Em uma de minhas crônicas, há quase quarenta anos, falava de uma jovem que me perguntava o que era o amor, ao que lhe respondia eu: - É tudo... é dor... ardor... alegria...tristeza... é sol... é luz...e por ai me estendia, nesse tudo infindo. Então, ela me falava: - Não te entendo! Ao que eu finalizava: - Talvez não o tenhas vivido ainda!
Já, creio que, pelo final dos anos 90, vejo um filme suave e profundo, com belo casal de protagonistas, Carolina Ferraz e Murillo Benicio, que retratava diversos caminhos do amor entre eles, meio que brincando com as possibilidades que a vida nos apresenta, cujo título era “Amores Possíveis”.
Então ontem, dirigindo em meio ao trânsito, cada dia mais louco, deste Rio de Janeiro que tanto amo, me vem à mente esta interrogação, tão presente na vida de todos. O que é o amor? Coisa que, agora, bem mais vivido, penso muito difícil tentar definir. Quiçá seja mais para ser vivido do que descrito, mais para ser praticado do que estudado.
Afinal, existem amores possíveis, como dizia o filme, e há também os impossíveis, os invisíveis, aqueles que são risíveis, alguns cheios de alegria, alguns feitos de prazer, alguns compostos de choros, os que são o amor sofrer. Há o amor fantasia, hoje em dia, até – quem, sabe - o amor em fatia. Há o amor maravilha, há o outro, que fervilha.
O amor pode ser incerto, pode não estar por perto, pode sumir sem aviso, surgir quando não preciso, bater à porta, estridente, faltar, derrubando a gente. Amor pode ser bandido, pode ser amor ferido, pode ser amor banido, pode ser feito gemido, pode arder dentro do peito, pode incomodar no leito, pode ser de nosso jeito, também pode ser mal feito.
Amor pode ser proscrito, por vezes nascer prescrito, alguns só existem no grito, outros em busca de um mito, e, o que menos vale, é o escrito. Às vezes o amor é belo, puro, criança, singelo, às vezes é jogo bruto, disputa, gana, maluco, vive entre tapas e beijos, à noite vinhos e queijos, leva à embriaguez no prazer, pode ficar só na flor, que cai e não gera o fruto.
Amor pode ser talento, pode ser feito ao relento, há quem o queira depressa, há os que o queiram mais lento, pode ser feito de juras, ou carregar só agruras, pode ser só de mentira, pode ser só de ilusão, causando o mal, te revira, te destroça o coração, mas renasce com a gente, muito rápido, inclemente, basta alguém te dar a mão.
Amor pode ser de viagem, de campo, montanha, mar, exige muita coragem, neste caso em especial, porque as promessas, levianas, acabam ao retornar. Amor pode ter cabresto, esporas e cavalgar, pode ser “ao molho e pesto”, com morango e chantilly, pode ser a sobremesa, ou o café da manhã, importante que contenha surpresas aqui ou ali.
Amor pode ser promessa, em prosa e verso ou cantado, pode ficar na conversa, pode seguir seu caminho, pode conter nostalgia, pode viver na alegria, pode ser beijo e abraço, pode ser difícil luta, mas precisa ser valente, companheiro, persistente, ter parceria, ombro amigo, sempre disposto a escutar, ouvir mais do que falar, querer amar pelo amar.
Amor pode ser venal, tornar-se atração fatal, pode ser até mortal, quiçá possa ser matreiro, ser faceiro, ou traiçoeiro, por vezes, ser passageiro, em outras, até rasteiro. Amor pode ser fugaz, o que exige ser audaz, pode tornar-se imoral, imortal, atemporal. Pode, às vezes, não servir, em sua vida interferir, o seu rumo alterar, a sua vida marcar, e – breve - terminar.
Então, como disse antes, melhor não se preocupar, viver sempre cada um, como se fosse o primeiro, nunca deixar de sonhar, nunca deixar de inventar, nunca deixar de tentar, nunca deixar de buscar. O amor pode ser surpresa, na mesa, mas precisa ser vivido, muito mais que presumido. Não é pra quem quer só um pouco, está mais pra quem é louco!
Nenhum comentário:
Postar um comentário