Sou muito aquilo que não pedi,
fruto de lutas que não vivi,
buscando ver tudo que não vi,
viver o amor que eu não perdi!
Sou um amigo sempre por perto,
calado ouço quem vem a mim.
Já pensei muito, não sei o certo,
sei o que vejo, não sei o fim!
Sou o que posso, não o que quero,
a vida é ingrata, louca a passar,
o tempo é curto para o que espero,
meus olhos pouco pra tudo olhar!
Sou companheiro, faço o possível,
me jogo em tudo, luto com alma.
Dizem que sonho, busco o intangível,
mas não me abalo, mantenho a calma!
Sou soma e subtração de forças e fraquezas,
menino cuja infância é viva e nunca morre.
Um pouco de alegrias. pouco tristezas,
vividas no caminho que percorre!
Sou fraco por dentro, forte por fora,
com sorriso franco, e choro calado.
Preparo o amanhã no que vivo agora,
sarei as feridas, deixei o passado!
Sou dono inarredável, da esperança de buscar,
lutador obstinado, pelo direito de sonhar.`
Precocemente vivido, por cedo muito lutar,
carente na expectativa, de morrer e pouco amar!
Sou quem irá te amparar, se tiveres que sofrer,
aquele que sorrirá, em teu motivo de vibrar.
Sou quem acalentará, suave, teu adormecer,
aquele que adormecerá, depois de te amar!
Sou herói e vilão de um romance sem fim,
sendo pequeno e grande, comum e original.
Não me assusta o trovão, se está em mim,
ainda serei gigante, neste mundo marginal!
terça-feira, 27 de novembro de 2012
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Fórmulas para o Amor?
Não conheço fórmulas
mágicas para o amor! A cada dia vemos mais livros e revistas a falar sobre os “segredos”
para redescobrir-se no amor. A cama, por exemplo, é dividida ou compartilhada?
Se for dividida, nada bom. Compartilhá-la significa “usá-la” em função de algo
bom para os dois. Cama é lugar para se refazer das mazelas da vida. É lugar
para sonhar, não só ao dormir. E este sonho deve ser vivido, desenvolvido a
dois, trabalhado, para que seja melhor a cada dia. E isto não é impossível.
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
A (r)evolução na Arte
Tenho boa memória. É fácil recordar-me que aprendi na escola que existiam quatro cores básicas. E isto me foi passado por professores que, para melhor ilustrar suas aulas, falavam dos grandes mestres da pintura. Nos mostravam gravuras destes famosos homens, alguns que haviam vivido muito tempo atrás, E esclareciam que, a partir da junção, da mistura destas - apenas - quatro cores, se chegava a 12 cores distintas. Então, quando queriamos pintar, fazer um trabalho de casa mais caprichado, eramos obrigados a dispor de uma "caixa de lápis de cores".
Mas, a (r)evolução dos costumes e das tecnologias vêm causando estragos nestes conceitos, até então, tão fortemente arraigados em nossa história da civilização. Fui estudar estas mudanças tão drásticas. Descobri que virou moda falar nos tons. E me aprofundei em minhas pesquisas. Percebi então estar por fora da história, já que na origem das artes, se considerarmos a música como referência, existiam o tom maior e o tom menor. Com certo preciosismo, o intermezzo.
Soube que, se consultassem mulheres brasileiras sobre o assunto, as mais ligadas em televisão, menos letradas, ou amantes da risada fácil, citariam o Tom Cavalcanti. Outras, mais voltadas à música, o Tom Zé ou, as mais cultas, mais sofisticadas, o Tom Jobim. Já, para uma grande parte delas, fãs do cinema e das grandes produções, o nome que lhes viria à mente seria do Tom Cruise. E o fariam pronunciando-o, certamente, com um ar de malícia, acompanhado de um suspiro.
Mas, voltemos a tempos remotos. A minhas descobertas sobre o que parece terá sido o ponto de partida do que estamos hoje a assistir. Teria ocorrido uma revolta das telas contra os pintores. Um belo dia, indignada, uma delas teria afirmado ao ser apanhada para o uso: - Olha lá hein! Vê lá o que vai fazer comigo. Sua espátula está meio gasta, você não sabe se gosto de ser pintada começando por cima ou por baixo. Você nunca perguntou a uma de suas telas, se gostaria de ser pintada ás avessas!
E, a partir desta revolucionária, outras foram se manifestando. - Faça a pintura que quiser! Mas saiba que sonho em ser pintada dos dois lados! É isso mesmo! Frente e verso! teria dito, para espanto total do artista. - Quero que comece comigo de cabeça para baixo! - Quero uma pintura a quatro mãos! Trate de conseguir um parceiro! - Seu pincel não está com nada! Quando o aproxima de mim, já não me causa entusiasmo pensar no que vai dar nosso quadro! - Quero que vá devegar, que demore a concluir seu trabalho! diziam algumas. - Você foi rápido demais! Se prestar atenção, esqueceu de detalhes importantes pra mim!
Enfim, a cabeça dos "pintores" começou a dar nó. E as "telas" passaram a exigir cada vez mais. E chegaram os tempos modernos! Surgiram as espátulas e pincéis que elas podiam comprar e se "pintar" por conta própria. Surgiram as "cores" criadas em laboratório. E começaram a surgir até os "pintores" virtuais, mais recentemente. As "telas" já não dependem tanto dos que, até então, julgavam-se os profissionais da arte. De certa forma seu nível de exigência, históricamente não avaliado, veio a se tornar o ponto de partida para uma radical mudança nas "artes".
E, finalmente, há alguns dias, aparece um senhora de um país distante, que resolve colocar mais lenha nesta fogueira! E ela, para nós uma surpresa, já que achamos que as brasileiras é que entendem da "arte" de amar, começa por falar em cinquenta tons! Não é para menos. Vem gerando estragos ainda maiores nas cabeças femininas e masculinas. seu livro é devorado nas salas de estar, nos quartos, nas varandas, e até nas praias. Não há uma faixa etária predominante. Mulheres, dos 20 aos 80 parece que descobriram uma nova enciclopédia. E, mais que isto, um ponto de partida excepcional para sua criatividade, anseios, fantasias e exigências.
Então, temos que parar para repensar a situação. Será que os "pintores" não evoluiram? Será que, ainda hoje, têm esquecido de consultar suas "telas"? Não é chegado o momento de ambos, telas e pintores, sentarem para reavaliarem seu convívio? Senão, vejamos: Leonardo Da Vinci pintou deitado a Capela Sistina. Deitado! Não era um recado para a posteridade. Aonde nós, modernos, deitamos? Predominantemente na cama! Será que o Leonardo fez o que fez imaginando que deixava um alerta importante para todos, homens e mulheres? Quem sabe quisesse dizer que quem gosta de "arte" deve saber usar bem a cama.
E, lógico, como em seu tempo as casas eram mais simples, não havia o sofá da sala de estar, a mesa de madeira indonésia, não havia a rede na varanda, não havia a copa-cozinha, não havia as grandes bancadas dos banheiros, as banheiras de hidromassagem, e outras coisas mais. O progresso trouxe novos ambientes e novas opções. Os "pintores' é que talvez - nem todos - tenham se dado conta disso. E seguem pintando o trivial, o feijão com arroz, quando muito um estrogonofe! Talvez seja a hora de repensarem seus cardápios.
Sentar, trocar idéias, sondar vontades, avaliar fantasias, permitir naturalidade e tempo para traduzir os anseios mais remotos, para muitos, um tipo de "pintura" proibido ainda hoje. Creio firmemente que é preciso diálogo! Repensar o "vamos juntos". Recriar a verdadeira e importante cumplicidade. È bem provável que, partindo deste princípio, todos, mas principalmente as mulheres, estarão satisfeitos e felizes, por vezes, simplesmente "pintando o sete".
