Tenho boa memória. É fácil recordar-me que aprendi na escola que existiam quatro cores básicas. E isto me foi passado por professores que, para melhor ilustrar suas aulas, falavam dos grandes mestres da pintura. Nos mostravam gravuras destes famosos homens, alguns que haviam vivido muito tempo atrás, E esclareciam que, a partir da junção, da mistura destas - apenas - quatro cores, se chegava a 12 cores distintas. Então, quando queriamos pintar, fazer um trabalho de casa mais caprichado, eramos obrigados a dispor de uma "caixa de lápis de cores".
Mas, a (r)evolução dos costumes e das tecnologias vêm causando estragos nestes conceitos, até então, tão fortemente arraigados em nossa história da civilização. Fui estudar estas mudanças tão drásticas. Descobri que virou moda falar nos tons. E me aprofundei em minhas pesquisas. Percebi então estar por fora da história, já que na origem das artes, se considerarmos a música como referência, existiam o tom maior e o tom menor. Com certo preciosismo, o intermezzo.
Soube que, se consultassem mulheres brasileiras sobre o assunto, as mais ligadas em televisão, menos letradas, ou amantes da risada fácil, citariam o Tom Cavalcanti. Outras, mais voltadas à música, o Tom Zé ou, as mais cultas, mais sofisticadas, o Tom Jobim. Já, para uma grande parte delas, fãs do cinema e das grandes produções, o nome que lhes viria à mente seria do Tom Cruise. E o fariam pronunciando-o, certamente, com um ar de malícia, acompanhado de um suspiro.
Mas, voltemos a tempos remotos. A minhas descobertas sobre o que parece terá sido o ponto de partida do que estamos hoje a assistir. Teria ocorrido uma revolta das telas contra os pintores. Um belo dia, indignada, uma delas teria afirmado ao ser apanhada para o uso: - Olha lá hein! Vê lá o que vai fazer comigo. Sua espátula está meio gasta, você não sabe se gosto de ser pintada começando por cima ou por baixo. Você nunca perguntou a uma de suas telas, se gostaria de ser pintada ás avessas!
E, a partir desta revolucionária, outras foram se manifestando. - Faça a pintura que quiser! Mas saiba que sonho em ser pintada dos dois lados! É isso mesmo! Frente e verso! teria dito, para espanto total do artista. - Quero que comece comigo de cabeça para baixo! - Quero uma pintura a quatro mãos! Trate de conseguir um parceiro! - Seu pincel não está com nada! Quando o aproxima de mim, já não me causa entusiasmo pensar no que vai dar nosso quadro! - Quero que vá devegar, que demore a concluir seu trabalho! diziam algumas. - Você foi rápido demais! Se prestar atenção, esqueceu de detalhes importantes pra mim!
Enfim, a cabeça dos "pintores" começou a dar nó. E as "telas" passaram a exigir cada vez mais. E chegaram os tempos modernos! Surgiram as espátulas e pincéis que elas podiam comprar e se "pintar" por conta própria. Surgiram as "cores" criadas em laboratório. E começaram a surgir até os "pintores" virtuais, mais recentemente. As "telas" já não dependem tanto dos que, até então, julgavam-se os profissionais da arte. De certa forma seu nível de exigência, históricamente não avaliado, veio a se tornar o ponto de partida para uma radical mudança nas "artes".
E, finalmente, há alguns dias, aparece um senhora de um país distante, que resolve colocar mais lenha nesta fogueira! E ela, para nós uma surpresa, já que achamos que as brasileiras é que entendem da "arte" de amar, começa por falar em cinquenta tons! Não é para menos. Vem gerando estragos ainda maiores nas cabeças femininas e masculinas. seu livro é devorado nas salas de estar, nos quartos, nas varandas, e até nas praias. Não há uma faixa etária predominante. Mulheres, dos 20 aos 80 parece que descobriram uma nova enciclopédia. E, mais que isto, um ponto de partida excepcional para sua criatividade, anseios, fantasias e exigências.
Então, temos que parar para repensar a situação. Será que os "pintores" não evoluiram? Será que, ainda hoje, têm esquecido de consultar suas "telas"? Não é chegado o momento de ambos, telas e pintores, sentarem para reavaliarem seu convívio? Senão, vejamos: Leonardo Da Vinci pintou deitado a Capela Sistina. Deitado! Não era um recado para a posteridade. Aonde nós, modernos, deitamos? Predominantemente na cama! Será que o Leonardo fez o que fez imaginando que deixava um alerta importante para todos, homens e mulheres? Quem sabe quisesse dizer que quem gosta de "arte" deve saber usar bem a cama.
E, lógico, como em seu tempo as casas eram mais simples, não havia o sofá da sala de estar, a mesa de madeira indonésia, não havia a rede na varanda, não havia a copa-cozinha, não havia as grandes bancadas dos banheiros, as banheiras de hidromassagem, e outras coisas mais. O progresso trouxe novos ambientes e novas opções. Os "pintores' é que talvez - nem todos - tenham se dado conta disso. E seguem pintando o trivial, o feijão com arroz, quando muito um estrogonofe! Talvez seja a hora de repensarem seus cardápios.
Sentar, trocar idéias, sondar vontades, avaliar fantasias, permitir naturalidade e tempo para traduzir os anseios mais remotos, para muitos, um tipo de "pintura" proibido ainda hoje. Creio firmemente que é preciso diálogo! Repensar o "vamos juntos". Recriar a verdadeira e importante cumplicidade. È bem provável que, partindo deste princípio, todos, mas principalmente as mulheres, estarão satisfeitos e felizes, por vezes, simplesmente "pintando o sete".
Mas, atenção: um sete bem trabalhado, requintado, detalhista, carinhoso, cheio de talento, sem pressa, com muita entrega, de modo que, ao fim da "pintura", tenhamos pela frente uma "tela" que se sinta a dona do ambiente. Quem sabe, assim, elas se contentam com menos de 50 tons? Senão, vamos sair juntos na busca do maior degradée!
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