Vivemos tempos modernos. O mundo passa
por mudanças instantâneas, o comportamento de todos é globalmente divulgado, os
costumes se alteraram. Não devemos, necessariamente, nos sujeitar à hipocrisia
que já reinou por muitos anos e por muitas gerações. É preciso que tomemos
iniciativas, que tentemos entender os anseios uns dos outros, que provoquemos
nossa tendência à acomodação. Que dialoguemos a respeito de necessidades, de
desejos, de fantasias e de sonhos, por mais que soem como surreais.
Homens, dos
mais jovens aos mais vividos, têm demonstrado sentirem-se despreparados, em
parte, para acompanhar esta nova mulher, que é uma realidade, e que está ao seu
lado. Denotam algo que soa como certo medo, surpresa, dificuldade em saber como
comportar-se perante ela. Ora se tornam mais agressivos, ora rotulam a mulher
sob um tom crítico acima da realidade, ora tentam desfrutá-la, ora agradá-la.
Mas, sem dúvida, encarando uma insegurança que prejudica o relacionamento.
Em sua luta para reencontrar o rumo,
ora abate-se, ora se revolta, ora amedronta-se e perde iniciativa. Com isso
perdeu também um pouco do encanto que deveria provocar na mulher, que mesmo
mais ativa, continua a esperar dele gestos e atitudes que a levem a
interessar-se e sentir-se querida, protegida e enlevada. E isto levou ambos a
um jogo de cobranças e expectativas que só tem tido perdedores.
A vida em comum, quando, na mesma casa,
residir o casal com a mãe da mulher, predominantemente, é menos conflitante,
pois há algum mistério, que leva a mãe a posicionar-se, muitas vezes, a favor
do genro, o que não impede que se estabeleça também um conflito, desta vez
entre mãe e filha. E ainda temos casos em que a companhia é de um irmão de um
dos dois cônjuges, pouco pesando se é muito jovem ou adulto, mas porque não se
trata de filho de um dos dois que forma o casal.
Lidar com sua
presença, a partir de certa idade, em que se tornam também “adultos”, é uma
arte que exige disposição, compreensão, carinho e muita paciência. Mas é
possível. Apenas, há que ter-se muito amor um pelo outro, entendendo que somos -
homens e mulheres - um conjunto, de parentes, filhos, irmãos e amigos. E,
quando vamos viver juntos, nos dispomos a conviver com este conjunto que,
normalmente, existe.
Trabalho,
escola, deveres, lides domésticas, mães ou pais, filhos (os meus, os seus, os nossos),
irmãos, primos, amigos, são parte de nossas vidas, uns mais, outros menos
importantes, visto que o principal é conviver de forma harmoniosa, já que amar
começa por cada um, em si mesmo. Buscar soluções para as dificuldades geradas
em nosso dia-a-dia é função do casal, amparada que deve estar no bem querer de
ambos, na vontade maior de ver o outro feliz. E talvez seja este o maior
segredo: viver junto significa estar feliz porque se vê o outro feliz!
O tempero do amor, do convívio
contínuo, certamente está mais na capacidade de inventar, de testar-se, e ao
outro com quem vivemos, de redimensionar limites, de romper “compromissos” com
impressões alheias, de fazer valer nossa intimidade, seja onde for que
estejamos. Amar é estabelecer vínculos de cumplicidade acima de tudo. É
entregar-se a descobertas, de si mesmo e do outro, juntos. Mas, tornar isto
realidade, exige disposição e mente fértil, além de uma contínua vontade de
proporcionar e desfrutar de felicidade e prazer.
Sem emoção e cumplicidade entre os parceiros, o casamento se transforma
num contrato a ser cumprido, onde as partes já não se dão ao trabalho de
perceber os sentimentos e desejos do outro. Faltam amor e sabedoria na receita
desses casamentos, onde os ingredientes colocados na relação não satisfazem às
expectativas da vida a dois. Este quadro de frustrações, ressentimentos e falta
de comunicação, é o cenário perfeito para o surgimento de problemas. E, se não
ocorrer de pelo menos um dos lados tomar a iniciativa de reacender a chama,
tudo só tende a piorar.
Ninguém pode negar que chegamos a um ponto crítico. Entender que o mundo
pode melhorar com o amor, virou zombaria. Temos que voltar a desenvolver
respeito pela vida. Aumenta o número de fatalistas que acreditam termos
atingido algo sem volta. Algo de óbvio deve ser admitido: os métodos
convencionais para promover a paz e o bem-estar estão superados. Ao observarmos
a vida de hoje, encontramos ódio, violência, preconceito e desprezo pela vida e
por sentimentos mais nobres.
É preciso desafiar os preconceitos, que classificam o amor como uma
tolice romântica, idealista, não intelectual. Precisamos buscar e aceitar o
amor, como uma força universal, algo que unifica e promove o bem, acessível a
todos que, de fato, o desejarem. Se conseguirmos perceber que o amor tem o
poder de afastar mesquinharias que separam as pessoas, que é possível
descobrir, através dele, que todos têm um coração, teremos dado o primeiro
passo para a busca da felicidade e do entendimento.
Amar é viver de forma abrangente. Amar convida a compartilhar
experiências, muito mais do que a impor concepções. Amar é desafiante, e exige
ser maior. Todos buscam algo que dê maior significado às suas existências. É
preciso sair de dentro de nós mesmos, intercalando nossos anseios com os
anseios dos demais. Só assim poderemos nos tornar melhores amantes e seres
humanos mais completos. O amor é fonte de energia, que não diminui com o uso.
Ao contrário, ajuda a gerar mudanças e entusiasma quem dele desfruta.
Amar é servir de espelho. Buscar refletir traços da personalidade do
outro, com uma perspectiva diferente quando preciso. E é nas dificuldades que
se revelam os verdadeiros amigos, quando se constata o que, de fato, cada um
está disposto a dar de si, para manter o amor e a amizade vivos. Quem ama passa
forças positivas, que não cessam nem com a morte. Estas forças continuam a
viver conosco, em nosso coração e em nosso pensamento, acompanhando nossos
atos, idéias e decisões.
O verdadeiro amigo, o verdadeiro amor, não é substituído. Outros poderão
surgir, e viveremos de novo. Mas não tomarão seu lugar, pois fazem parte de
nossas mais recônditas riquezas. Em função deles passamos a ter mais o que
oferecer, junto a nossos demais relacionamentos atuais e futuros. Mas não nos
deixam, não esmaecem com o passar do tempo. Para isso, necessário viver com
intensidade, entregando-se e envolvendo-se, sem perder de vista que o amor e a
amizade, quando verdadeiros, respeitam e valorizam a dignidade de cada um.