Mas, atenção: um sete bem trabalhado, requintado, detalhista, carinhoso, cheio de talento, sem pressa, com muita entrega, de modo que, ao fim da "pintura", tenhamos pela frente uma "tela" que se sinta a dona do ambiente. Quem sabe, assim, elas se contentam com menos de 50 tons? Senão, vamos sair juntos na busca do maior degradée!
Mas, a (r)evolução dos costumes e das tecnologias vêm causando estragos nestes conceitos, até então, tão fortemente arraigados em nossa história da civilização. Fui estudar estas mudanças tão drásticas. Descobri que virou moda falar nos tons. E me aprofundei em minhas pesquisas. Percebi então estar por fora da história, já que na origem das artes, se considerarmos a música como referência, existiam o tom maior e o tom menor. Com certo preciosismo, o intermezzo.
Soube que, se consultassem mulheres brasileiras sobre o assunto, as mais ligadas em televisão, menos letradas, ou amantes da risada fácil, citariam o Tom Cavalcanti. Outras, mais voltadas à música, o Tom Zé ou, as mais cultas, mais sofisticadas, o Tom Jobim. Já, para uma grande parte delas, fãs do cinema e das grandes produções, o nome que lhes viria à mente seria do Tom Cruise. E o fariam pronunciando-o, certamente, com um ar de malícia, acompanhado de um suspiro.
Mas, voltemos a tempos remotos. A minhas descobertas sobre o que parece terá sido o ponto de partida do que estamos hoje a assistir. Teria ocorrido uma revolta das telas contra os pintores. Um belo dia, indignada, uma delas teria afirmado ao ser apanhada para o uso: - Olha lá hein! Vê lá o que vai fazer comigo. Sua espátula está meio gasta, você não sabe se gosto de ser pintada começando por cima ou por baixo. Você nunca perguntou a uma de suas telas, se gostaria de ser pintada ás avessas!
E, a partir desta revolucionária, outras foram se manifestando. - Faça a pintura que quiser! Mas saiba que sonho em ser pintada dos dois lados! É isso mesmo! Frente e verso! teria dito, para espanto total do artista. - Quero que comece comigo de cabeça para baixo! - Quero uma pintura a quatro mãos! Trate de conseguir um parceiro! - Seu pincel não está com nada! Quando o aproxima de mim, já não me causa entusiasmo pensar no que vai dar nosso quadro! - Quero que vá devegar, que demore a concluir seu trabalho! diziam algumas. - Você foi rápido demais! Se prestar atenção, esqueceu de detalhes importantes pra mim!
Enfim, a cabeça dos "pintores" começou a dar nó. E as "telas" passaram a exigir cada vez mais. E chegaram os tempos modernos! Surgiram as espátulas e pincéis que elas podiam comprar e se "pintar" por conta própria. Surgiram as "cores" criadas em laboratório. E começaram a surgir até os "pintores" virtuais, mais recentemente. As "telas" já não dependem tanto dos que, até então, julgavam-se os profissionais da arte. De certa forma seu nível de exigência, históricamente não avaliado, veio a se tornar o ponto de partida para uma radical mudança nas "artes".
E, finalmente, há alguns dias, aparece um senhora de um país distante, que resolve colocar mais lenha nesta fogueira! E ela, para nós uma surpresa, já que achamos que as brasileiras é que entendem da "arte" de amar, começa por falar em cinquenta tons! Não é para menos. Vem gerando estragos ainda maiores nas cabeças femininas e masculinas. seu livro é devorado nas salas de estar, nos quartos, nas varandas, e até nas praias. Não há uma faixa etária predominante. Mulheres, dos 20 aos 80 parece que descobriram uma nova enciclopédia. E, mais que isto, um ponto de partida excepcional para sua criatividade, anseios, fantasias e exigências.
Então, temos que parar para repensar a situação. Será que os "pintores" não evoluiram? Será que, ainda hoje, têm esquecido de consultar suas "telas"? Não é chegado o momento de ambos, telas e pintores, sentarem para reavaliarem seu convívio? Senão, vejamos: Leonardo Da Vinci pintou deitado a Capela Sistina. Deitado! Não era um recado para a posteridade. Aonde nós, modernos, deitamos? Predominantemente na cama! Será que o Leonardo fez o que fez imaginando que deixava um alerta importante para todos, homens e mulheres? Quem sabe quisesse dizer que quem gosta de "arte" deve saber usar bem a cama.
E, lógico, como em seu tempo as casas eram mais simples, não havia o sofá da sala de estar, a mesa de madeira indonésia, não havia a rede na varanda, não havia a copa-cozinha, não havia as grandes bancadas dos banheiros, as banheiras de hidromassagem, e outras coisas mais. O progresso trouxe novos ambientes e novas opções. Os "pintores' é que talvez - nem todos - tenham se dado conta disso. E seguem pintando o trivial, o feijão com arroz, quando muito um estrogonofe! Talvez seja a hora de repensarem seus cardápios.
Sentar, trocar idéias, sondar vontades, avaliar fantasias, permitir naturalidade e tempo para traduzir os anseios mais remotos, para muitos, um tipo de "pintura" proibido ainda hoje. Creio firmemente que é preciso diálogo! Repensar o "vamos juntos". Recriar a verdadeira e importante cumplicidade. È bem provável que, partindo deste princípio, todos, mas principalmente as mulheres, estarão satisfeitos e felizes, por vezes, simplesmente "pintando o sete".
Mas, atenção: um sete bem trabalhado, requintado, detalhista, carinhoso, cheio de talento, sem pressa, com muita entrega, de modo que, ao fim da "pintura", tenhamos pela frente uma "tela" que se sinta a dona do ambiente. Quem sabe, assim, elas se contentam com menos de 50 tons? Senão, vamos sair juntos na busca do maior degradée!
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Um pouco de mim
A
vida de cada um de nós é uma trajetória específica. Somos a soma de nossas
experiências, sonhos, anseios e amores, resultantes dos caminhos que trilhamos,
dos lugares por onde passamos, das pessoas com que convivemos. Somos todos,
cada de um modo, um filme que traduz alegrias e tristezas, lágrimas e sorrisos,
momentos de ternura ou desconforto. Mas, sem dúvida, acionado por um mecanismo
que muitas vezes foge a nosso controle, o filme vem à tona. Assim é que,
passadas algumas décadas vividas, pai e avô que sou, tendo viajado por todo o
Brasil e boa parte do mundo, tendo trabalhado em diversas atividades, sempre
ligado ao convívio técnico, ou à condução, à formação acadêmica ou
profissional, e à orientação de pessoas, descobri possuir um tesouro. Um raro
tipo de tesouro, fruto de um cacoete pessoal.
Sou
um entre nove irmãos de uma família de origens internacionais, na qual música,
literatura, política e aventura foram ingredientes sempre presentes em nosso
dia a dia. Por parte de mãe, nascida na Argentina, avôs russos, filhos de
russos e alemães. Por parte de pai, brasileiro, avôs também brasileiros,
descendentes de portugueses e franceses, e – de forma mais longínqua – de
ingleses. Minha mãe, Mamita (Mãezinha, em espanhol) para todos, cheia de vida
ainda hoje, em seus muitos anos de lutas, coragem, e desafios, era uma grande
pianista, ampla cultura, uma leitora fervorosa, devoradora de partituras, com a
mesma voracidade que percorria obras e mais obras literárias.
Meu
pai, militar de formação, mas muito cedo ex-militar, advogado, e – mais que
tudo – um revolucionário que lutou no Brasil e no mundo, deixou suas pegadas de
ideal e liberdade por onde passou. Um homem que pagou o pesado preço de
enfrentar o poder e defender direitos universais, sem, no entanto, nunca abrir
mão da dignidade, da ética e da solidariedade. Por outro lado, conviveu, nos
permitindo momentos de proximidade, com grandes homens, como Cândido Portinari,
Jorge Amado, Apolônio Soares de Carvalho, Graciliano Ramos, Luis Carlos
Prestes, Aporelli, o “Barão de Itararé”, Érico Veríssimo, Leonel de Moura
Brizola, além de outros que, na Espanha, durante a Guerra Civil Espanhola,
lutaram ou lá estiveram desempenhando outras atividades.
