sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Teus Olhos


(2002)

 
Olhos vivos, muitas cores, descobrindo campos, flores,

olhos pequenos, audazes, olhos curiosos, vorazes,

olhos feitos de esperança, os olhos de uma criança!

 
Olhos espertos, atentos, de quem vê, encara ventos,

olhos tristes, contém mágoa, pelo que a vida reserva.

Os olhos da juventude, portando vida, inquietude!

 
Olhos fortes, penetrantes, percebendo descaminhos,

em que nós, homens errantes, procuramos nossos ninhos.

Que choram, que entristecem, de jovens que amadurecem!

 
Olhos meigos que acalentam, que reprendem, nos violentam,

nos acompanham no escuro, encaram a vida, tudo.

Não pedem, dão sempre mais, os olhos de nossos pais!

 
Olhos fortes, companheiros, voltados na direção,

que caminhamos, fagueiros, precisando de uma mão.

Velhos olhos, tempo antigo, os olhos de um amigo!

 
Olhos muitos, de mil tipos, não me furtaram da dor.

me ampararam, ajudaram, trouxeram paz sem rancor,

enxugaram meu chorar, ensinaram-me a lutar!

 
Então adulto, a vagar, caminhando a procurar,

encontrei estes dois olhos, penetrantes, sol, calor,

teus olhos, que sem falar, me descobriram o amor!

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Mensagem de Fim de Ano (ou do Fim do Mundo)


Mensagem de Fim de Ano (quase de fim de Mundo!!!)

(4 Fatos que Abalaram o Mundo / Retrospectiva dos Principais (futuros) Acontecimentos de 2013)

 

- Estudiosos da Igreja Católica, revisando manuscritos e registros de milhares de anos, chegam á conclusão que “Os quatro Cavaleiros do Apocalipse” se tratava de uma forma figurada, um mero simbolismo, para fazer referência a um dos flagelos que viria a assombrar o mundo moderno: na verdade, faziam referência aos 4 dedos do Lula!

 

- Maluff faleceu em casa. Suas, quase, últimas palavras teriam sido dirigidas à sua amada, Sylvia: - Vamos fazer uma última sacanagem? ao que ela, prontamente, respondera: - Sim, vamos! Aonde é que eu assino? e logo após ter assinado os papéis, ainda tivera tempo de ouvi-lo dizer: - Sylvia!!! Você assinou como Sylvia!!!! depois do que, ele teria emitido seus últimos suspiros.

Bem, em seu enterro não havia parentes! Todos tinham corrido aos paraísos! Se ela se demorasse um pouquinho, não teria chegado a tempo. Mas ele, Paulo, chegou às portas do céu, aonde foi atendido por São Pedro. – Seja bem vindo meu filho! Quem é você? – Como assim quem sou eu? O Maluff!!! E começaram a trocar alguma conversa. – Bem, falou São Pedro, tenho aqui algumas anotações que podem criar problemas para que libere sua entrada Sr. Maluff....

- Pedrinho, respondeu Maluff, assim mesmo, vamos negociar. Você sabe o quanto seu colega, São Paulo, me ajudou! Verdade que era uma troca. Eu construía, ele crescia e dividíamos parte dos resultados! Podemos pensar em algo similar. Lá, para construir um túnel de oito quilômetros, nos demos muito bem... Diga-me, quantos quilômetros deve haver entre Céu e Purgatório? Vamos fazer os cálculos... é bem simples... como dividir os pães... só que a gente fica com a metade maior. Não entendeu Pedrinho?

São Pedro sentia-se meio chocado. Nunca fora tratado com tamanha intimidade. Não sabia ele que o menor caminho entre corruptor e corrompido é justamente a intimidade estabelecida. – Olha bem!, Maluff voltava a falar. Há quantos anos você está aqui, um Santo como você!!! Trabalhando de Porteiro! Meu Deus! Estou tentando lhe mostrar que quero ajuda-lo a sair dessa. Junto com São Paulo, fiz coisas que até Deus duvida! Quantos brasileirinhos conseguiram começar como Porteiros e hoje são latifundiários! Sim, verdade que eram porteiros no Senado, na Câmara de Deputados, Assembléias Legislativas, Órgãos Públicos que geriam grandes verbas... mas, todos “abriam a porta”. Depois era comigo mesmo!

Não há ainda previsão sobre quando a nova obra ficará pronta...

 


- Em 2013, por uma destas coisas que nem o destino explica, como a surpreendente passagem não prevista de um cometa, morrem no mesmo dia, Martha Suplicy e Miguel Falabella. A Avenida Paulista é tomada de assalto por fãs e admiradores de ambos, em passeata de protesto! Ninguém consegue saber ao lado de que caixão deve chorar! Confusão generalizada!

 

- No Oriente Médio, em processo demorado, e em local guardado em sigilo absoluto de Estado, são julgados um Árabe, um Palestino e um Judeu, todos acusados de terem vendido a mãe! O advogado do Palestino o defende com brilhantismo: - Ninguém pode discutir a lisura e honradez de meu cliente. Vendeu sua mãe e mandou entregar a Mãe do Judeu como prova de que somos povos irmãos! Mais que uma atitude digna, uma tentativa de acabar com este revanchismo histórico! Sua terra é nossa terra, portanto, sua Mãe é minha Mãe! Já o advogado do Judeu, ergue a voz em protesto: - Foi uma traição grotesca! Tudo feito na calada da noite... sem o conhecimento de meu pobre cliente! Ele havia feito o negócio, e, imediatamente após receber o dinheiro, viajou para Nova York, para fazer uma aplicação na Bolsa! Com certeza, ao voltar, iria entregar a própria Mãe! E agora? O que podemos fazer? A Bolsa não tem apresentado grandes resultados... ele poderá demorar um pouco mais do que o previsto! O terceiro, que defende o Árabe, inicia sua defesa: - Meu cliente pertence a um povo que sempre honrou suas raízes! Como condená-lo por resguardar carne de sua carne, ou vice-versa? Como querer julgá-lo, comparando-o a seres que se digladiam sem razões... e que são cada vez menos... matam-se diariamente... se este julgamento demora um pouco mais, teríamos dificuldades para reunir testemunhas! Além disto, o Árabe cumpriu sua palavra! Fez sua entrega! Mandou a Sogra! A quem amava mais do à própria Mãe que o gerou! Querem uma maior demonstração de amor do que esta?

 


- Portugal, depois de décadas trabalhando em segredo, vai lançar ao espaço sua primeira astronave. Ainda persistem algumas dúvidas sobre a que altura voará, ou se conseguirá entrar em órbita. A nave é preta, mas todas as precauções foram tomadas. Carrega 100 toneladas de bacalhau, 10.000 litros do bom vinho do Porto, 300 caixas de pastéis de Santa Clara, Barriga de Freira e Docinho do Céu, além de cinco conjuntos musicais, para se revezarem, cantando fados. O aparente alto número de tripulantes se deve ao fato do rodízio estabelecido: após o almoço, enquanto a metade faz sua sesta, os outros assumem os comandos. Para terem certeza de que não sofrerão ataques de Torres de Controle desavisadas, sobre as laterais, cobrindo todos seus 480 metros de comprimento, com confortáveis acomodações para os 180 valentes tripulantes, imprimiram em letras garrafais: “ATENÇÃO: NÃO SOMOS URUBÚS!”

