terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Caio, meu amigo pescador


 
Hoje um amigo me deixou. Um companheiro meigo e tranquilo. Caio, meu amigo pescador. Por acaso (penso se há o acaso), há dois dias atrás, comentava em meu blog sobre quando eu era menino ainda, e pescava junto com meu pai para buscar alimento para a família. Também falando do prazer que isto me causava e do quanto me senti “homem” muito cedo, pelo orgulho de estar junto dele.

Caio e eu fomos também companheiros de pescaria, mas como uma forma de estarmos a curtir nosso gosto pela serenidade que ela passa. Assim foi que, algumas vezes, sentados lado a lado, em Valença, passamos horas agradáveis, consumidos pela atenção exigida. E, sei lá, me parece que, de alguma forma, além de servir-lhe de companhia, também eu lhe dava um pouco desta sensação de maioridade.

Eu, um velho moço, ele um moço velho, a seu modo. Mais calado do que falante, mais olhares e expressões do que palavras. Mas, com muito carinho e emoção em tudo que se envolvia. Notei sempre o quanto o alegrava com meus convites, nem sempre nos dias mais propícios, pois voltamos, às vezes, sem peixe. Mas a calma de olhar a água, a obrigatória concentração, deixando os pensamentos voarem, enquanto se observa possíveis resultados da arte da paciência, são coisas de gente grande.

Mas, te digo companheiro, que por aqui nem os rios, nem os mares estão muito pra peixe. Há uma certa antropofagia reinante. Os peixes grandes se alimentam da fome dos pequenos. Há muita voracidade no que se vê por aqui. Jogam-nos a isca para que entremos na armadilha. A vida não tem sido fácil para nós, pescadores de sonhos e de momentos de paz. E, o pior de tudo, é que, por mais vividos que sejamos, acabamos fisgados.

Então, não te permitas chatear com os fatos. Assim sempre foi e será a vida de pescador, muito longa... ou muito breve. Não comandamos estas marés que dirigem nossa existência. Somos apenas pequenos pontos a vagar no horizonte do grande mar que vem a ser a vida. Ora aparecemos sobre a onda, ora não somos vistos, quando entre duas delas. Ora retornamos á praia, ora não.

Acredito que te saíste melhor do que nós! Não te será necessário enfrentar tempestades, grandes ondas, fortes ventos, redemoinhos. Estás saindo para pescar em águas de calmaria, nas quais não existem ódios, não corre a inveja nas veias, não se disputa o lugar. Estás hoje caminhando para novas praias, para nós desconhecidas, mas que sabemos trazerem o acalanto de sua suavidade, onde poderás contemplar outras paisagens, certamente mais belas.

Segue teu caminho tranquilo, como sempre me passaste a impressão de seres. Vai á frente, levando tua valentia, tua coragem e teu amor que nos deixas como exemplo a todos. Se, dentro do barco da vida, temos que remar forte, agora estás em um veleiro que segue os rumos da brisa que o embala. Segue tranquilo. Medo, temos nós, que, a cada dia, precisamos adivinhar de que lado virá o vento. E teus sentimentos, que permanecem conosco, serão a música que nos ajudará a cicatrizar as saudades!

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