E,
justamente, a partir desta composição de fatos marcantes, um grande período de
nossas vidas marcado por mudanças de cidades, e de país às vezes, muita
leitura, música, e – em casa, quando reunidos – longas conversas sobre o que
fosse o mundo, com toda a loucura de suas guerras, com toda a loucura dos
tiranos, com todo o sofrimento dos menos favorecidos, foi que surgiu meu
cacoete: colecionar. Nos jornais que meus pais liam, colecionava biografias.
Por cantarmos juntos, com minha mãe ao piano, colecionei letras de música. Ao
começarmos a curtir cinema, colecionei recortes de anúncios dos filmes em
cartaz, tornando-me, muito cedo, um cara que sabia muito de atores e atrizes
que mais atuavam, além de um amante desta arte. Não poucas vezes, já rapazote,
me peguei assistindo mais que um filme em um mesmo dia. Um hábito que custava
caro, mas que deixou em mim indeléveis marcas, em cenas de inesquecíveis
efeitos.
Já trabalhando e ainda estudando, devido ao longo tempo gasto em
deslocamentos de ônibus, chegava a ler um romance em dois ou três dias. E, por
onde andei depois, em constantes passos de minha vida de cigano, profissional
de múltiplas transferências, exercitei o “cantor de banheiro” que existia em
mim. Mas o fiz desfrutando sempre de companhias agradáveis, e algumas famosas,
como Roberto Barradas, Adilson Ramos, e outros, donos de grande sucesso, companheiros
ocasionais de noites infindas de inspiração e saudosismo, como Altemar Dutra,
em Olinda, famoso, mas cheio de simplicidade, como se fosse um simples mortal,
ou Taiguara – que belo amigo, compositor, cantor, e companheiro de lutas em
trabalhos pela solidariedade internacional - mais adiante, eu já morando no Rio
de Janeiro.
Da
mesma forma, tive a honra de dividir microfones em serestas com Claudete Soares
e Tito Madi, cantar, me revezando com Ivon Couri, ou com José Carlos Vinhas ao
piano. Com quanto prazer desfrutei das conversas de fim de noite, no saudoso
Chico’s Bar, na Lagoa, com Carlos Kola, com Cauby Peixoto, Ivan Lins, Zezé Mota
ou Beth Mendes. Com algumas destas personalidades dividimos mais que o momento
fortuito, como com Miéle, apresentando um show de meu primo Victor Biglione,
com quem levei longa conversa no Centro Cultural da Estácio de Sá, na Érico
Veríssimo.
E
esta minha caminhada pela vida, que me apresentou e aproximou de inesperados
amigos, também, por vezes, me afastou destes, ora por dias, ora por semanas ou
meses, e de meus filhos, pais e irmãos, e – também – outros, amigos e
companheiros com que convivi desde criança. Foi a partir destes
distanciamentos, destas despedidas e retornos, que fazem parte da vida de quem
vive intensamente, que passei a colecionar já adulto. Por anos a fio, guardei
cartas, cartões, bilhetes, telegramas, às vezes uma simples folha de papel,
rabiscada sem compromisso, mas que continha o registro de algum belo momento.
Por vezes, mantive em minhas mãos um daqueles cartões em que, com poucas
palavras, se envia flores.
Por vezes uma placa, recebida como homenagem,
entregue por grupos de amigos, ou por colegas de trabalho, quando me desloquei
para novos desafios em outras cidades, ou em uma formatura, de turmas que
ajudei de alguma forma a se graduarem. Fui
descobrindo, ainda com pouca malícia, com quase nada de “instinto de defesa”,
falando franco, sorrindo fácil, que um ambiente de trabalho nem sempre nos
permite sermos exatamente como somos. Exige examinar cada um, descobrir
fraquezas, avaliar reações, entender vaidades, como caminhar em terreno minado.
No
departamento de pessoal, trabalhava Maria Tereza, parte de um grupo de cinco ou
seis componentes. Ainda hoje, depois de tantos anos, me é custoso entender
porque funcionários de uma área como esta, de “recursos humanos”, quase sempre
reagem como de fossem os donos da empresa. Dão a nítida impressão de que é seu
o dinheiro que pagará o aumento de salário, parecem ter prazer quando podem
descontar um dia de trabalho ou aplicar qualquer penalidade, e, na maioria das
vezes, recebem e atendem os demais colegas com frieza, desprezo, má vontade
mesmo. Maria Tereza não se enquadrava nestas características.
Era
educada, olhava nos olhos, falava claro, até sorria! Não era bonita. Vestia-se
e comportava-se como alguém que vai à missa, a Bíblia sob o braço. Mas sempre
nos entendemos muito bem. Escutava-me pacientemente, mesmo quando eu – coisa
até hoje muito minha – entrava em sua sala apenas para dar um bom dia rápido e
contar uma piada. E, diga-se, nem sempre minhas piadas eram “de salão”. Mas
parece que entendia que o que eu queria era provocar o riso, descontrair o
ambiente, tirar o peso que nossas responsabilidades vão colocando sobre nossos
ombros à medida em que assumimos funções de chefia. E que é quando descobrimos
que é muito mais sadio ficar longe do poder.
Conviver
com altos cargos é desafio de vida. Normalmente é o momento em que nos
questionamos se valeu a pena ser competente e lutar para chegar lá. É quando
descobrimos a política, as barganhas, a infidelidade, a falta de dignidade, a
quase inexistência de lealdade, o verdadeiro caráter de cada um. E, é quando
descobrimos que as pessoas vendem a alma ao diabo por muito pouco. O que hoje
se chama de “assédio moral” sempre existiu. E, à época, era exercido muito mais
frontalmente, com total desfaçatez. Não havia líderes, existiam chefes. Ninguém
pedia, mandava. E o faziam, por vezes, sem ter preparo até para mandar. Foi
isto que gerou fortes reações, não só quando fui promovido, mas quando
perceberam que eu comandava minhas equipes através do diálogo, do orientar
constantemente, do mostrar os caminhos, e de andar junto.
(segue em "Um pouco de mim II)
sábado, 17 de novembro de 2012
Mãos
Mãos que acenam, que encenam, que te atentam, que tentam.
Mãos que te tocam, provocam, te acodem, não se comovem.
Mão que buscam, te rebuscam, em teu corpo não recuam.
Mãos que te assaltam, te alisam, e te apalpam, te realizam.
Mãos que procuram encantos, se acalmam em teus recantos.
Mão que penetram, escorrem, te desnudam, mãos de homem.
Mãos que te privam da dor, toda hora dão-te amor.
Mãos que matam sem morrer, e que só te dão prazer.
Mãos que em teu gozo padecem, pouco a pouco te adormecem.
Mãos que tranquilas, serenas, passam tuas curvas amenas.
Mãos marcadas, fortes rugas, cheias de vida, não fugas.
Duas mãos, mãos mundanas. As minhas mãos... humanas!
Mãos que te tocam, provocam, te acodem, não se comovem.
Mão que buscam, te rebuscam, em teu corpo não recuam.
Mãos que te assaltam, te alisam, e te apalpam, te realizam.
Mãos que procuram encantos, se acalmam em teus recantos.
Mão que penetram, escorrem, te desnudam, mãos de homem.
Mãos que te privam da dor, toda hora dão-te amor.
Mãos que matam sem morrer, e que só te dão prazer.
Mãos que em teu gozo padecem, pouco a pouco te adormecem.
Mãos que tranquilas, serenas, passam tuas curvas amenas.
Mãos marcadas, fortes rugas, cheias de vida, não fugas.
Duas mãos, mãos mundanas. As minhas mãos... humanas!