 

 

sábado, 22 de dezembro de 2012

"Caleidoscópio" em conta-gotas


CALEIDOSCÓPIO


Romance/Literatura Brasileira

Cunha/Victor Aronovich, 1945

Direitos Autorais Reservados, Rio de Janeiro / RJ 2002

Registro No. 138.960 Livro 222 Folha 495 Biblioteca Nacional

                                                                    -o-o-o-o-o-

Este livro é uma homenagem a uma geração de homens que fez a história de seu tempo, marcando sua trilha pela dignidade de propósitos, pela autenticidade de seus ideais, pela solidariedade universal que carregavam.

Formaram, certamente, uma raça que não teve nem terá substitutos, tal a grandeza de seu espírito, a dimensão de seus sonhos, e o inseparável destemor que lhes foi companheiro.

A nós caberá sempre lembrá-los, com o orgulho de podermos, quiçá, tentar segui-los, abraçando tambéos, abraçando tambde podermos, quiçro.pnhosela solidariedade                                               m causas maiores, na expectativa serena de esperar que a história nos reserve um julgamento justo.

De um deles, meu pai, tomei a liberdade de roubar cenas, me apropriando de fatia maior do que aquela que sempre tive o direito de carregar, qual seja seu nome.

A ele, José Gay da Cunha, lutador incansável; como portador da bandeira da liberdade, com muito amor, tenho a honra de ofertar minha principal homenagem.

Por tudo que nos disseste, por tudo que nos mostraste, por tudo que, mesmo calado, nos transmitiste em teu exemplo maior, por tudo que sempre foste, és e serás.

Obrigado Zé!
 
                                                                        -o-o-o-o-o-
Este livro é dedicado a minha mãe, Eugenia, valente e audaz, companheira na vida, na música, e nos sonhos que sempre traduziu, nas palavras e nos teclados; a meus irmãos, cuja solidariedade e carinho são marcas indeléveis que carregamos como herança de nossos pais; a meus filhos, amigos de ontem, hoje e amanhã, seus companheiros, companheiras e filhos, meus netos; aos amigos, poucos, que continuaram a caminhar comigo; e ao meu amor, Aninha, meu refúgio e verdade maior; e, por fim, àqueles que, mesmo os que não conheço, sei que lutam pelos direitos dos homens.
                                                        -o-o-o-o-o-
(1954)O cavalo trotava ágil entre duas fileiras de seibos, árvore que Ávila trouxera para enfeitar a paisagem por sugestão de Carla, e que o tempo mostrou estava ela cheia de razão ao elogiá-la. Davam flores lindas, vermelho forte, contendo uma nesga de amarelo. Não cresciam muito, abrindo-se mais para os lados com galhos predominantemente leves, que, com o verde muito vivo de suas folhagens, formavam um quadro de admirável beleza.
Puxou os arreios obrigando o cavalo a parar. Apeou. Queria sentar por alguns instantes em um pedaço muito especial do caminho. Ali, uns metros à direita, feito em troncos, com rústico acabamento, estava o banco aonde Carla descansava e o observava enquanto ele plantava as mudas de seibo. Alisou o pescoço do cavalo, em gesto típico de quem tem intimidade com o animal, batendo-lhe de leve, com carinho mesmo, quase à altura do peito.
Prendeu os arreios, agora pendentes, a um galho baixo da árvore mais próxima. Tirou o chapéu, afagando os próprios cabelos já parcialmente grisalhos e, com as mãos na cintura, punhos cerrados, olhou em volta e respirou fundo. Soltou o ar bem lentamente.
Com o chapéu bateu nos troncos do banco como a limpá-lo. Então, sentou-se. Pernas afastadas, corpo dobrado para a frente, com os cotovelos apoiados  nas coxas, olhar distante.
O ar era do mais puro. A brisa suave trazia o cheiro de natureza que tanto lhe agradava e as imagens à sua frente o ajudavam a pensar. Olhou lenta e descompromissadamente as árvores em volta.
Lembrava de cada uma ao plantá-las e de sua preocupação com o frio, as geadas e os ventos fortes do inverno. De que pudessem não desenvolver-se adequadamente ou sucumbissem mesmo.
Mas a natureza era maior e mais sábia que nosso conhecimento. Ali estavam todas, fortes e serenas, ofertando-lhe a beleza que já antes tantas vezes admirara. E se movimentavam numa dança sensual e livre, como a agradecer as mãos que as ajudaram a penetrar a terra fértil. Inevitável pensar em Carla.
(1930) Era Presidente do Estado do Rio Grande do Sul o Dr. Getúlio Vargas. Na turma que entrava na Faculdade de Direito naquele ano, estava um dos jovens filhos de amigo do velho Ávila, Daniel Krieger, e junto com ele, José Gay da Cunha, sobrinho do General Flores da Cunha, Telmo Jobim, Mário Diffini, Luis Flores da Cunha, este filho do General, ,e entre muitos outros, Luisa Barreto Leite, única mulher do grupo.
O Brasil servia de palco a profunda luta política. Nesta, Júlio Prestes e Getúlio Vargas se defrontavam. Um verdadeiro confronto aberto entre Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Nordeste, contra São Paulo e seus aliados. Na verdade, estava em questão a continuação do domínio econômico inglês, que ainda predominava, contra a sutil penetração norte-americana, buscando novas zonas de influência. A crise mundial de l929 era sentida por toda a América do Sul.
A Aliança Liberal aglutinava líderes que, até há pouco, vinham disputando o poder no estado. Entre os mais ferrenhos defensores da luta armada, para que Getúlio fosse levado ao poder, estava João Neves da Fontoura, do Partido Republicano, herdeiro político e dileto de Borges de Medeiros, que quase se eternizara no governo do estado, e junto a ele, Batista Luzardo, deputado e guerreiro do Partido Libertador, inimigo frontal do mesmo Borges de Medeiros, excepcional orador, dono de todas as características populistas, tão utilizadas naquela época conturbada. A Aliança Liberal era um grupamento político de pouca ou nenhuma consistência, mas que reunira em seu bojo praticamente todos os inimigos do então Presidente Washington Luiz, inimigos também da continuidade da predominância de São Paulo no poder.
Por baixo do pano, sem preocupação com defesa das liberdades ou do voto livre, sem visar somente a transferência do poder para outro eixo que não São Paulo, um trabalho discreto, mas nítido àqueles que tivessem mais tino era percebido: organizações industriais e bancarias dos Estados Unidos davam apoio, inclusive financeiro, aos opositores do Governo.
(1935) O Partido Comunista, em constante esforço para firmar-se, ajuda a fundar a Aliança Nacional Libertadora. Em contrapartida, o Governo Federal apresenta proposta, aprovada pelo Congresso, que cria a Lei de Segurança Nacional, liberando plenos poderes ao executivo para reprimir qualquer atividade que seja considerada subversiva. Forçada por acontecimentos na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, nos quais fora morto um operário, ocasionando greves e passeatas que param a cidade, a polícia fecha a sede da Ação Integralista Brasileira, na verdade disfarce político de um grande grupo de radicais de direita.
Legendário e reconhecido como um líder sábio e honesto nas hostes da Escola Militar, por conta de sua fantástica marcha através do Brasil há anos atrás, Luis Carlos Prestes, clandestino desde que rompeu com Vargas, e que chefiara a coluna que protestara por todo o país, vencendo as forças legalistas de então, era o inspirador, não só no Rio de Janeiro, mas em vários outros estados do país, de movimento que planejava derrubar Getúlio Vargas, considerando-o traidor do ideal da luta de l930, agindo como ditador, sem respeitar a Constituição.
Reunindo civis e militares, o primeiro levante ocorre em Natal, aonde o Governador é deposto e os rebeldes assumem o poder Um dia depois, em Recife, os rebelados esboçam seus primeiros passos, mas são imediatamente dominados pelas tropas do Governo. Sem apoio na região, em três dias, o Governo do Rio Grande do Norte volta às mãos da legalidade, com a derrota fragorosa e muitas prisões dos revolucionários.
No Rio de Janeiro, na noite de 26 para 27 de novembro, algumas unidades militares se sublevam, sendo rapidamente sufocadas pelas forças do governo. O que resta é muita destruição, mortes, e a certeza de que Vargas tivera sempre o controle da situação e das informações sobre o que ocorria no seio dos conspiradores. O comunismo assustara. Agora, com longos juros do tempo, pagaria caro.
 
