Caio
e eu fomos também companheiros de pescaria, mas como uma forma de estarmos a
curtir nosso gosto pela serenidade que ela passa. Assim foi que, algumas vezes,
sentados lado a lado, em Valença, passamos horas agradáveis, consumidos pela
atenção exigida. E, sei lá, me parece que, de alguma forma, além de servir-lhe
de companhia, também eu lhe dava um pouco desta sensação de maioridade.
Eu,
um velho moço, ele um moço velho, a seu modo. Mais calado do que falante, mais
olhares e expressões do que palavras. Mas, com muito carinho e emoção em tudo
que se envolvia. Notei sempre o quanto o alegrava com meus convites, nem sempre
nos dias mais propícios, pois voltamos, às vezes, sem peixe. Mas a calma de
olhar a água, a obrigatória concentração, deixando os pensamentos voarem,
enquanto se observa possíveis resultados da arte da paciência, são coisas de
gente grande.
Mas,
te digo companheiro, que por aqui nem os rios, nem os mares estão muito pra
peixe. Há uma certa antropofagia reinante. Os peixes grandes se alimentam da
fome dos pequenos. Há muita voracidade no que se vê por aqui. Jogam-nos a isca
para que entremos na armadilha. A vida não tem sido fácil para nós, pescadores
de sonhos e de momentos de paz. E, o pior de tudo, é que, por mais vividos que
sejamos, acabamos fisgados.
Então,
não te permitas chatear com os fatos. Assim sempre foi e será a vida de
pescador, muito longa... ou muito breve. Não comandamos estas marés que dirigem
nossa existência. Somos apenas pequenos pontos a vagar no horizonte do grande
mar que vem a ser a vida. Ora aparecemos sobre a onda, ora não somos vistos,
quando entre duas delas. Ora retornamos á praia, ora não.
Acredito
que te saíste melhor do que nós! Não te será necessário enfrentar tempestades,
grandes ondas, fortes ventos, redemoinhos. Estás saindo para pescar em águas de
calmaria, nas quais não existem ódios, não corre a inveja nas veias, não se
disputa o lugar. Estás hoje caminhando para novas praias, para nós
desconhecidas, mas que sabemos trazerem o acalanto de sua suavidade, onde
poderás contemplar outras paisagens, certamente mais belas.
Segue
teu caminho tranquilo, como sempre me passaste a impressão de seres. Vai á
frente, levando tua valentia, tua coragem e teu amor que nos deixas como
exemplo a todos. Se, dentro do barco da vida, temos que remar forte, agora
estás em um veleiro que segue os rumos da brisa que o embala. Segue tranquilo. Medo,
temos nós, que, a cada dia, precisamos adivinhar de que lado virá o vento. E
teus sentimentos, que permanecem conosco, serão a música que nos ajudará a
cicatrizar as saudades!
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