Amar também é ajudar
Dar e receber faz parte de qualquer relacionamento. É natural do ser
humano a alegria de ofertar algo, desde a mais tenra idade à mais avançada. É
prazeroso fazê-lo. Mas este hábito, que não permite cobranças, exige retribuição.
A felicidade de proporcionar o bem não envelhece, mas se for mal entendida, ou
não retribuída, pode cansar. Há, entretanto, hábitos de nossa sociedade, que
induzem a mais valorizar as coisas do que seu significado. Por acaso não é
assim que se encara, às vezes, um presente de natal ou de aniversário?
Criou-se tal tipo de expectativa, que o gesto de presentear perde valor.
Porque não nos presentearmos sempre? Com atitudes, que às vezes valem mais que
mil presentes? Com palavras, que podem ajudar muito mais que algo material?
Porque esperar por dias específicos? Será que é nestes dias que cada um mais
necessita de atenção e carinho? E porque as pessoas têm tanta dificuldade em
receber? Porque se constrangem ao tentar demonstrar a alegria e a gratidão que
lhes toma conta?
Quem dá com amor, um presente valioso ou apenas um gesto ou um elogio
sincero, sente-se recompensado quando percebe que aquilo foi recebido com o
mesmo espírito. Assim como ouvir é parte muito grande da arte de se comunicar,
receber com alegria, com sensibilidade, com vibração, é uma forma de dar
também. Não basta pensar em “como devo fazer”? Não basta ser comum, no
“obrigado” ou no “fiquei feliz”. É preciso demonstrar isso, em suas feições, em
suas reações, em seu todo.
Aprendemos que o amor só é amor quando dado sem cobranças. Mas bem
sabemos que ao dar geramos em nós mesmos a expectativa de receber. Amar é
compartilhar o que temos, seja carinho, conhecimento, descobertas, crescimento,
mas, acima de tudo, tentar estabelecer um equilíbrio nas concessões feitas, que
nos conduza a permanecer juntos. Cada ato isolado, onde e quando acontecer, que
carregue bondade, compreensão, entendimento e apoio, irá contagiar de alegria
quem o percebe, transmitindo generosidade, e ajudando a educar para o amor
verdadeiro.
Ser positivo, manter esperanças, acreditar, é uma forma de buscar e obter
inspiração, que só ajuda todos a saírem de si mesmos. E é preciso vencer as
desconfianças natas. Nem todos recebem com naturalidade aquilo que lhe
ofertamos. Pessoas suspeitam do que julgam não merecer. Como se aceitar as
comprometesse. Alguns vivem constantemente em guarda, em uma sociedade em que
desprendimento e generosidade não são o mais comum. Negar-se a receber é uma
postura de defesa. É preciso saber superar a rejeição, contornar o ceticismo,
tentando mostrar que o amor é algo gratuito, ainda que extremamente valioso.
Ajudar é uma das coisas mais recompensadoras. Quem ajuda, é ajudado a
ajudar mais. Mas é preciso educar através da ajuda. No amor, como nas demais
coisas da vida, só ajudar pode levar a estabelecer fardos a carregar. Não basta
fazer, cada um, a sua parte. Há que se indicar caminhos, mostrar soluções,
abrir frentes, para que cada um aprenda a caminhar com as próprias pernas.
Sempre existirão necessidades. A visão de dar não deve ser estreita. Um olhar
atento, uma orientação, umas poucas palavras, podem ajudar mais que muito dinheiro.
O importante não é ser visível na ajuda, mas que os seus resultados
possam ser notados. Ouvir quem necessita desabafar pode significar uma ajuda
inestimável. Demonstrar compreensão, auxiliar com postura paciente, não
prejulgar, colocar seu tempo à disposição de quem necessita de sua presença,
são formas inequívocas de comprovar amor. E o amor assim o é, quando dado,
quando demonstrado em atos de carinho. Sem isso, não passará de uma mera
concepção abstrata, uma palavra apenas, cuja pronúncia perderá seu real
significado
quinta-feira, 15 de novembro de 2012
Você
Publicada no Diário de Notícias de Porto Alegre, no domingo, dia 8 de julho de 1973
“Vi você chegar. Chegou tranqüilo, cara limpa, povoada de sonhos, mãos vazias, prontas para dar carinho. Hoje penso em você,
momento pequeno, que, sentido de mágoa, ficou presente.
momento pequeno, que, sentido de mágoa, ficou presente.
Vi você, olhos abertos, boca fechada em sorriso proibido. Vi você passar tranqüilo, partindo, feliz. Vi você partir.
Momento pequeno que marcou sua presença. Momento feito de rir. Vi você apanhar a pasta cheia de frases tão suas. E
caminhamos juntos por algum tempo, agora com um pouco mais de coragem, e nos demos as mãos.
caminhamos juntos por algum tempo, agora com um pouco mais de coragem, e nos demos as mãos.
Vi você partir, levando muito de mim, com a certeza de passagem cumprida.
E fiquei com um pouco de você, no olhar ausente, na boca aberta de sorriso amargo, nas mãos trêmulas, de quem acena retendo
a vontade de prender. Na tensão de quem não acredita na despedida até que ela exista. Na lágrima que corre incontida. Na
esperança de ser tudo um sonho apenas.
a vontade de prender. Na tensão de quem não acredita na despedida até que ela exista. Na lágrima que corre incontida. Na
esperança de ser tudo um sonho apenas.
Na esperança de acordar e ver você... de cara limpa, povoada de sonhos... olhos abertos, boca fechada em sorriso proibido. Mas
fiquei parada, estática, muda, inerte... vendo você apanhar sua pasta e partir. “
fiquei parada, estática, muda, inerte... vendo você apanhar sua pasta e partir. “
Lembranças
(de autor desconhecido)
“Eu havia esquecido. Juro que havia esquecido. Você não estava mais presente em minhas lembranças. Nem mesmo em um esforço maior conseguiria trazer de volta este pedaço de nosso passado. Mas hoje, ao folhar o velho caderno de notas, onde amigos e colegas escreviam, assim, de modo um tanto pueril, dedicatórias, versos ou frases soltas, encontrei uma pétala de rosa. Aquela que você me dera como lembrança do dia em que nossas mãos se tocaram vez primeira, em furtivo gesto adolescente. E, olhos nos olhos, como a declarar o amor que ainda não conheciamos, a arrancou da rosa que eu lhe ofertara, e – depois de beijá-la – a depositou entre as folhas de meu caderno. Caderno que fechei, enlevado e momentaneamente apaixonado, como que a explodir por dentro, fruto do sentimento correspondido.
Eu havia esquecido. Juro que havia esquecido. Nem mesmo um pedacinho de você me vinha às lembranças que carreguei de minha infância pela vida afora. Mas ali, tantos anos depois, naquela pétala de rosa, seca pelo tempo, entre as páginas do velho caderno, você voltou. Forte, imagens muito vivas, cores, e emoções. E lembrei você, blusa branca, saia azul plissada, balançando ao vento suave que soprava, sapatos negros, com meias brancas que cobriam suas pernas até os joelhos. E, esperando por mim, parada à porta da escola, me disse amuada: - Você demorou. Pensei que não viesse mais!
Dias lindos! Dias de sonhos, dias de coração disparando a cada vez que nos falávamos. Dias que passaram, e que o tempo foi diluindo em esparsas recordações. Recordações que estavam enterradas nas profundezas de meu ser. Mas que, hoje, ao abrir o velho caderno, voltaram cheias de vida, e tomaram conta de mim. Trazidas por... apenas uma pétala de rosa.”
terça-feira, 13 de novembro de 2012
O amor pode ser melhor
Sua relação ainda possui encantamento?
Como quando haviam se conhecido há pouco, que bastava um olhar, tirar uma peça
de roupa, um gesto ou afago, para causar excitação? Ou estão vivendo uma fase
em que isto já não faz parte do dia a dia? Parece que o tempo “acomodou” os
dois? Que já não basta estarem próximos para ter vontade de ficar mais perto?