(1939) A Alemanha invadira a Polônia, demonstração de que o caminho que Hitler traçara era mais longo e audacioso do que ao princípio se imaginasse. Começava oficialmente a Segunda Guerra Mundial, que se estenderia pelo ano de l940, com a Alemanha conquistando cada vez mais terreno e já ocupando quase toda a Europa.
No Brasil Getúlio criara o salário mínimo e, no ano seguinte, a Justiça do Trabalho, sendo eleito para ocupar uma cadeira da Academia Brasileira de Letras. Ironia maior àqueles que, por momentos, para traduzir o que pensavam, estiveram sujeitos à censura por ele implantada.
A guerra mundial continuava, mostrando mais um traço da loucura desenfreada de seu líder maior, Hitler. A matança sistemática e devastadora dos povos judeus. A União Soviética é atacada pela Alemanha pouco depois de Hungria, Romênia e Bulgária terem aderido às potências do nazi-fascismo.
Stalin, líder maior da Rússia, pego de surpresa com a traição de Hitler, manda seus homens e tropas recuarem, não sem antes destruírem tudo que houver pela frente. Assim os invasores alemães não encontrarão nada que lhes sirva para qualquer fim ao tomarem conta dos territórios. Ao final de l94l, os japoneses bombardeiam a base norte-americana de Pearl Harbor, no Pacífico, ocasionando a entrada dos Estados Unidos na guerra. Apesar de distante dos principais palcos de batalha, o Brasil sofre pressões, principalmente dos Estados Unidos, e rompe relações com Alemanha e Itália. As tropas alemãs ingressam na África, sendo enfrentadas pelos ingleses, e o Japão fracassa na Austrália e no Havaí.
Na costa brasileira um submarino alemão torpedeia o navio Cabedelo, causando a morte de vários tripulantes. Getúlio Vargas enfrenta séria crise em seu governo, quando vários homens de sua confiança pedem demissão, entre eles Filinto Muller. Embalado por manifestações populares o Brasil clama por uma definição de seu governo quanto a tomar partido na guerra que se dissemina por todos os continentes. Em 3l de agosto, sem dispor mais de justificativas que lhe permitam evitar a decisão e sempre levando em conta a posição de Inglaterra e Estados Unidos, Getúlio Vargas declara o país em guerra contra Alemanha, Itália e Japão.
 
