É fundamental entender que,quando uma união se rompe, não há um culpado.
Ambos terão falhado. Por excesso ou por omissão, por exagero ou por esconder
sentimentos, por exasperar-se ou por manter-se acanhado, por intolerância ou
por tolerar em demasia, mas, consciente ou inconscientemente, ambos são
responsáveis. E, na maioria das vezes, a dor se baseia no fato de percebermos a
culpa que nos cabe. Então, a figura de vítima inocente não é aceitável
totalmente. Mais simples, e um caminho mais curto para a cura, será amainar a
fúria e sarar feridas, admitindo que não somos donos de ninguém, e que não
temos como controlar sentimentos,além dos nossos.
O mais provável é que estas insuportáveis dores, causadas pelo
afastamento, tenham origem em ressentimentos acumulados ao longo de uma vida.
Provocam rugas, amargura e suspeitas. Mas, mais que aos outros, ferem a quem as
alimenta. Não vivemos em um mundo de perfeição, de plena justiça, de belo
entendimento. Ainda assim, o mais sadio é perdoar, tentar entender, e, com o
passar do tempo, recuperar a auto-estima e a alegria de viver. E tentar ter a
certeza de, enquanto durou a união, ter feito o melhor e tudo que lhe foi
possível, para mantê-la. Porque, como se disse antes, a vida continua!
Evitar que isto ocorra, apegando-se a qualquer motivo, é lutar contra a
ordem natural da natureza. Esta é sábia e nos ensina. Uma árvore, quando não
podada, muitas vezes se fragiliza, devido ao crescimento desordenado. Se uma
tempestade lhe quebra alguns galhos, outros surgirão breve. E se uma parasita
lhe toma conta, quando sua seiva lhe serve de alimento, um dia ficará frágil e
não sobreviverá. Ninguém suporta carregar o outro por muito tempo ou por toda a
vida.
Se existe uma fonte de água, mesmo frágil, quase imperceptível, que brota
naturalmente, e lhe cobrimos a saída, a força da água acumulada, um dia,
provocará uma enxurrada. Não há que se agredir a ninguém, nem antes, nem
durante, nem depois de uma união. Basta entendermos que se é cativo daquele que
nos merece. Quando nos libertamos da servidão, estamos prontos para amar de
novo, mais sábios, mais fortes, e mais inteiros.
E, quando este momento chegar, tenhamos consciência de que cada pessoa
expressa seu amor de uma forma, a seu modo, nos limites de sua percepção e
capacidade, nem sempre com a mesma efusão, mas relacionado às próprias
necessidades e descobertas. Será certamente, esta exclusividade, que faz o amor
esta força poderosa e cheia de mistério, mas, sem dúvida, a mais durável e
motivadora na vida de todos.
Amar é querer que sejamos o que somos, ainda que possamos melhorar. Amar
é alegrar-se com o crescimento de quem se ama, sem desejar que se torne igual a
nós. Amar é incentivar idéias, sonhos, individualidade e futuro. Amar é andar
junto pelo prazer de se acompanhar, sem obrigações e sem cobranças. Quem ama
simplifica a existência do outro, não por eliminar ou evitar as dores, mas por
estar junto de nós quando estas se aproximam.
Amar
é incentivar a coragem de enfrentar riscos, porque nos arriscando estamos a
buscar crescimento. Amar não é nos esconder das verdades, mas ajudar-nos a
entendê-las e enfrentá-las. Amar é ajudar a encontrar alternativas para nossos
comportamentos, alegrando-se com nosso sucesso e confortando-nos quando
fracassamos. Quem ama não é apenas amante, mas amigo, companheiro, fiel e
disposto a assimilar nossas imperfeições.
Cada um de nós encara o amor e as expectativas que tem dele de uma
forma. Muitos são os que necessitam ouvir “eu te amo” todos os dias, todas as
horas. Já, para outros, mais que as palavras valem um olhar, um gesto, uma
atitude, uma comunicação silenciosa. Alguns, mais movidos pela paixão, vivem
valorizando atitudes calorosas, demonstrações públicas. Outros encontram
vibração nos momentos mais íntimos. Não importa, na verdade, como cada um
expressa o amor, vez que é algo livre, mas sim que o sinta de fato e seja
autêntico em suas reações.
Não devemos tentar definir o amor. Melhor encará-lo como algo no
qual crescemos juntos com quem amamos e nos ama. Não pode estar limitado por
palavras ou exigências. Como é sempre composto por dois lados, precisa ser
livre e forte, brotar sem esforço e sem limites, não exigir horários e
contrapartidas, e, no entanto, por contraditório que pareça, manter-se
equilibrado, cada um dos lados a dar de si, de forma que incentivando o
parceiro a dar ainda mais. E, sem esquecer que é preciso, em primeiro lugar,
amar a si mesmo, respeitar-se, admirar-se e ter confiança, componentes básicos
do amor.
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