Milhares de homens, das mais diversas nacionalidades, acorreram à Espanha, formando as Brigadas Internacionais, lutando para defender a democracia e o direito à liberdade, sendo José Gay da Cunha um de seus Comandantes. Mesmo depois de ferido em combate, parcialmente recuperado, voltou às batalhas, dirigindo seus companheiros até a data de retirada final.
Mas, poderia ser um retrato da barbárie que vemos agora a ocorrer na Palestina.
....Naquela
noite não era possível sair a andar pelas ruas de Barcelona, pois a capital da
Catalunha era castigada sistematicamente
com bombardeios em massa. O Jardim Zoológico fora quase todo destruído e
um enorme chimpanzé vagava pelas ruas desertas, assustando quem se atrevia a correr
por elas para abrigar-se dos bombardeios que se repetiam agora.
Nós
estávamos no subterrâneo da praça Catalunha, e as bombas caiam com ruído ensurdecedor.
Saímos quando a sirene tocou. Um grande edifício de oito andares, que até
poucas horas antes era usado como refúgio para as crianças bascas, estava completamente
destruído pelas bombas de ar líquido.
A
avenida Py y Margall era um mar de sangue, no qual algumas crianças de dois ou
três anos jaziam mortas e atoladas. Bombeiros e voluntários da Cruz Vermelha
tentavam salvar aquelas que ainda tinham um pouco de vida, em meio aos entulhos
e escombros. Nesse momento um destacamento de polícia estabelece cordões de
isolamento.
Motociclistas
da guarda de assalto abriam caminho para um “Lincoln” fechado. Do automóvel
desceram um General Francês, um Coronel Inglês, um Coronel Suiço, um Coronel
Finlandês e um Capitão Chileno. Formavam o Comitê de Controle da Liga das Nações,
que vinha verificar se a artilharia nacionalista estava bombardeando objetivos
militares.
Sob
os escombros, gemiam ainda dezenas de crianças, junto de nós, gritando para que
as salvassem. Em um mar de sangue, mais de duzentas crianças estavam mortas, amontoadas, formando algo que parecia
mais um lodaçal, de carne humana. E a Liga das nações mandava uma Comissão de
Países da “Não Intervenção”, para verificar se o refúgio das crianças era um
objetivo militar.
No
mundo inteiro, no dia seguinte, os jornais, principalmente os alemães e
italianos, comunicavam para a tranquilidade da civilização, que a heroica aviação
nacionalista havia bombardeado o porto e as fortificações de Barcelona. E
comunicavam que membros do Comitê de Controle estavam na Espanha, verificando “in
loco” que não haviam objetivos não militares atingidos.
Quatrocentas
crianças bascas refugiadas na Catalunha, separadas de suas mães, para que não
morressem debaixo da metralha dos civilizadores que haviam destruído a cidade
sagrada dos católicos de Euskadi, Guernica, haviam sido mortas por uma bomba de
ar líquido, fabricada na Itália.
Quatrocentas
almas inocentes e puras entraram no céu naquele dia. Naturalmente, os “salvadores”
do Cristianismo, no dia do Juízo Final, se apresentarão ao Pai Eterno e dirão:
-
Pai, lutando contra bárbaros que queriam dominar o mundo, nós evitamos que
essas pobres crianças se corrompessem, vivendo em meio a maus exemplos, e
saçvamos suas almas, mandando-as junto a Ti!
Tudo
na Espanha fazia com me lembrasse de minha infância. Nesse dia de assassinato
coletivo das crianças em Barcelona, Cristo me veio à mente: - Amai-vos uns aos
outros. Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o reino dos céus!
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