(Anos 70) Mário Ávila bebe seu chá no Iate Clube, ao ar livre, olhando para a baía desenhada à sua frente. Tem como companheiro de mesa o General Telles, ali conhecido, homem afável, culto, poderoso, até bem pouco tempo atuante no governo dos militares. Conversam de forma amena. O general sabe que Mário Ávila se trata de um gaúcho radicado no Rio de Janeiro, advogado de profissão, fazendeiro rico que mudou para sua cidade.
Fez parte, até recentemente, de um seleto grupo de militares que distribuiu o poder e a responsabilidade de mantê-lo. Sabem, os que o rodeiam. que atuou como um dos cérebros do movimento, permanecendo depois em funções de comando, impondo por onde passou uma linha de ação dura e de decisões drásticas. Sua passagem para a reserva apanhou todos os observadores de surpresa.
-Não há com que se surpreender Mário. Meu tempo chegou. Creio que fiz o que me foi possível. Agora é com eles que ficaram.
É um homem de mediana estatura, forte no porte avantajado, expressão séria, olhar decidido, palavras firmes. Um tanto calvo, cabelos sempre bem alinhados, pouco se lhe encontra o sorriso, como se pecado fosse permiti-lo. Anda e senta, como agora, com postura de quem se impõe aonde quer que esteja. Ao falar, o faz com os olhos nos olhos de seu interlocutor. Mas deixa transparecer uma tristeza que até pouco tempo atrás não fazia parte de seu estilo. Notando isso, Mário crê poder perguntar:
-Telles, nos conhecemos não faz tanto tempo, mas o suficiente para sabê-lo firme nos seus princípios. Somos ambos idosos e vividos. O que é que se passou com você? Não acredito que seu recato o obrigue a silenciar da verdade para um companheiro como eu. O vejo triste, sem o mesmo brilho que trazia nos olhos.
Estão ambos na faixa dos setenta e poucos anos. Cada um a seu modo desgastado pela vida que viveu. Respeitam-se, independentemente dos caminhos trilhados, não tão familiares a um e outro naquilo que aparentam saber. Apesar dessa distância do viver e do convívio recente, sentem-se a vontade ao falarem.
O destemor da experiência faz com que os homens se aproximem, mesmo quando não compartilharam as mesmas estradas. Existe alguma coisa que vem com a idade. Um quê de descompromisso e destemor. Um sentimento que tem a ver com solidariedade talvez.
-Você tem razão Mário. Não poderia dizer hoje que sou o mesmo de sempre. Meu filho mais velho, também militar, capitão do exército, morreu no Araguaia. Disso você sabe. Todos souberam. Para um pai, seja ele militar ou civil, é muito duro ver um filho morrer assim.
Mário o escuta e o observa.
-Eu que já comandei tantos homens, que já olhei a morte de perto, que já desdenhei os sentimentos dos outros, agora sei o que sente um pai, não importa de que lado esteja seu filho. Ajudei a estruturar esse poder que aí está. Comecei muito cedo, menino ainda, na escola militar. Como tantos outros fui adestrado para a luta. A política encarregou-se de nos dividir em facções. Alguns se encantaram com a esquerda. Outros, como eu, continuaram direitistas. Sempre fui um típico militar. Aceitando as ordens, não me importando em questioná-las. E assim continuei a sê-lo, uma vez no comando. Mas o poder é mais do que comandar. O poder possui tentáculos que não percebemos enquanto se formam a nossa volta. Vivi estes anos todos ocupado em reprimir nossa oposição. Fui um soldado em minha luta pelo que sempre julguei meu dever. Por muitas vezes me mantive ausente dos meus, mulher e filhos, sem dar-lhes a atenção que me cobravam ou escutar-lhes as opiniões. Não sei hoje se acertei.
-O que é que você quer dizer? Que terá falhado em parte do que se propôs?
-Não Mário. Para mim patriotismo era lutar com a seriedade que encarei nossa luta. O comunismo era um fantasma que nos assustava a todos. Mas em tudo em que me envolvi tive coerência com o que pensava ser o melhor. Ocorre que fomos traídos. Temos sido traídos pelas armadilhas do poder. Estas representam um inimigo maior e mais poderoso do que aqueles que nos combatem. A cada dia temos perdido aliados, afastados da luta pelos nossos ideais em busca do poder pelo poder e pelo dinheiro que corre paralelo às negociações. É mais fácil tomar o governo do que governar um país como o nosso. Fui descobrindo que nossas riquezas motivavam mais que a defesa de nosso território.
-Não sei se o entendo bem Telles.
E permanece fitando o companheiro.
-Perdi um filho lutando contra guerrilheiros. Está morto. O outro, que nunca lutou, considero-o perdido também. Vive metido em negociatas, lucrando, muitas vezes com a tranqüilidade de ter meu nome a protegê-lo. Disso me envergonho. Não foi a isso que me propus. Nunca conheci alguém que abandonasse a guerrilha ou dela saísse para atuar em trampolinagens. Certamente existirão os corruptos da esquerda. Não acredito que seja uma doença que atinja somente a nós. Sem dúvida, aonde estejam no poder, sofrerão os mesmos males com que nos defrontamos. Não é a luta que abranda nosso entusiasmo. O que nos alija é o nojo que sentimos pela falta de caráter. Os militares brasileiros viveram por muitos anos carregando a sina de radicais, mas tiveram sempre o respeito por sua integridade moral. Hoje já não podemos decantar esse orgulho.
-Aonde você quer chegar? fala Mário.
-Igualamo-nos naquilo que combatemos em tantos governos. Ao analisar um projeto você não tem segurança quanto a não estar proporcionando a abertura de uma nova frente para os usurpadores. Bem sei que não só militares ou ex-militares se beneficiam. Mas fui atingido muito de perto. Em minha própria família a corrupção aportou. Não há questionamentos morais quando os envolvidos percebem suas oportunidades. Estão saqueando nosso país com a velocidade de vândalos. Com isso eu não podia conviver.


 

 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Ciúmes?


 
(1972)

Ainda lembro o instante em que te vi vez primeira.

Hoje padeço inquietante, ao lembrar de ti, faceira!

Dominante eu me julguei, subjugada te pensei,

insinuante eu me tornei, e, dominada, te amei!


Muitos dias a vivermos, alegrias a sentirmos,

foste o jogo que eu jogava, qual flor que admirava!

Depois o tempo, convívio, contratempos, choro, alívio,

nossa vida era comum, nos víamos tal qualquer um!

 
Hoje longe, mesmo juntos, sinto saudades do início.

És ausente, amuada, e felicidade é só um vício!

Passamos outros na rua, te olham: ciúmes de ti.

Imagino que te sintas linda, como um dia te vi!

 
Bem gostaria de poder o passado reviver.

Talvez parado, te olhar, falando: - Quero te amar!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A (des)Graça do Mundo Virtual


Como muitos outros, inicialmente para sobreviver no mundo do trabalho e, logo depois, nas relações interpessoais, fui obrigado a me modernizar. Precisei aprender a usar telefone celular. Ainda lembro que eu era um ignorante no assunto, e via meus filhos com os seus, discando, falando, fazendo cálculos, digitando “torpedos”, mas não tinha a mínima intenção de aderir.

Em meu escritório, uma rede interna, cheia de ramais, me permitia falar com quem eu trabalhava e com quem era de fora. E os P(A)BX’s custavam fortunas, para comprar e para instalar depois. Tinham um probleminha: quando faltava energia ficávamos incomunicáveis, ou, se mais modernos, falava-se ´pelo número principal.

Mas tudo tem um limite. E meu dia chegou! Aniversário, filhos reunidos em volta, todos sorridentes, e minha forte impressão de que não ganharia nada. Ninguém trazia nas mãos um pacote que pudesse sugerir meias, gravatas, camisas, sapatos, bermudas. O silêncio e os sorrisos de todos me criavam uma sensação de surpresa e certa indignação.

Até que um deles se adiantou e falou: - Pai, a partir de hoje, você será um homem mais moderno! e, tirou do bolso algo do tamanho de uma carteira de cigarro. Como fumante que era e ainda sou, olhei desconfiado. – Deve ser uma “pegadinha”, pensei. Os presentes virão depois! Mas nenhum outro se mexeu. Todos me observavam como no aguardo de algum desfecho obrigatório.

Resignado, abri o pequeno embrulho. Era um celular! Devem ter percebido minha expressão de espanto. Aquilo era uma agressão disfarçada, uma imposição cheia de desfaçatez! Como tinham chegado àquele ponto? Meus filhos queridos, a quem dei sempre tanto carinho, a quem contara histórias e cantara músicas, do meu tempo, é verdade, para que dormissem.

-Fique tranquilo pai! Nós vamos ajudar a treiná-lo! É simples demais! ... cada um tinha algo pronto para me animar. Mas, com certeza, minhas feições denunciavam toda minha contrariedade. Estavam a me enfiar goela abaixo a aceitação da evolução. Assim, sem anestesia! E os dias seguintes foram amargos. Em algumas semanas eu conseguia apertar a tecla que me ensinaram para atender chamadas. Mas, para fazer, eu, uma ligação, ai a história já era muito complicada.

Bem recordo de um dia em que, no centro da cidade, mais ou menos às quatro da tarde o celular toca. Pego-o, e penso que atendi. Mas ninguém falava. Nada do outro lado da linha. Silêncio total. Toca de novo, e de novo, e de novo... e meu constrangimento e preocupação só aumentavam. Na tela, eu via um desenho que parecia um envelope. Nada mais que isso.

Ao chegar em casa, preocupado, falei a Aninha: - Olha aqui pra mim! Tem alguma coisa que eu não sei o que é, mas esta p.... não completa as chamadas hoje! Ela, pacientemente, mas com uma agilidade que me impressionava, mexeu em vários botões, e me disse: - Nada demais! Lhe passei vários recados! Aqui está; - Por favor, lembre de comprar o saponáceo! – Maridinho, você volta tarde? – Amor, te amo! 