Em certa medida tudo isto é normal, pois a fase de paixão, de estarem
fascinados um pelo outro, vai ficando de lado com o convívio. Mas não há porque
permitir que se estabeleça uma rotina de falta de entusiasmo e de atração.
Não devemos ouvir os mais céticos. Amor
e ceticismo não são parceiros saudáveis. Lembre-se que, se ocorrer uma situação
em que um dos dois sinta medo de estar a perder o outro, o ciúme aflora! Admitir
que não nos vemos mais da mesma forma, mas que percebemos que outros observam
nosso(a) parceiro(a) com olhos gulosos e isto gera reação, é admitir que se ama
e se está esquecendo de algo. Estas impressões, que poucos gostam de admitir,
são a comprovação de que se sente. Então, antes que a reação de terceiros
comece a causar embaraços, vamos nós reagir, buscar as origens de nossas
falhas, os motivos do marasmo que permitimos se estabelecer.
Não há “culpados” no amor. Não temos
que buscar no tempo as justificativas para o descaso. A vida é, de fato, algo
que dirige nossas atenções a tantos tipos de preocupações, que temos, todos,
tendência a “esquecer” de demonstrar o amor e a sensualidade. Quanto tempo faz
que vocês não viajam sós? Uma viagem para restabelecer a cumplicidade, para se
curtirem juntos, para se permitirem “esquecer do mundo lá fora”? Para voltar a
sentir a magia e o prazer de curtir-se mais.
Não há fórmulas mágicas. A cada dia
vemos mais livros e revistas a falar sobre os “segredos” para redescobrir-se no
amor. A cama, por exemplo, é dividida ou compartilhada? Se for dividida, nada
bom. Compartilhá-la significa “usá-la” em função de algo bom para os dois. Cama
é lugar para se refazer das mazelas da vida. É lugar para sonhar, não só ao
dormir. E este sonho deve ser vivido, desenvolvido a dois, trabalhado, para que
seja melhor a cada dia. E isto não é impossível.
Não sem motivo, a cama é lugar de
intimidade. Ser íntimo é reconhecer no outro suas necessidades, não só do sexo,
mas da vida como um todo. Ser intimo é possuir sintonia, sentir o bem-estar ou
o mal-estar do outro. Ser íntimo é estabelecer uma troca contínua de energia
positiva. Ser íntimo envolve fazer sexo, mas não apenas isso, como fazê-lo com
prazer e com a preocupação de proporcionar prazer ao outro. O gozo solitário
não é um ato de amor.
Amar pressupõe entrega, que é abdicar
de suas reivindicações. Porque no amor, a melhor forma de reivindicar é levar o
parceiro a perceber e entender nossos gostos e anseios através do que lhe ofertamos.
Da mesma forma que ensinamos a criança a beijar, beijando-a, ensinamos e
sugerimos ao nosso parceiro aquilo que gostamos, praticando nele o que
desejamos que pratique em nós.
Ao momento em que cada um se libera e demonstra seu gostar,
naturalmente se estabelece um “diálogo”, em que, através de atitudes, você se
expressa, comunicando “veja bem, é assim que eu gosto”, “é desta forma que você
pode me agradar também”, “é este o caminho para meu prazer”, “assim você
consegue que eu me libere e me entregue”.
Então, não olhemos, um para o outro,
com os olhos voltados ao “passado, que era tão bom”. Ninguém vive de emoções já
vividas. Relembrá-las, neste caso, só ajudará a criar mágoas e não é o que se
deseja. É preciso romper com esta mesmice estabelecida, e permitida por ambos!
Nada de novo vai acontecer se ambos ficarem a esperar um pelo outro. Temos que
buscar recuperar o ardor! Reacender as paixões.
A mulher deve cultivar sua beleza (que não é só física), intuição,
carinho, afeto e ternura. O homem, buscar o cavalheirismo, determinação,
iniciativa, atenção e coragem.
A intuição feminina, aliada à coragem
masculina, vai gerar resultados que trazem novas e encantadoras descobertas.
Ainda que, por vezes, por questões de características pessoais, estes possam se
inverter. Nada impede que o homem use sua intuição, e que a mulher deva reagir
cheia de coragem. O importante é que encontrem o caminho para retomar o amor em
toda sua plenitude. Trata-se de recompor a paixão e buscar o êxtase. Mistério,
aventura e assombro, a imaginação, e novos desafios são componentes sutis desta
busca, que se mescla em tocar e ser tocado, ver e ser visto, fazer e permitir
que o façam conosco, dar carinho e receber carinho, provocar e ser provocado.
Divagando sobre Amor e Vida (II)
É fundamental entender que,quando uma união se rompe, não há um culpado.
Ambos terão falhado. Por excesso ou por omissão, por exagero ou por esconder
sentimentos, por exasperar-se ou por manter-se acanhado, por intolerância ou
por tolerar em demasia, mas, consciente ou inconscientemente, ambos são
responsáveis. E, na maioria das vezes, a dor se baseia no fato de percebermos a
culpa que nos cabe. Então, a figura de vítima inocente não é aceitável
totalmente. Mais simples, e um caminho mais curto para a cura, será amainar a
fúria e sarar feridas, admitindo que não somos donos de ninguém, e que não
temos como controlar sentimentos,além dos nossos.
O mais provável é que estas insuportáveis dores, causadas pelo
afastamento, tenham origem em ressentimentos acumulados ao longo de uma vida.
Provocam rugas, amargura e suspeitas. Mas, mais que aos outros, ferem a quem as
alimenta. Não vivemos em um mundo de perfeição, de plena justiça, de belo
entendimento. Ainda assim, o mais sadio é perdoar, tentar entender, e, com o
passar do tempo, recuperar a auto-estima e a alegria de viver. E tentar ter a
certeza de, enquanto durou a união, ter feito o melhor e tudo que lhe foi
possível, para mantê-la. Porque, como se disse antes, a vida continua!
Evitar que isto ocorra, apegando-se a qualquer motivo, é lutar contra a
ordem natural da natureza. Esta é sábia e nos ensina. Uma árvore, quando não
podada, muitas vezes se fragiliza, devido ao crescimento desordenado. Se uma
tempestade lhe quebra alguns galhos, outros surgirão breve. E se uma parasita
lhe toma conta, quando sua seiva lhe serve de alimento, um dia ficará frágil e
não sobreviverá. Ninguém suporta carregar o outro por muito tempo ou por toda a
vida.
Se existe uma fonte de água, mesmo frágil, quase imperceptível, que brota
naturalmente, e lhe cobrimos a saída, a força da água acumulada, um dia,
provocará uma enxurrada. Não há que se agredir a ninguém, nem antes, nem
durante, nem depois de uma união. Basta entendermos que se é cativo daquele que
nos merece. Quando nos libertamos da servidão, estamos prontos para amar de
novo, mais sábios, mais fortes, e mais inteiros.
E, quando este momento chegar, tenhamos consciência de que cada pessoa
expressa seu amor de uma forma, a seu modo, nos limites de sua percepção e
capacidade, nem sempre com a mesma efusão, mas relacionado às próprias
necessidades e descobertas. Será certamente, esta exclusividade, que faz o amor
esta força poderosa e cheia de mistério, mas, sem dúvida, a mais durável e
motivadora na vida de todos.
Amar é querer que sejamos o que somos, ainda que possamos melhorar. Amar
é alegrar-se com o crescimento de quem se ama, sem desejar que se torne igual a
nós. Amar é incentivar idéias, sonhos, individualidade e futuro. Amar é andar
junto pelo prazer de se acompanhar, sem obrigações e sem cobranças. Quem ama
simplifica a existência do outro, não por eliminar ou evitar as dores, mas por
estar junto de nós quando estas se aproximam.
