quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Filho (II)


“Sobre coisas que escreveram ou falaram pra mim...e algumas que falei ou escrevi pra vocês”

(Carta escrita por Ícaro, meu irmão, em 1975, que muito me ajudou a encarar os desafios vividos à ocasião, e que guardo cheio de carinho até hoje, por tudo de amor e de vida que ainda agora me passa. A ele, minhas escusas por fazer uso sem pedir-lhe permissão, e, ao mesmo tempo, uma homenagem, pelo irmão, pai e amigo que é e sempre foi, além de um cara que escreve com rara simplicidade para falar com poesia e sentimentos profundos.)

“Querido Victor,

Tu sabes que a vida vale a pena. Não é fácil, mas vale a pena. Pelo que já viveste, sabes te agüentar nas pernas. Já aprendeste que a vida ressurge, vence adversidades, se refaz da podridão ou do fogo.

Teus filhos são a vida. Verás neles tudo isso; eles vencerão teus medos, vivendo, à sua forma, as etapas por que já passaste ou passarás ainda.

Deves saber que não há um caminho único. Eu e tu, hoje, sabemos que chegamos a muitas coisas comuns, no entanto, tu o fizeste de forma bem diferente da minha. Eu precisei andar por aí, com cabelos longos e mochila, para aprender.

Assim, diferente vai ser o caminho de teus filhos, que poderá até incluir momentos de afastamento de vocês. Sei que não deve ser fácil pensar isso na pele. Mas é isso mesmo, no fim.

E será bom que lembres sempre disto, para deixares teus filhos fazerem, eles também, o seu caminho. Acho que o pai conseguiu. Ele e a mãe.

Mostraram-nos, na parte que lhes cabia mostrar, como é o mundo: ainda injusto. E mostraram-nos o rumo a seguir: a solidariedade, a preocupação com os outros.

Agora é nossa vez. Farei isso, quando tiver meu filho. Espero que o faças com os teus. Mostra-lhes esse mundo desigual, de fome, de exploração.

Se o conseguires, e lhes apontares a solidariedade, tu também terás conseguido, como o pai, como a mãe.

Até breve. Um grande abraço, e um grande beijo para vocês.

Ícaro

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