Por diversos anos, muitos na verdade, ainda que mantendo esporádicos contatos com amigos, o nordeste passou a representar uma saudade administrada. Aninha e eu, volta e meia, conseguimos fugir para Morro de São Paulo, ou Arraial D”Ajuda, em dias poucos, na busca de descanso e distração, para, verdade seja dita, onde também temos bons e queridos amigos. Mas, sair do Rio de Janeiro, com tempo disponível para podermos nos encontrar, desfrutar de suas companhias, colocar o papo em dia, sentar à mesa sem ter que levantar na pressa, curtir o visual do mar, a brisa da noite, e o acordar sereno, olhando alguns dias começarem sem ter programado suas horas, isto nós desejávamos, mas faltava a hora certa chegar. O tempo corria célere.
Só o conseguimos agora, início de outubro, mais na cara e na coragem do que dispondo de fundamentadas condições para fazê-lo. Mas, o que é a vida, senão encarar desafios, o que é ela, senão dar-se o direito de desfrutar um pouco do impossível, do difícil, do improvável, do nem sempre encarado como permitido. Sim, temos todos que, para sair da rotina, encarar desafios, ora envolvendo posturas, ora comportamentos, ora limites, sejam estes financeiros ou situacionais. Sem coragem não há conquistas. Sem conquistas, não há emoções maiores. Sem emoções, não se vibra verdadeiramente, não se fica marcado pelos sentimentos, não dispomos de uma verdadeira história a ser deixada.
Assim, chegamos a Recife, em uma manhã nublada, Claudinha a nos aguardar no aeroporto. Ela, uma de quatro irmãs de uma família que comecei a conviver em março de 1983! Isso mesmo, 30 anos atrás, quando Dilma, então, pouco mais que uma garota, trabalhava na Capemi, para onde fui eu gerenciar as vendas. As outras duas, Ana Paula e Carol, eram duas meninas, que conheci junto com a mãe, ao visitá-las. E nossa tarde de domingo foi uma festa só, com almoço em Boa Viagem, passada rápida pelo hotel, e à tarde, entre um cafezinho e outro, no shopping, frente ao qual, minutos antes de chegarmos, ocorrera um tiroteio com morte e tudo. Policiais, bombeiros, e curiosos, que pareciam perfilados para saudar nossa chegada.
Mas, cena que hoje ocorre pelo Brasil afora. Tudo indica que um acerto de contas entre traficantes. De qualquer forma, algo que não nos tirou a alegria do reencontro, ainda no início. Depois de rápido descanso no hotel, Danielly, com Telma e Marilene, sua mãe, foi buscar-nos para o jantar e um passeio pelo Recife antigo, hoje em dia totalmente repaginado, gente a passear por suas ruas iluminadas, que, à época de Carnaval, se transformam em um grande teatro ao ar livre. Depois, jantar juntos, embevecidos pelas notícias. Dani, agora Doutora, tendo recebido seu título na Espanha, onde ficou por quatro anos, das mãos do Rei Juan Carlos, honraria que ninguém usufruiu entre aqueles com que convivo.
Mas, mais que Doutora, agora Assistente Social e Poetisa. Brindou-nos com seu livro, “Vozes da Alma”, editado a pouco, um compêndio de belas poesias, retratos da vida, intensos, cheios de amor, revolta, descobertas, questionamentos, encanto e sensibilidade. E tivemos uma noite antológica. Sob os gritos da torcida do Sport, no restaurante lotado, repassamos fatos vividos em sua mais tenra infância, em nossa Olinda, de ruas ainda de barro, o Jardim Atlântico, nosso bairro, começando a surgir. As idas à praia nos fins de semana, o futebol dos meninos aos sábados, reunidos para tirar coco em minha casa, ou para pintar o muro, tinta lavável, o que permitia às crianças se divertirem juntas, por vezes pintando umas às outras.