Amar
é incentivar a coragem de enfrentar riscos, porque nos arriscando estamos a
buscar crescimento. Amar não é nos esconder das verdades, mas ajudar-nos a
entendê-las e enfrentá-las. Amar é ajudar a encontrar alternativas para nossos
comportamentos, alegrando-se com nosso sucesso e confortando-nos quando
fracassamos. Quem ama não é apenas amante, mas amigo, companheiro, fiel e
disposto a assimilar nossas imperfeições.
Cada um de nós encara o amor e as expectativas que tem dele de uma
forma. Muitos são os que necessitam ouvir “eu te amo” todos os dias, todas as
horas. Já, para outros, mais que as palavras valem um olhar, um gesto, uma
atitude, uma comunicação silenciosa. Alguns, mais movidos pela paixão, vivem
valorizando atitudes calorosas, demonstrações públicas. Outros encontram
vibração nos momentos mais íntimos. Não importa, na verdade, como cada um
expressa o amor, vez que é algo livre, mas sim que o sinta de fato e seja
autêntico em suas reações.
Não devemos tentar definir o amor. Melhor encará-lo como algo no
qual crescemos juntos com quem amamos e nos ama. Não pode estar limitado por
palavras ou exigências. Como é sempre composto por dois lados, precisa ser
livre e forte, brotar sem esforço e sem limites, não exigir horários e
contrapartidas, e, no entanto, por contraditório que pareça, manter-se
equilibrado, cada um dos lados a dar de si, de forma que incentivando o
parceiro a dar ainda mais. E, sem esquecer que é preciso, em primeiro lugar,
amar a si mesmo, respeitar-se, admirar-se e ter confiança, componentes básicos
do amor.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Coisas que (normalmente) agradam às Mulheres
1 - Você se lembra de, ao sair, ou chegar, dar um beijo em sua mulher? Não importa se vai sair de casa para demorar muito ou pouco, se voltou de um dia de trabalho, ou de uma ida ao supermercado. Beije-a. O gesto de carinho vale mais que mil palavras.
2 - Você viajou a trabalho. Passou dois dias ou uma semana fora. Não importa quanto tempo ficou ausente. Mas, lembrou-se dela? Trouxe-lhe algum mimo? Pode ser algo de pouco valor monetário, mas uma prova de que pensou nela. No entanto, que não seja um liquidificador ou uma panela. Que seja algo para que ela use!
3 - Você acordou antes que ela no domingo. Custa-lhe muito adiantar o café da manhã? E prepará-lo, de preferência, com algum componente que a agrade mais? Uma torrada, um tipo de queijo, uma fruta, qualquer coisa que lhe indique que o café foi preparado com o pensamento nela, querendo agradá-la. Ela se sentirá valorizada e cheia de carinho.
4 - Você lembrou-se do aniversário de casamento? O que fez para agradá-la? E do aniversário de namoro? Não lembra de que dia começaram? Porque não presenteá-la neste dia? E convidá-la a tomar um vinho, ou a jantar fora? E demonstrar que a data é importante para você? Tanto é, que você faz questão de festejá-la.
5 - Leve flores para sua mulher. Não há dia nem hora marcada para isso. Flores demonstram carinho, e se forem vermelhas, paixão. Por vezes representam mais que um bom presente. Se puder preparar um cartão com palavras certas, melhor ainda. E ela estará sentindo-se amada!
6 - Ande com o braço sobre o ombro de sua companheira quando esteja a caminhar com ela. Isto o obriga a vir “depois dela”, o que permite que esteja a “ver” qualquer coisa que possa ameaçá-la. Demonstra carinho e atenção, pois a faz sentir-se protegida.
7 - Quando fizerem compras, empurre o carrinho. E, ao encerrar as compras, carregue os pacotes mais pesados, seja para colocá-los ou retirá-los do carro, seja para descarregá-los e levá-los para casa. Da mesma forma, quando houver em casa um trabalho que exija força, ou que possa machucar as mãos, faça-o você. Comprove que se preocupa com ela.
8 - Ao entrar em casa, no carro, em um restaurante ou cinema, faça-a passar á sua frente. É cortês, inspira educação e proteção, além de comprovar que você é um cavalheiro. E, quando for subir no automóvel, espere-a entrar, sentar-se e feche a porta, para depois dar a volta e entrar você também.
9 - Há quanto tempo você não a convida para irem dançar um pouco? Não para ir a um lugar barulhento, mas a algum lugar que sugira romantismo, que lhes permita “namorar” um pouco? E, se a convidou, tentou mostrar-se romântico? Ou ousado, mais do que normal? Tentou beijá-la, abraçá-la, apalpá-la? Mulheres, predominantemente, gostam disso, ainda que pouco o falem. Às vezes o desejam, mas sentem receio de parecerem piegas ao demonstrarem.
10 - E, ao voltarem para casa, sugeriu massagear-lhe os pés, ou o corpo todo? Há algo melhor e mais excitante do que poder massagear o corpo de uma mulher? Há recantos preferenciais, onde poderemos nos deter mais um pouco, provocando-a. E, até por “comodidade”, valerá a pena tirar a roupa (já que ela estará mesmo sem a sua). Aí, caiu a mosca no mel!
domingo, 11 de novembro de 2012
Divagando sobre Vida e Amor (II)
É fundamental entender que, quando uma união se rompe, não há um culpado.
Ambos terão falhado. Por excesso ou por omissão, por exagero ou por esconder
sentimentos, por exasperar-se ou por manter-se acanhado, por intolerância ou
por tolerar em demasia, mas, consciente ou inconscientemente, ambos são
responsáveis. E, na maioria das vezes, a dor se baseia no fato de percebermos a
culpa que nos cabe. Então, a figura de vítima inocente não é aceitável
totalmente. Mais simples, e um caminho mais curto para a cura, será amainar a
fúria e sarar feridas, admitindo que não somos donos de ninguém, e que não
temos como controlar sentimentos,além dos nossos.
O mais provável é que estas insuportáveis dores, causadas pelo
afastamento, tenham origem em ressentimentos acumulados ao longo de uma vida.
Provocam rugas, amargura e suspeitas. Mas, mais que aos outros, ferem a quem as
alimenta. Não vivemos em um mundo de perfeição, de plena justiça, de belo
entendimento. Ainda assim, o mais sadio é perdoar, tentar entender, e, com o
passar do tempo, recuperar a auto-estima e a alegria de viver. E tentar ter a
certeza de, enquanto durou a união, ter feito o melhor e tudo que lhe foi
possível, para mantê-la. Porque, como se disse antes, a vida continua!
Evitar que isto ocorra, apegando-se a qualquer motivo, é lutar contra a
ordem natural da natureza. Esta é sábia e nos ensina. Uma árvore, quando não
podada, muitas vezes se fragiliza, devido ao crescimento desordenado. Se uma
tempestade lhe quebra alguns galhos, outros surgirão breve. E se uma parasita
lhe toma conta, quando sua seiva lhe serve de alimento, um dia ficará frágil e
não sobreviverá. Ninguém suporta carregar o outro por muito tempo ou por toda a
vida.
Se existe uma fonte de água, mesmo frágil, quase imperceptível, que brota
naturalmente, e lhe cobrimos a saída, a força da água acumulada, um dia,
provocará uma enxurrada. Não há que se agredir a ninguém, nem antes, nem
durante, nem depois de uma união. Basta entendermos que se é cativo daquele que
nos merece. Quando nos libertamos da servidão, estamos prontos para amar de
novo, mais sábios, mais fortes, e mais inteiros.
E, quando este momento chegar, tenhamos consciência de que cada pessoa
expressa seu amor de uma forma, a seu modo, nos limites de sua percepção e
capacidade, nem sempre com a mesma efusão, mas relacionado às próprias
necessidades e descobertas. Será certamente, esta exclusividade, que faz o amor
esta força poderosa e cheia de mistério, mas, sem dúvida, a mais durável e
motivadora na vida de todos.