Eu estava indignado! Como ela, minha mulher, conspirava assim contra minha pouca capacidade de entender aquele minúsculo monstro com que haviam me presenteado? Era uma bofetada! Eu, sempre o conselheiro, eu, que ajudava todos a entenderem dos problemas da vida, eu que os orientava, inclusive a ela ás vezes, agora era vítima de um complô! Então, humildemente, perguntei: - Como é que eu faço?

A emenda foi pior do que o soneto! Ela me olhou, assim como quem olha um inseto, e falou: - Simples! Vê só! e saiu a apertar botões, ora pressionando, ora teclando, ora fazendo movimentos que eu não acompanhava nem que tivesse uma filmadora na mente. – Pronto! É assim! Entendeu? e eu, sentindo-me o pior dos idiotas, um imbecil completo, tive que responder: - Não! Não entendi nada!

Bem, era apenas o início de meu calvário. Mas, nada que em mais duas ou três semanas, meio escondido, e perguntando-lhe tudo de novo, não conseguisse decifrar. Considerava-me agora um novo gênio da informática! Sabia discar, receber chamadas e até ler “torpedos”. Mas, revoltado, lembrava que, em criança, torpedo era um míssil, que lançado de submarinos, afundava navios durante a segunda guerra mundial.

Assim foi minha iniciação. Contudo, ainda que em meu escritório já existisse uma rede de computadores, em minha mesa de trabalho eu tinha duas máquinas de escrever. Uma pequena, portátil, e uma de “carro” grande. Apelidaram-me de “pré-histórico”. Era o preço de meu apego ao que considerava meus bons costumes. Afinal, desde os quatorze anos aprendera a datilografar. E o fazia com grande destreza!

Começar no computador foi um desastre ainda maior. Ganhei um Note Book de pequenas dimensões. Estava escrevendo um livro. À noite, entrava madrugada adentro, alinhavando anotações, rebuscando minhas memórias, mas conseguindo tocar. Afinal, usar o teclado era como que usar minha Olivetti Lettera 44. Até que numa fatídica noite, lá pela uma da manhã, começa tudo a piscar. A tela ficava preta, voltavam as letras, ficava preta de novo.

Michelle, uma de minhas filhas estava dormindo, e era quem mostrava muita habilidade quando a via “manobrar” aquela máquina infernal. Gritei: - Michelle!!! Rápido! Venha cá! ela não demorou mais que alguns segundos. – Que foi pai? – Ora Michelle! Estou apavorado! Vou perder duzentas páginas! Tá tudo apagando! eu não sabia o que mais dizer. Ela, com toda calma, pegou um fio que pendia solto do computador, ligou na tomada e falou: - Pronto pai. Tem que ligar para carregar a bateria. E eu descobri que computador tinha que ligar na rede elétrica!

De certa forma, o episódio também me alegrou. “Ele” agora dependia de mim! Se não ligasse seu fio na tomada, ele pifava! Ah! Ah! Ah! Podia dar-lhe o troco! Mas, com muita luta e grandes esforços, consegui, não sem antes ter que entender que, a cada duas ou três páginas, havia um novo botão, dos tantos que ele tinha, que eu devia acionar para gravar o que já havia escrito. Não fazendo isso, corria o risco de perder, de repente, meu trabalho de parte da noite. Ainda havia outros botões (cacete, eram muitos!!!!!!!!!) que podiam centralizar, e até corrigir as minhas palavras!

Imaginem vocês! Tantos anos lendo, escrevendo, dando aulas, e uma merdinha de quinze por vinte centímetros, tinha a audácia de me informar que devia corrigir uma palavra. Fiz então, por minha conta, uma descoberta fantástica, que muito me regozijou! Ele não era tão inteligente assim! Como fora projetado por americanos, raciocinava como eles. E americano é burro! Ele fala “eu ficar aqui”, “o moça é bonita”, coisas deste tipo. Em algumas ocasiões travamos brigas intensas. Ele me corrigia, e eu devolvia as palavras a meu modo.

Desta forma passaram-se alguns anos, anos de solidão, o que até parece título de filme antigo. Anos de concentração e experiências. Estas, por vezes desastrosas! Volta e meia, achando que estava a fazer uma coisa que queria, distraidamente, apertei um botão indevido. Pronto! Sumia tudo de minha frente! E meu amor próprio já não me permitia “apelar para os universitários”. Tentava ler manuais, mas o resultado, quase sempre, era a repetição do caos já instalado em minha mente.

Finalmente, nos dias de hoje, chegamos, digamos assim, a um convívio suportável. Toleramo-nos, e nos agredimos ou provocamos pouco. Mas, dizem os sábios do oriente que uma desgraça nunca vem só. Surgiram as redes sociais. Comecei a escutar falar muito no que me parecia ser um novo derivado de leite, um tal de Orkut. Mas, nas prateleiras de supermercado nunca encontrei esta marca. Mães mais humildes, quase sem formação escolar, muito bem poderiam perguntar aos filhos: - Tomou seu Orkut hoje? Mais uma vez, sem nada perguntar (sou um aprendiz consistente e obstinado, além de muito observador), descobri que se tratava de outra coisa.

Na verdade, pouco ou nada me afetou. Vivia em paz, enviando meus e-mails, pessoais ou de trabalho, e redigindo-os a meu modo, esclarecendo tudo, sem usar mais que duas ou três abreviaturas, tipo “obs” e “att”, ou “Ass”. Isto eu já fazia na máquina de escrever! Um belo dia, que não registrei a data, começam as pressões para que eu tenha meu “feice”. Agora era a grande moda! Todos o tinham. Não precisavam mais dos telefones. Falavam-se por computador, assim, direto, instantâneo!

Novas agressões surgiram. E eu me mantinha indiferente às pressões. Até que, uma nova e grave traição ocorreu! Ao chegar em casa, antes do jantar, Aninha, sorriso nos lábios, me abraça e fala seu veredito: - Fiz um “feice” em seu nome! Quase congelei. E agora? Não havia como escapar. Minha esposa, minha doce amada fazia parte da conspiração que, pelo visto, não teria fim nunca! Puxou-me até o computador, mostrou-me uma “página”, assim disse ela que se falava, onde estava meu nome, fotos nossas, alguns dados pessoais, e uma boa porção de “conversas”.

Então descobri que o “feice” era Face! Face Book! Novas tragédias pintavam em meu horizonte. Foi uma tsunami devastadora! Até porque, a meu ver, os que “falavam”, ou não sabiam escrever, ou tinham preguiça de fazê-lo por inteiro. Encarei o desafio e fui em frente. Ela mesma já selecionara uns “amigos”, basicamente, irmãos, primos, filhos e um ou outro a mais. As coisas não pareciam tão difíceis. Até o dia em que me aparece uma foto pequena, o nome da pessoa, e algo mais ou menos assim: - Nahum! Vc tb tm 1 pq! Bjk!

