“Sobre coisas que escreveram ou
falaram pra mim...e algumas que falei ou escrevi pra vocês”
(Carta escrita por Ícaro, meu
irmão, em 1975, que muito me ajudou a encarar os desafios vividos à ocasião, e
que guardo cheio de carinho até hoje, por tudo de amor e de vida que ainda
agora me passa. A ele, minhas escusas por fazer uso sem pedir-lhe permissão, e,
ao mesmo tempo, uma homenagem, pelo irmão, pai e amigo que é e sempre foi, além
de um cara que escreve com rara simplicidade para falar com poesia e
sentimentos profundos.)
“Querido Victor,
Tu sabes que a vida vale a pena.
Não é fácil, mas vale a pena. Pelo que já viveste, sabes te agüentar nas
pernas. Já aprendeste que a vida ressurge, vence adversidades, se refaz da
podridão ou do fogo.
Teus filhos são a vida. Verás
neles tudo isso; eles vencerão teus medos, vivendo, à sua forma, as etapas por
que já passaste ou passarás ainda.
Deves saber que não há um caminho
único. Eu e tu, hoje, sabemos que chegamos a muitas coisas comuns, no entanto,
tu o fizeste de forma bem diferente da minha. Eu precisei andar por aí, com
cabelos longos e mochila, para aprender.
Assim, diferente vai ser o
caminho de teus filhos, que poderá até incluir momentos de afastamento de
vocês. Sei que não deve ser fácil pensar isso na pele. Mas é isso mesmo, no
fim.
E será bom que lembres sempre
disto, para deixares teus filhos fazerem, eles também, o seu caminho. Acho que
o pai conseguiu. Ele e a mãe.
Mostraram-nos, na parte que lhes
cabia mostrar, como é o mundo: ainda injusto. E mostraram-nos o rumo a seguir:
a solidariedade, a preocupação com os outros.
Agora é nossa vez. Farei isso,
quando tiver meu filho. Espero que o faças com os teus. Mostra-lhes esse mundo
desigual, de fome, de exploração.
Se o conseguires, e lhes
apontares a solidariedade, tu também terás conseguido, como o pai, como a mãe.
Até breve. Um grande abraço, e um
grande beijo para vocês.
Ícaro
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