Amar é querer que sejamos o que somos, ainda que possamos melhorar. Amar
é alegrar-se com o crescimento de quem se ama, sem desejar que se torne igual a
nós. Amar é incentivar idéias, sonhos, individualidade e futuro. Amar é andar
junto pelo prazer de se acompanhar, sem obrigações e sem cobranças. Quem ama
simplifica a existência do outro, não por eliminar ou evitar as dores, mas por
estar junto de nós quando estas se aproximam.
Amar
é incentivar a coragem de enfrentar riscos, porque nos arriscando estamos a
buscar crescimento. Amar não é nos esconder das verdades, mas ajudar-nos a
entendê-las e enfrentá-las. Amar é ajudar a encontrar alternativas para nossos
comportamentos, alegrando-se com nosso sucesso e confortando-nos quando
fracassamos. Quem ama não é apenas amante, mas amigo, companheiro, fiel e
disposto a assimilar nossas imperfeições.
Cada um de nós encara o amor e as expectativas que tem dele de uma
forma. Muitos são os que necessitam ouvir “eu te amo” todos os dias, todas as
horas. Já, para outros, mais que as palavras valem um olhar, um gesto, uma
atitude, uma comunicação silenciosa. Alguns, mais movidos pela paixão, vivem
valorizando atitudes calorosas, demonstrações públicas. Outros encontram
vibração nos momentos mais íntimos. Não importa, na verdade, como cada um
expressa o amor, vez que é algo livre, mas sim que o sinta de fato e seja
autêntico em suas reações.
Não devemos tentar definir o amor. Melhor encará-lo como algo no
qual crescemos juntos com quem amamos e nos ama. Não pode estar limitado por
palavras ou exigências. Como é sempre composto por dois lados, precisa ser
livre e forte, brotar sem esforço e sem limites, não exigir horários e
contrapartidas, e, no entanto, por contraditório que pareça, manter-se
equilibrado, cada um dos lados a dar de si, de forma que incentivando o
parceiro a dar ainda mais. E, sem esquecer que é preciso, em primeiro lugar,
amar a si mesmo, respeitar-se, admirar-se e ter confiança, componentes básicos
do amor.
sábado, 10 de novembro de 2012
Divagando sobre Vida e Amor
Os grandes
destaques dos noticiários são as estatísticas de mortos, em guerras
convencionais, ou no dia-a-dia de nossas cidades. Defrontamo-nos com a fome,
com a desnutrição, as agressões à natureza, e a formação de riquezas cada vez
mais desproporcionais aos esforços efetuados para dar mínimas condições de
dignidade aos menos privilegiados. Condicionamo-nos à gradativa destruição do
potencial humano, esquecendo que o amor é uma alternativa possível.
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Eu, Ave
(escrito em 1975)
Nasci com asas, as fiz crescer. Vivi a vida sem aprender!
Fugi da guerra, busquei a paz. Sai da terra, tornei-me audaz!
Subi nos ventos até as alturas, olhei de cima só vi agruras.
Andei na chuva, corri no sol, cai das nuvens, sofri no frio.
Mas vôo sempre, pra não fazer, de minha vida um mal querer!
De olhos firmes, encaro a luz. De peito aberto, choro a sorrir.
Não fique triste, não tenha ciúmes, não sinta medo de meu viver!
Se penso alto, encaro a vida, apenas busco o que há de vir!
Em águas vivas servi de anzol. Fisguei a pólvora de um paiol.
Fui explosivo, mas vida ensina, tornei-me águia, ave de rapina.
Não fique triste, não tenha ciúmes, não sinta medo de meu olhar.
Se luto muito, se tento sempre, é porque tenho muito pra dar!
Me sinto leve, plano no ar. Sou qual gaivota, vivo a sonhar!
Não fique triste, não tenha ciúmes, não tenha medo de meu flanar.
Se deixo a brisa a me levar, é porque tento saber amar.
Andei, sonhei, eu ia e vinha. Um dia acordei, era andorinha.
Por vezes frágil, nos desamores, perdi altura, profundas dores!
Me olhei por dentro, coragem vi. Forte e tranquilo me descobri.
Não fique triste, não tenha ciúmes, não sinta medo de meu voar.
Eu, simplesmente, pensei poder, viver a vida a bem querer!
Um dia cheguei, voltei pra cá. Pousei solene! Virei sabiá.
Homem, menino, lúcido, ativo, busquei da vida não ser cativo.
Não fique triste, não tenha ciúmes, não sinta medo de meu cantar!
Eu, tristemente, pensei tentar, com meu amor te reanimar!
Me vendo inútil fujo daqui. Buscarei flores, sou colibrí.
Vou para longe, não me verás. Mas olha em volta, me encontrarás!
,Em cada amigo, em cada esquina, ficará parte de minha paz!
Nasci com asas, as fiz crescer. Vivi a vida sem aprender!
Fugi da guerra, busquei a paz. Sai da terra, tornei-me audaz!
Subi nos ventos até as alturas, olhei de cima só vi agruras.
Andei na chuva, corri no sol, cai das nuvens, sofri no frio.
Mas vôo sempre, pra não fazer, de minha vida um mal querer!
De olhos firmes, encaro a luz. De peito aberto, choro a sorrir.
Não fique triste, não tenha ciúmes, não sinta medo de meu viver!
Se penso alto, encaro a vida, apenas busco o que há de vir!
Em águas vivas servi de anzol. Fisguei a pólvora de um paiol.
Fui explosivo, mas vida ensina, tornei-me águia, ave de rapina.
Não fique triste, não tenha ciúmes, não sinta medo de meu olhar.
Se luto muito, se tento sempre, é porque tenho muito pra dar!
Me sinto leve, plano no ar. Sou qual gaivota, vivo a sonhar!
Não fique triste, não tenha ciúmes, não tenha medo de meu flanar.
Se deixo a brisa a me levar, é porque tento saber amar.
Andei, sonhei, eu ia e vinha. Um dia acordei, era andorinha.
Por vezes frágil, nos desamores, perdi altura, profundas dores!
Me olhei por dentro, coragem vi. Forte e tranquilo me descobri.
Não fique triste, não tenha ciúmes, não sinta medo de meu voar.
Eu, simplesmente, pensei poder, viver a vida a bem querer!
Um dia cheguei, voltei pra cá. Pousei solene! Virei sabiá.
Homem, menino, lúcido, ativo, busquei da vida não ser cativo.
Não fique triste, não tenha ciúmes, não sinta medo de meu cantar!
Eu, tristemente, pensei tentar, com meu amor te reanimar!
Me vendo inútil fujo daqui. Buscarei flores, sou colibrí.
Vou para longe, não me verás. Mas olha em volta, me encontrarás!
,Em cada amigo, em cada esquina, ficará parte de minha paz!
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Divagando sobre o Amor (II)
”Amar é dar, à pessoa amada, condições
de realizar todo seu potencial como ser humano, confiando, amando e respeitando
seus talentos, sonhos e fantasias.” Será necessário recobrar a confiança e a
naturalidade, restabelecer a harmonia. Será preciso que voltemos todos a
desfrutar de autenticidade, a assumir nossas partes mais singelas, mais
espontâneas, admitindo nossas carências e buscando completar-nos.
Viver pode ser muito simples, se evitarmos desejar ser o que não somos, mas pode ser mais simples ainda, e mais gratificante, se aprendermos a nos dar um pouco mais, e dialogarmos para sugerir o que buscamos e esperamos uns dos outros. Para isso, temos que admitir nossos instintos e tentar não esconder o lado “animal” que carregamos, o que não quer dizer afrontar com a rudeza, mas aceitar-nos e mostrar-nos como somos, no mais íntimo de nossos sentimentos e reações, expondo todas nossas fragilidades e virtudes.