Era o fim! Haviam códigos secretos! Devia existir um Bin Laden na “rede”. Para mim, Nahum era nome de turco, de sírio-libanês, ou de alguém com origem em um destes países do oriente médio. Mas não! Por preguiça de escrever “não”, a pessoa escrevia da forma que escutava: nahum! E, segundo Aninha, o recado queria dizer: - Não! Você também tem um porque! Beijoca! Para mim era demais. Estavam a assassinar o português! Não, não matavam o português dono da fruteira, mas o idioma. Para mim já era D+!

Comecei a rir. Ou melhor a kkkkkkkkkkkkkkkk. Ou a ahau,ahua,ahua. Ou a rsrsrsrsrsrs.

Começava a ser um delirante de carteirinha! O pior é que um cara contava uma desgraça, e um seu amigo clicava em “curtir”! Estaria, este “amigo”, a mostrar sua alegria com o fato do outro ter se ferrado? Ou estaria chorando junto? Dúvidas que levarei para o túmulo! Porque, em outras ocasiões, alguém escrevia um poema, “colava” algo que nunca havia escrito, e o mesmo amigo ia lá e...”curtir”. Aos poucos eu avançava em minha loucura, que desconfio, nasceu comigo.

O tempo é solução para tudo! Fala-se que um chinês disse isso quando olhava a sogra agonizante e não queria que a mulher percebesse suas reais intenções. Para mim, uma verdade relativa. Até porque a minha está viva até hoje, e telefona para a filha e pergunta: - “Nosso” marido está em casa? e quando isto ocorre, já sei que alguma pia entupiu, um cano vazou, caiu uma prateleira ou é preciso trocar uma lâmpada. Eu sou o “marido” da família, só porque possuo a mania miserável de consertar as coisas mais simples. E, isto é incrível, parece que atualmente, a maioria dos homens prefere pagar para que outro marido resolva alguns problemas de suas mulheres.

Há poucos dias soube de uma história que envolve uma amiga, cujo nome não revelo, devido minha natural discrição. Ela foi a uma boate, encontrou um cara, não sei bem se falaram “boa noite” ou “oi” um pra o outro. O que sei é que terminaram, duas horas depois em um motel. Ela não lembra aonde era, pois estava “alta”. Dia seguinte, radiante, envia, pelo Face, um recado ao mancebo: - Nossa noite foi fantástica! Vamos repetir? e, em resposta, recebeu um “curti”. A mesma amiga, “In Box”, mandou um recado para outra amiga: - Fulana... não sabes que merda! O cara tinha pau pequeno! E, na mesma hora, “curtiu” o “curtir” que havia recebido do infeliz, cujo nome só sabia que, no Face, era Zeus!

Olha... está difícil. Já não sei se vou em frente com minha ideia original, de escrever este texto e publicá-lo, ou se o “deleto”. Viu só? Já falo como computador! Peguei a doença! Ninguém mais escreve mais que duas ou três letras, ou duas ou três palavras! E eu, aqui, feito um idiota, comentando minhas mazelas com o “mundo virtual”. É, pode parecer incrível, mas tem até gente que já goza no computador! Falta-me descobrir quais são os botões. Nestas coisas ainda sou á moda antiga. O botão comigo é outro!

Se gostou, “curta”, se quer ajudar a defender minha causa, “compartilhe”! Mas não me abandone sem respostas. Ainda que seja para colocar ao lado de sua pequena foto e de seu nome: - PQP!!!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Divagando


(escrito em 26/02/1974)

Não têm sido boas as noites, os sonhos têm sido estranhos,

os dias de muitas horas, as horas longas, imensas,

imensas as caminhadas, meus passos, quais seus tamanhos?

Se um encontro é uma vida, e a vida mil encontros,

aonde se vive outra vez, será que há desencontros?

Ou será que, continuando, cada um fica num talvez?

 

Se nos vimos de relance, ou se passamos por nós,

não é o que mais importa. É tanta gente passando, correndo,

sem se arriscar, se expondo, ou não se expondo? Não amando!

E o que é amor? Não sentindo. E porque sentir?

Fazendo de sua vida algo que não é viver!

Mentindo em todas as horas, sem pensar, porque mentir?

 

Duas pessoas são duas gentes, duas gentes, mundos à parte.

Dois mundos, duas realidades. Realidade? Fantasia?

Imaginação? Vivência? Do que somos feitos nós?

Para onde andam os outros? Para onde vamos após?

 

Nesses dias de pensar, em que a gente tudo sente,

pensei que amar, gostar... fosse algo que aparece,

que vem de dentro e de fora, sem percebermos porque.

Destas coisas que em repentes, sem falar eu ou você,

sem pensar sim ou talvez, sem lembrar nãos nem porém,

brota forte como nada, mas que de tudo contém!

 

Mas pra que a fantasia? Se não há imaginação.

O que é a realidade? Se a vivência não marcou?

Que valor possui o choro? Se o sorriso não calou.

O que se leva da vida?  Se nela nuca se amou?

 

Não importam os sorrisos, nem o choro, nem o adeus,

não valeu cada minuto, se não houve vibração.

Não pesam os empecilhos, nem mesmo o que vai na mente,

amor é feito de entrega, total e intensamente!

Só vale dar de verdade, inteiro, sem restrições,

se fantasia e realidade, se fundem no inconsciente.

 

Assim foi que percebi, que o certo não é amanhã,

pois bem se vivendo o hoje, seus minutos não tem fim,

suas horas não terminam, o tempo perde o valor!

Se alongando, divagando, levado ao som do amor,

embalado pela brisa, que carrega seu calor.

 

Se um minuto é uma vida, e uma vida o que ficou,

de nada vale sentir, pensar no que se falou,

não vale correr no tempo, não vale querer seguir,

não vale premeditar, no amor não há adivinhar!

 

Só tem valor os momentos, em sua sequência sutil,

cada gesto, cada afago, cada abraço, cada aceno,

cada encontro e despedida, se tudo foi natural.

Se tudo foi só sentido, entrega quase infantil!

 

E talvez esteja nisso a razão de se viver,

No motivo de entregar-se, sem pensar se vai chorar,

E esperar por outro encontro, para continuar a amar!

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Filho (II)


“Sobre coisas que escreveram ou falaram pra mim...e algumas que falei ou escrevi pra vocês”

(Carta escrita por Ícaro, meu irmão, em 1975, que muito me ajudou a encarar os desafios vividos à ocasião, e que guardo cheio de carinho até hoje, por tudo de amor e de vida que ainda agora me passa. A ele, minhas escusas por fazer uso sem pedir-lhe permissão, e, ao mesmo tempo, uma homenagem, pelo irmão, pai e amigo que é e sempre foi, além de um cara que escreve com rara simplicidade para falar com poesia e sentimentos profundos.)

“Querido Victor,

Tu sabes que a vida vale a pena. Não é fácil, mas vale a pena. Pelo que já viveste, sabes te agüentar nas pernas. Já aprendeste que a vida ressurge, vence adversidades, se refaz da podridão ou do fogo.

