Viver pode ser muito simples, se evitarmos desejar ser o que não somos, mas pode ser mais simples ainda, e mais gratificante, se aprendermos a nos dar um pouco mais, e dialogarmos para sugerir o que buscamos e esperamos uns dos outros. Para isso, temos que admitir nossos instintos e tentar não esconder o lado “animal” que carregamos, o que não quer dizer afrontar com a rudeza, mas aceitar-nos e mostrar-nos como somos, no mais íntimo de nossos sentimentos e reações, expondo todas nossas fragilidades e virtudes.
O tempero do amor, do convívio
contínuo, certamente está na capacidade de inventar, de testar-se e ao outro
com quem vivemos, de redimensionar limites, de romper “compromissos” com
impressões alheias, de fazer valer nossa intimidade, seja onde for que
estejamos. Amar é estabelecer um vínculo de cumplicidade acima de tudo. Amar é
entregar-se a descobertas, de si mesmo e do outro, juntos. Mas, para tornar
isto em realidade, é preciso disposição e mente fértil, além de uma contínua
vontade de proporcionar e desfrutar de felicidade e prazer.
O fascínio pelo sonho de um amor eterno continua presente em homens e mulheres de todo o planeta. Mas, ao contrário do que desejariam os que embarcam no sonho, a união perfeita, com freqüência, dá origem a todo tipo de processos de separação e divórcios, que lotam as varas cíveis e os consultórios de psicólogos e psiquiatras. Como explicar, então, o fato de que os casamentos continuam em alta, ao mesmo tempo em que as estatísticas apontam para um número cada vez maior de separações?
Uniões que duravam para sempre, na geração de nossos avôs, têm vida cada vez mais breve. Falta de intimidade, pouco ou nenhum diálogo, tédio e dificuldades do cotidiano, acabam com as expectativas da felicidade a dois e abrem espaço, muitas vezes, para a chegada da(o) amante. A verdade é que, no complexo universo da vida a dois, existem muito mais mistérios do que supõe nossa vã filosofia. Casais permanecem juntos por conveniências diversas, por medo de tomar uma atitude, ou mesmo por inércia.
Sem emoção e cumplicidade entre os parceiros, o casamento se transforma num contrato a ser cumprido, onde as partes já não se dão ao trabalho de perceber os sentimentos e desejos do outro. Faltam amor e sabedoria na receita desses casamentos, onde os ingredientes colocados na relação não satisfazem às expectativas da vida a dois.
A sociedade
suspeita dos que amam. Há certa postura de desprezo, como se os apaixonados
fossem ingênuos e irrelevantes, um tipo de impostores. Com o passar do tempo,
com a evolução das tecnologias, com o avanço das comunicações e banalização dos
sentimentos, as qualidades do amor, como ternura, compromisso, generosidade,
cuidado e confiança, foram relegadas a um patamar secundário. Como poucos
conseguem crescer no amor, prefere-se o desprezo aos que o conseguem.
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