Os grandes
destaques dos noticiários são as estatísticas de mortos, em guerras
convencionais, ou no dia-a-dia de nossas cidades. Defrontamo-nos com a fome,
com a desnutrição, as agressões à natureza, e a formação de riquezas cada vez
mais desproporcionais aos esforços efetuados para dar mínimas condições de
dignidade aos menos privilegiados. Condicionamo-nos à gradativa destruição do
potencial humano, esquecendo que o amor é uma alternativa possível.
Contudo, o amor só pode funcionar quando abrimos mão de normas que
continuam a nos paralisar. É preciso desafiar os preconceitos, que classificam
o amor como uma tolice romântica, idealista, não intelectual. Precisamos buscar
e aceitar o amor, como uma força universal, algo que unifica e promove o bem,
acessível a todos que, de fato, o desejarem. Se conseguirmos perceber que o
amor tem o poder de afastar mesquinharias que separam as pessoas, que é
possível descobrir, através dele, que todos têm um coração, teremos dado o
primeiro passo para a busca da felicidade e do entendimento.
Amar é viver de forma abrangente. Amar convida a compartilhar
experiências, muito mais do que a impor concepções. Amar é desafiante, e exige
ser maior. Todos buscam algo que dê maior significado às suas existências. É
preciso sair de dentro de nós mesmos, intercalando nossos anseios com os
anseios dos demais. Só assim poderemos nos tornar melhores amantes e seres
humanos mais completos. O amor é fonte de energia, que não diminui com o uso.
Ao contrário, ajuda a gerar mudanças e entusiasma quem dele desfruta.
Muitos são os ricos e os famosos que não viveram o verdadeiro amor.
Terão deixado seu nome em autógrafos e documentos, mas, certamente, viveram
emoções menores do que aqueles que escreveram seus nomes em alguns poucos corações,
mas que guardaram lembranças vívidas e nítidas dos momentos de amor em que
tomaram parte. Estas sim são lembranças que ficam gravadas de forma indelével,
permanecendo ao longo dos tempos.
Romances são exemplos significativos do poder de amar. Porque nos
levam a entender que palavras como desespero e impossível não têm significado
quando se ama. O amor transcende parâmetros sociais e religiosos, com o que,
passar pela vida, sem viver um verdadeiro amor, é abrir mão de uma das
experiências mais desafiadora, mas também mais satisfatória da existência
humana. Nós, humanos, temos uma instintiva necessidade de conviver. E, por
estarmos sempre rodeados de gente que conhecemos casualmente, ou fruto de
convívio fortuito, chamamos a uns de amigos, a outros de amor, quando são
apenas conhecidos.
Ter um amigo, desfrutar de um amor, é diferente. É algo mais
sagrado. Implica no conhecimento, no compromisso de duas pessoas, mesmo que por
um período de tempo, através do convívio com conflitos, alegria, infelicidade e
mudanças. Implica em esforço constante, cuidado e atenção. E, a maioria das
pessoas, ainda que não o aplique, sabe que a melhor forma de ter amigos é sendo
amigo. A melhor forma de encontrar o amor é dando amor. Mas que é necessário
trabalhar com afinco para identificar e fortalecer os elos destas correntes.
Quem ama não aponta defeitos ou imperfeições do outro, mas ajuda a
reduzi-los ou eliminá-los, admitindo suas próprias fraquezas. Amar é abrir
espaços, superar os erros, ganhar força para superar frustrações, oferecendo
apoio para encorajar cada recomeço. A mágoa e os desapontamentos são parte do
amor. É preciso ter cuidado para não julgar e censurar. Devemos compartilhar
pensamentos, mesmo os mais íntimos, para encontrar forças que nos levarão a perseguir
sempre nossos ideais, nossos sonhos e nossos planos.
Amar é servir de espelho. Buscar refletir traços da personalidade
do outro, com uma perspectiva diferente quando preciso. E é nas dificuldades
que se revelam os verdadeiros amigos, quando se constata o que, de fato, cada
um está disposto a dar de si, para manter o amor e a amizade vivos. Quem ama
passa forças positivas, que não cessam nem com a morte. Estas forças continuam
a viver conosco, em nosso coração e em nosso pensamento, acompanhando nossos
atos, idéias e decisões.
O verdadeiro amigo, o verdadeiro amor, não é substituído. Outros
poderão surgir, e viveremos de novo. Mas não tomarão seu lugar, pois fazem
parte de nossas mais recônditas riquezas. Em função deles passamos a ter mais o
que oferecer, junto a nossos demais relacionamentos atuais e futuros. Mas não
nos deixam, não esmaecem com o passar do tempo. Para isso, necessário viver com
intensidade, entregando-se e envolvendo-se, sem perder de vista que o amor e a
amizade, quando verdadeiros, respeitam e valorizam a dignidade de cada um.
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