Teus filhos são a vida. Verás neles tudo isso; eles vencerão teus medos, vivendo, à sua forma, as etapas por que já passaste ou passarás ainda.

Deves saber que não há um caminho único. Eu e tu, hoje, sabemos que chegamos a muitas coisas comuns, no entanto, tu o fizeste de forma bem diferente da minha. Eu precisei andar por aí, com cabelos longos e mochila, para aprender.

Assim, diferente vai ser o caminho de teus filhos, que poderá até incluir momentos de afastamento de vocês. Sei que não deve ser fácil pensar isso na pele. Mas é isso mesmo, no fim.

E será bom que lembres sempre disto, para deixares teus filhos fazerem, eles também, o seu caminho. Acho que o pai conseguiu. Ele e a mãe.

Mostraram-nos, na parte que lhes cabia mostrar, como é o mundo: ainda injusto. E mostraram-nos o rumo a seguir: a solidariedade, a preocupação com os outros.

Agora é nossa vez. Farei isso, quando tiver meu filho. Espero que o faças com os teus. Mostra-lhes esse mundo desigual, de fome, de exploração.

Se o conseguires, e lhes apontares a solidariedade, tu também terás conseguido, como o pai, como a mãe.

Até breve. Um grande abraço, e um grande beijo para vocês.

Ícaro

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Caio, meu amigo pescador


 
Hoje um amigo me deixou. Um companheiro meigo e tranquilo. Caio, meu amigo pescador. Por acaso (penso se há o acaso), há dois dias atrás, comentava em meu blog sobre quando eu era menino ainda, e pescava junto com meu pai para buscar alimento para a família. Também falando do prazer que isto me causava e do quanto me senti “homem” muito cedo, pelo orgulho de estar junto dele.

Caio e eu fomos também companheiros de pescaria, mas como uma forma de estarmos a curtir nosso gosto pela serenidade que ela passa. Assim foi que, algumas vezes, sentados lado a lado, em Valença, passamos horas agradáveis, consumidos pela atenção exigida. E, sei lá, me parece que, de alguma forma, além de servir-lhe de companhia, também eu lhe dava um pouco desta sensação de maioridade.

Eu, um velho moço, ele um moço velho, a seu modo. Mais calado do que falante, mais olhares e expressões do que palavras. Mas, com muito carinho e emoção em tudo que se envolvia. Notei sempre o quanto o alegrava com meus convites, nem sempre nos dias mais propícios, pois voltamos, às vezes, sem peixe. Mas a calma de olhar a água, a obrigatória concentração, deixando os pensamentos voarem, enquanto se observa possíveis resultados da arte da paciência, são coisas de gente grande.

Mas, te digo companheiro, que por aqui nem os rios, nem os mares estão muito pra peixe. Há uma certa antropofagia reinante. Os peixes grandes se alimentam da fome dos pequenos. Há muita voracidade no que se vê por aqui. Jogam-nos a isca para que entremos na armadilha. A vida não tem sido fácil para nós, pescadores de sonhos e de momentos de paz. E, o pior de tudo, é que, por mais vividos que sejamos, acabamos fisgados.

Então, não te permitas chatear com os fatos. Assim sempre foi e será a vida de pescador, muito longa... ou muito breve. Não comandamos estas marés que dirigem nossa existência. Somos apenas pequenos pontos a vagar no horizonte do grande mar que vem a ser a vida. Ora aparecemos sobre a onda, ora não somos vistos, quando entre duas delas. Ora retornamos á praia, ora não.

Acredito que te saíste melhor do que nós! Não te será necessário enfrentar tempestades, grandes ondas, fortes ventos, redemoinhos. Estás saindo para pescar em águas de calmaria, nas quais não existem ódios, não corre a inveja nas veias, não se disputa o lugar. Estás hoje caminhando para novas praias, para nós desconhecidas, mas que sabemos trazerem o acalanto de sua suavidade, onde poderás contemplar outras paisagens, certamente mais belas.

Segue teu caminho tranquilo, como sempre me passaste a impressão de seres. Vai á frente, levando tua valentia, tua coragem e teu amor que nos deixas como exemplo a todos. Se, dentro do barco da vida, temos que remar forte, agora estás em um veleiro que segue os rumos da brisa que o embala. Segue tranquilo. Medo, temos nós, que, a cada dia, precisamos adivinhar de que lado virá o vento. E teus sentimentos, que permanecem conosco, serão a música que nos ajudará a cicatrizar as saudades!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Atitudes das mulheres que podem agradar ao homem



Você se lembra de, ao sair, ou chegar, dar um beijo em seu companheiro? Não importa se vai sair de casa para demorar muito ou pouco, ou se chegou do trabalho, ou de uma saída para fazer compras. Beije-o. Mas um beijo, não uma bitoca! O gesto vale mais que mil palavras. E você estará a mostrar-lhe que também gosta de ser beijada.
Você viajou. Passou dois dias ou uma semana visitando sua mãe que mora longe. Não importa quanto tempo ficou ausente. Lembrou-se dele? Trouxe-lhe algo? Mesmo de pouco valor, mas uma forma de demonstrar que pensou nele. Mas, que não seja uma ferramenta. Que seja algo pessoal, que ele use! E vai indicar-lhe que você também gosta de ser presenteada.

Você acordou antes que ele no domingo. Sabemos que, na maioria das vezes, é você quem faz o café da manhã. Mas o fez pensando em agradá-lo? Vai sugerir, com sua atitude, que ele pode, às vezes, fazer a mesma coisa.

Ele se esquece do aniversário de casamento de vocês? O que faz você para lembrá-lo? E do aniversário de namoro? Não lembra mais do dia em que começaram? Bem, é muito chato, mas não vale um tumulto. O que foi que você tentou fazer, de forma discreta, para lembrá-lo antes que a data chegasse? Ou, sem nada fazer, você ficou quieta sabendo que ele esqueceria “de novo”? Poderia tê-lo convidado a tomar um vinho, ou a jantar fora, e demonstrar que a data é importante para você. Tanto que você faz questão de festejá-la. E teria evitado tristeza, lamentações e, quem sabe, uma briga em um dia que deveria ser especial.

Você ganhou flores de seu marido. Se acompanhadas de um cartão com palavras de amor, melhor ainda. E você demonstrou toda a alegria que lhe tomou conta? Foi efusiva para agradecer-lhe? É importante que você “dê o troco” adequado. Caso contrário, sua indiferença e pouco caso irão levá-lo a achar que não valeu a pena.

Aceite que ele ande com o braço sobre seu ombro quando esteja a caminhar com você. Isto permite que esteja a “ver” qualquer coisa que possa ameaçá-la, já que está “atrás” de você. Demonstra carinho e atenção e prova que ele a quer proteger. Então, não lhe reclame, nem entenda que ele a quer comandar. É típico do “macho” no reino animal ter o instinto de proteção à fêmea.