O fascínio pelo sonho de um amor eterno continua presente em homens e mulheres de todo o planeta. Mas, ao contrário do que desejariam os que embarcam no sonho, a união perfeita, com freqüência, dá origem a todo tipo de processos de separação e divórcios, que lotam as varas cíveis e os consultórios de psicólogos e psiquiatras. Como explicar, então, o fato de que os casamentos continuam em alta, ao mesmo tempo em que as estatísticas apontam para um número cada vez maior de separações?
Uniões que duravam para sempre, na geração de nossos avôs, têm vida cada vez mais breve. Falta de intimidade, pouco ou nenhum diálogo, tédio e dificuldades do cotidiano, acabam com as expectativas da felicidade a dois e abrem espaço, muitas vezes, para a chegada da(o) amante. A verdade é que, no complexo universo da vida a dois, existem muito mais mistérios do que supõe nossa vã filosofia. Casais permanecem juntos por conveniências diversas, por medo de tomar uma atitude, ou mesmo por inércia.
Sem emoção e cumplicidade entre os parceiros, o casamento se transforma num contrato a ser cumprido, onde as partes já não se dão ao trabalho de perceber os sentimentos e desejos do outro. Faltam amor e sabedoria na receita desses casamentos, onde os ingredientes colocados na relação não satisfazem às expectativas da vida a dois.
Viver pode ser muito simples, se evitarmos desejar ser o que não somos, mas pode ser mais simples ainda, e mais gratificante, se aprendermos a nos dar um pouco mais, e dialogarmos para sugerir o que buscamos e esperamos uns dos outros. Para isso, temos que admitir nossos instintos e tentar não esconder o lado “animal” que carregamos, o que não quer dizer afrontar com a rudeza, mas aceitar-nos e mostrar-nos como somos, no mais íntimo de nossos sentimentos e reações, expondo todas nossas fragilidades e virtudes.
O tempero do amor, do convívio
contínuo, certamente está na capacidade de inventar, de testar-se e ao outro
com quem vivemos, de redimensionar limites, de romper “compromissos” com
impressões alheias, de fazer valer nossa intimidade, seja onde for que
estejamos. Amar é estabelecer um vínculo de cumplicidade acima de tudo. Amar é
entregar-se a descobertas, de si mesmo e do outro, juntos. Mas, para tornar
isto em realidade, é preciso disposição e mente fértil, além de uma contínua
vontade de proporcionar e desfrutar de felicidade e prazer.
O fascínio pelo sonho de um amor eterno continua presente em homens e mulheres de todo o planeta. Mas, ao contrário do que desejariam os que embarcam no sonho, a união perfeita, com freqüência, dá origem a todo tipo de processos de separação e divórcios, que lotam as varas cíveis e os consultórios de psicólogos e psiquiatras. Como explicar, então, o fato de que os casamentos continuam em alta, ao mesmo tempo em que as estatísticas apontam para um número cada vez maior de separações?
Uniões que duravam para sempre, na geração de nossos avôs, têm vida cada vez mais breve. Falta de intimidade, pouco ou nenhum diálogo, tédio e dificuldades do cotidiano, acabam com as expectativas da felicidade a dois e abrem espaço, muitas vezes, para a chegada da(o) amante. A verdade é que, no complexo universo da vida a dois, existem muito mais mistérios do que supõe nossa vã filosofia. Casais permanecem juntos por conveniências diversas, por medo de tomar uma atitude, ou mesmo por inércia.
Sem emoção e cumplicidade entre os parceiros, o casamento se transforma num contrato a ser cumprido, onde as partes já não se dão ao trabalho de perceber os sentimentos e desejos do outro. Faltam amor e sabedoria na receita desses casamentos, onde os ingredientes colocados na relação não satisfazem às expectativas da vida a dois.
A sociedade
suspeita dos que amam. Há certa postura de desprezo, como se os apaixonados
fossem ingênuos e irrelevantes, um tipo de impostores. Com o passar do tempo,
com a evolução das tecnologias, com o avanço das comunicações e banalização dos
sentimentos, as qualidades do amor, como ternura, compromisso, generosidade,
cuidado e confiança, foram relegadas a um patamar secundário. Como poucos
conseguem crescer no amor, prefere-se o desprezo aos que o conseguem.
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Divagando sobre o Amor (I)
As grandes paixões são eternas por suas
dificuldades, e quanto maiores os obstáculos, mais sólido seu resultado final.
Crises podem ser a melhor ferramenta para o conhecimento mútuo. Os casais
discutem para se amar. Quando há sinceridade as pessoas se mostram como são,
com seus defeitos e preferências. É preciso discutir com a pessoa amada,
objetar com o mesmo entusiasmo com que se apóia. Consome-se muito carvão para
fazer funcionar uma locomotiva, Sem fogo, não há energia suficiente para
arrastar os pesados vagões da existência.” (Alberto Goldin, Psicanalista,
colunista da Revista de Domingo, jornal O Globo).
“Talvez esteja na hora de pensarmos nos
modos e nas forças do amor. Para muitos, a idéia de que o amor é uma
possibilidade real traz esperanças a uma vida que, do contrário, seria vazia. O
respeito mútuo, a delicadeza, a bondade, e a confiança, podem, por acaso,
abalar um relacionamento? O amor tem o poder de unir sem tirar a dignidade de
outra pessoa, sem roubar seu próprio eu. O amor mantém a soberania e coloca
tudo acima de ideologias ou raças. É o amor que fornece energia necessária para
sobrepujar problemas e amainar desesperos”. (Leo Buscaglia, Escritor ítalo –
americano)
Por outro lado, os homens, dos mais
jovens aos mais vividos, têm demonstrado sentirem-se despreparados, em parte,
para acompanhar a nova mulher, que é uma realidade, e que está ao seu lado.
Denotam algo que soa como certo medo, surpresa, dificuldade em saber como
comportar-se perante ela. Ora se tornam mais agressivos, ora rotulam a mulher
sob um tom crítico acima da realidade, ora tentam desfrutá-la, ora agradá-la.
Mas, sem dúvida, encarando uma insegurança que prejudica o relacionamento.
Não assimilaram, alguns, talvez a
maioria, que a mulher de hoje tem mais iniciativa, é mais destemida e se joga
para a vida de forma mais franca. Por muito tempo o homem foi, socialmente, o
dono das decisões. Era ele que escolhia a quem, para que, onde e quando. E,
depois, quem impunha o que fazer e como fazer. Com a mudança dos costumes e com
os novos comportamentos assumidos pelo sexo oposto, viu-se perante uma realidade
na qual se sente um tanto perdido.
Em sua luta para reencontrar o rumo,
ora abate-se, ora se revolta, ora amedronta-se e perde iniciativa. Com isso
perdeu também um pouco do encanto que deveria provocar na mulher, que mesmo
mais ativa, continua a esperar dele gestos e atitudes que a levem a
interessar-se e sentir-se querida, protegida e enlevada. E isto levou ambos a
um jogo de cobranças e expectativas que só tem tido perdedores.
O convívio doméstico também mudou.
Hoje, na maioria das vezes, com ambos trabalhando, cuidar da casa e dos filhos
passou a representar mais um ponto sobre o qual se precisa dialogar. Comumente
vemos mulheres a demonstrar insatisfação com a “ausência” do companheiro.
Sentem-se sobrecarregadas com compras, definição de assuntos domésticos, cuidados
com afazeres relacionados à escola dos filhos e à própria arrumação da casa.
Por tradição, quase sempre herdada na educação recebida, os homens pouco fazem. Mas até isto está se modificando, devido às
novas situações geradas com as ocupações profissionais de homens e mulheres. É preciso, através de diálogo,
estabelecer uma negociação que permita chegar a novas atribuições de cada um,
com o que o peso se equilibre em proporções mais igualitárias, aliviando a
carga que sempre coube à mulher. Deixá-la a carregar este fardo, gera cansaço e
desgaste, depois refletidos na relação mais íntima, ocasião em que a disposição
não pode ser a mesma.
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