Volta ao hotel, esmiuçando nossas histórias, ela querendo saber de meus filhos, hoje em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro, eles professores, jornalista, dona de loja e secretária, cada um envolvido em sua labuta, alguns com filhos já crescidos, até graduados, já trabalhando, outros, com pequenos, ainda cursando os maternais. Já, de sua parte, os dois irmãos trabalhando, seu tio e meu amigo de longa data, Nóbrega, marido de Marta, tocando seus negócios com Carlinhos, seu filho, que também vi nascer. Uma noite mágica, Dani, Telma e Aninha conversando como velhas amigas, integradas, trocando impressões das experiências de vida de cada uma. Despedimo-nos à porta do hotel, já madrugada chegando, combinando o próximo reencontro, novas saudades a nos tomar conta.
À noite, a surpresa de chuva com vento. Mas amanheceu bonito, e Claudia chegou cedo, com o filho e a irmã Ana Paula, para levar-nos a Porto de Galinha. Carinho, abraços, beijos, alegria. Vida é fazer todo sonho brilhar! Particularmente, parte de meus sentimentos compunham-se de belas lembranças, momentos vividos que não nos deixam jamais. Ao contrario, crescem com o passar dos tempos. Ali estávamos juntos, como se trinta anos passados nos levassem ao ontem. Conversas, novidades, muita risada, retratando nossa vontade de inteirar-se sobre os passos de cada um, o que fazíamos, como haviam sido nossas caminhadas, nossas estradas deixadas para trás, como havíamos lidado com sentimentos, realizações e conquistas, por vezes, perdas.
Emoção à flor da pele. Na estrada, meio do caminho, uma parada para abraçar Carol, a caçula, que ia para Recife, sentido contrário ao nosso. Risos, beijos, abraços, ternura, muita ternura. O acostamento virou cenário de nossa comemoração. Enfim, Porto de Galinhas, malas na pousada, caminhada até a Passarela da Praia, restaurante Munganga, e a chegada de Dilma, junto com a Mãe. Emocionamo-nos todos. Algumas lágrimas de parte a parte marcavam nossa alegria difícil de descrever. E a saudade, torrente de paixão, emoção diferente, veio á tona, à beira mar, sob a brisa que nos embalava em areias ensolaradas. Fotos, muitas, todos enlaçados, Aninha e eu, cercados de afeto, sentindo-nos como et’s, aterrissando em um mundo raro e belo, no qual as pessoas se amam de verdade. Pura festa!
Aniversário de Aninha em surpresa desta família linda, abraços, drinques, belo almoço, caminhar sem compromisso por Porto de Galinhas, muito encanto, fotos, sempre com a companhia e a doçura destas Pequenas Notáveis! Amigas de ontem, hoje, e sempre! Filhas, irmãs e mães calorosas. Filhos lindos, como só podia ser. Sol, boa comida e o ar puro, o calor, cenas vividas, parte delas escritas, descritas, e repassadas no tempo, que sempre parece pouco. Dilma, linda amiga e companheira, Claudinha, a pequena grande e valente, Ana Paula, super mãe, de quem é mãe, Carol, quase parte de música de Moraes Moreira... te carreguei no colo, menina... E a super Mãe delas, Graça em forma de gente! Obrigado por tudo que – juntos – vivemos e desfrutamos nestes dias de paraiso.
E partimos, Aninha e eu, para o Nannai, refúgio previsto para alguns dias de lua de mel. Belos momentos, acomodações de sonho, descanso, amor e clima de romantismo total. Ali, por breve tempo, esquecemos de tudo, e vivemos unicamente um para o outro. Depois, Maragogi, e mais três dias em que os sonhos se fizeram realidade. Por instantes, voltamos a sentir-nos novas crianças, brincando livres, leves e soltos. Piscina, sol, mar, música, o convívio com uma natureza privilegiada, poder curtir a sonolência da despreocupação total, e tendo o direito de esquecer mazelas, brindando nossa fugaz e festiva semana de seu aniversário. O amor presente no ar, nas palavras, nos gestos, no aconchego das noites cálidas, nos drinques com beijos, abraços, e o posterior despertar sereno, sem ontem nem amanhã.
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