Quando fizerem compras, deixe que ele empurre o carrinho. Ou sugira que o faça, caso ele não se lembre. E, ao encerrar as compras, que ele carregue os pacotes mais pesados, seja para colocá-los ou retirá-los do carro, seja para descarregá-los e levá-los para casa. Da mesma forma, quando houver em casa um trabalho que exija força, ou que possa machucar as mãos, peça-lhe ajuda. Ele verá que lhe agrada ser ajudada e entenderá que está cumprindo seu papel.

Ao entrar em casa, no carro, em um restaurante ou cinema, permita que ele a faça passar á sua frente. É cortês, inspira educação e proteção, além de comprovar que ele é um cavalheiro. E, quando for subir no automóvel, se ele abrir a porta para você, não diga que não é necessário. Não queira ser uma “mulher independente”, o que, na verdade não tem nada a ver com aceitar uma atitude de delicadeza.

Há quanto tempo você não sugere saírem para dançar um pouco? Para algum lugar romântico, que permita “namorar” um pouco? E, se o convidou, mostrou-se romântica? Ou ousada, “oferecida” mais do que normal? Beijou-o, abraçou-o, apalpou-o? Homens também gostam disso, ainda que nem sempre o falem. Às vezes o desejam, mas sentem receio de serem mal interpretados ao demonstrarem.

E, ao voltarem para casa, sugeriu massagear-lhe os pés, ou o corpo todo? Há algo melhor e mais provocante do que massagear o corpo de seu marido? Há recantos preferenciais, onde você pode deter-se mais um pouco, provocando-o. E, até por “comodidade”, valerá a pena tirar a roupa (já que ele estará mesmo sem a sua).

Você o presenteou com uma cueca! Que tipo escolheu? O mesmo que daria de presente a um irmão ou a seu pai? Ao mesmo tempo em que enfatizam a masculinidade, roupas íntimas revelam em certa medida o lado erótico da personalidade. Um homem pode tentar esconder sua sexualidade ao vestir-se para trabalhar, sem se pavonear ou transmitir sensualidade. Mas, ao vestir-se para você, certamente haverá diferenças. Entrará em jogo sua imaginação e o que você lhe dá representa, em certa proporção, como deseja tê-lo a seu lado. Então, em um presente, pode estar um “recado” do que você espera dele, ou de como deseja vê-lo ao se arrumar para você.

Vocês estão sós em casa. Podem desfrutar de um ambiente mais tranquilo e de mais liberdade. Quando foi a última vez que você tentou sugerir-lhe “namorar” na sala, na cozinha, no banho, em qualquer lugar da casa que não seja seu quarto de dormir? Mostre-lhe que possui imaginação e criatividade, ou induza-o a tê-las e libere-se para o momento.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Um pouco de minha vida

Escrito, provavelmente, ao início dos anos 70

(Um pouco de minha vida do amor, do companheirismo, da admiração e do carinho que sempre tive e ainda tenho por meu pai)

A manhã irá começar. Nesgas de luz indicam que o sol surgirá forte, de verão. As águas do Guaíba batem às margens em movimentos suaves.

Em casa, o homem levanta e chama o filho mais velho. Este tem só oito anos. Magricela, mas cheio de energia, sempre disposto.

Passa pelos quartos dos outros. Ao todo são seis. Dormem ainda, cansados do brincar de ontem, do correr pelo quintal da casa.

Bebe um café rápido. Um pedaço de pão arrancado com a mão. O casaco de lã apesar do verão, e a a boina que passou a fazer parte de sua figura.

O menino já revisou o barco, preparou os remos, apanhou o balde e a “fieira”, necessária para peixes maiores.

O barco é leve, fabricado por eles, na garagem de casa. Enquanto faz isso, pensa em, como estará o espinhel.

- Como é “secretário”? Tudo pronto?

É o pai que pergunta, cigarro na boca. E o menino se envaidece com o apelido que o pai o trata. Faz com que se sinta importante.

Caminham, puxando o carrinho do barco em direção à praia. E, entre uma tragada e outra, o homem vai pensando em sua vida...

... revoluções no Brasil...exílio ...o engajamento na guerra da Espanha...o gelo dos Pirineus...fermentos em batalha...hospital... retorno às lutas ... volta às Américas... Uruguai novamente...

Novos amigos... novos lugares... uma jovem pianista apresentada por companheiros...o amor... os filhos... muitos filhos...

Chegaram à praia. O barco é posto na água. E começam a remar em direção ao espinhel.

Param em uma das extremidades. A corda vai sendo içada e, lentamente, os peixes aparecem, ainda lutando para libertar-se.

- Cuidado pai! é o alerta do filho, mostrando um peixe que quase escapa.

Em sua mente, o homem sente retornarem cenas vividas...

- Cuidado Comandante! lembranças que voltam outra vez.

Os homens se olham em meio ao pó que levanta. Mais uma bomba, desta vez um morteiro, que caiu por perto. Não conseguiram se proteger suficientemente, e foram atingidos. Alguns estão mortos, totalmente mutilados. Outros movem-se lentamente.

O Comandante desta vez foi um deles. Jogou-se ao chão, escutando o assovio do ataque, mas a explosão veio muito rápida, atingindo sua perna direita.

Tenta erguer-se. Cai de novo. Sente uma dor aguda que ainda não sabe explicar de onde vem. Caido, passa a mão pela perna e percebe um grande ferimento por trás da coxa direita.

- Juan...Juan...

O companheiro o acode, ajudando-o a levantar-se com dificuldade. É outro home forte, espanhol, revolucionário.

Esta é uma de suas últimas batalhas. Passará um tempo longe do front, sarando as feridas, carregando a sequela do estilhaço de morteiro que se alojou junto ao ciático. Por alguns anos, até a cirurgia, pouco conseguirá dobrar a perna.

A cena se desvanece... e está de volta ao Guaíba, ao barco, aos peixes...

- Vamos pai?

- Sim filho, vamos!

Remam até a margem. Foi um dia de boa pescaria. Tiram o barco da água e iniciam a caminhada de volta.

Agora os outros filhos já estão de pé. Tomaram café e brincam em mais um dia que começa.

A esposa está na cozinha.

Foi mais uma pescaria que ficou para trás. Mais um pedaço de lembranças que surgiu. A vida, intensamente vivida, cujo filme, volta e meia, insiste em retornar.

...revoluções ... tiros ... ferimentos ...companheiros.. traições ...alegrias ... crianças com fome ou morrendo ... a neve, o frio ... o mundo que sofre por não se entender...

Hoje sua luta é outra. Seus inimigos são outros. Suas armas são outras. Hoje luta para fazer dos filhos que crescem gente de verdade.

Gente que pense e saiba o que quer. Gente que lute também por um mundo melhor. Gente que, de alguma forma, tenha bagagem para, mais adiante, lutar por sua revolução.

A revolução de cada um de nós. A revolução do homem em busca de sua liberdade, de seus direitos, de sua dignidade, de uma vida com menos desigualdades.