(escrito em 26/02/1974)
Não têm sido boas as noites, os sonhos têm sido estranhos,
os dias de muitas horas, as horas longas, imensas,
imensas as caminhadas, meus passos, quais seus tamanhos?
Se um encontro é uma vida, e a vida mil encontros,
aonde se vive outra vez, será que há desencontros?
Ou será que, continuando, cada um fica num talvez?
Se nos vimos de relance, ou se passamos por nós,
não é o que mais importa. É tanta gente passando, correndo,
sem se arriscar, se expondo, ou não se expondo? Não amando!
E o que é amor? Não sentindo. E porque sentir?
Fazendo de sua vida algo que não é viver!
Mentindo em todas as horas, sem pensar, porque mentir?
Duas pessoas são duas gentes, duas gentes, mundos à parte.
Dois mundos, duas realidades. Realidade? Fantasia?
Imaginação? Vivência? Do que somos feitos nós?
Para onde andam os outros? Para onde vamos após?
Nesses dias de pensar, em que a gente tudo sente,
pensei que amar, gostar... fosse algo que aparece,
que vem de dentro e de fora, sem percebermos porque.
Destas coisas que em repentes, sem falar eu ou você,
sem pensar sim ou talvez, sem lembrar nãos nem porém,
brota forte como nada, mas que de tudo contém!
Mas pra que a fantasia? Se não há imaginação.
O que é a realidade? Se a vivência não marcou?
Que valor possui o choro? Se o sorriso não calou.
O que se leva da vida? Se nela nuca se amou?
Não importam os sorrisos, nem o choro, nem o adeus,
não valeu cada minuto, se não houve vibração.
Não pesam os empecilhos, nem mesmo o que vai na mente,
amor é feito de entrega, total e intensamente!
Só vale dar de verdade, inteiro, sem restrições,
se fantasia e realidade, se fundem no inconsciente.
Assim foi que percebi, que o certo não é amanhã,
pois bem se vivendo o hoje, seus minutos não tem fim,
suas horas não terminam, o tempo perde o valor!
Se alongando, divagando, levado ao som do amor,
embalado pela brisa, que carrega seu calor.
Se um minuto é uma vida, e uma vida o que ficou,
de nada vale sentir, pensar no que se falou,
não vale correr no tempo, não vale querer seguir,
não vale premeditar, no amor não há adivinhar!
Só tem valor os momentos, em sua sequência sutil,
cada gesto, cada afago, cada abraço, cada aceno,
cada encontro e despedida, se tudo foi natural.
Se tudo foi só sentido, entrega quase infantil!
E talvez esteja nisso a razão de se viver,
No motivo de entregar-se, sem pensar se vai chorar,
E esperar por outro encontro, para continuar a amar!
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