosse possível, por vezes se enroscava em qualquer uma das outras para sustentar-se alto do chão. Passava grande parte do ano meio “nua”, mas não dava importância a isso. Quando lhe chegavam as uvas, eram das coisas mais bonitas e desejadas do terreno. Andava preocupada ultimamente. Sem o retoque da poda e o reforço do adubo que o homem depositava à sua volta, estava ficando sem formas e até suas uvas já não eram tão viçosas, nem tinham o mesmo sabor. -”Estamos ficando velhas!”, reclamava para as outras. Esquecia de derramar seus próprios frutos ao chão tentando fertilizá-lo. O homem ainda caminhava pelo terreno, sem saber como ou por que, entendendo a linguagem de todas elas.

Havia um quê de impaciência e tédio na expressão de Marília, mas, contida, não ousava interromper.

-Talvez fosse por tê-las plantado e acompanhado seu crescer. Quem sabe não fosse nada disso, estava velho, e só pensava que as entendia. Ou, quem sabe, a vivência o fizera mais sábio do que elas. A verdade é que pensava entendê-las, e volta e meia se descobria triste por perceber seus desencantos. Então, caminhava entre elas, resmungando conselhos que de nada adiantavam. Estavam elas, cada uma a seu modo, muito preocupadas consigo mesmas. E o velho homem se questionava: -”Como é possível que não me ouçam? Afinal me deram muito trabalho, mas hoje como de seus frutos, descanso à sua sombra, faço o fogo que me aquece de seus troncos.” E assim foi por muito tempo. Um dia, já tendo o homem partido, perceberam-se todas a procurá-lo e se perguntaram: ”Quem vai agora arrancar nossas parasitas? Quem vai colher nossos frutos que pesam sobre nós? Quem vai plantar nossas sementes para que continuemos nas outras plantas que irão surgir?” Então descobriram que estavam começando a se tornar adultas, e a natureza lhes ensinou o resto.

Algumas, mais frágeis e menos dispostas, desapareceram. Outras estão por aí, até sempre. Umas, pequenas, mas inteligentes, vivem até hoje à sombra das mais fortes. O coqueiro? Está lá, compridão, ainda dando coco. Meio retorcido, desenhado pelos ventos aos quais soube se curvar sabiamente ao longo do tempo. Nunca se preocupou muito com beleza, por natureza era meio cheio de palhas, folhas que misturavam verde, amarelo e marrom. Mas, obrigadas que foram, cada uma escolheu seu caminho.